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21 de novembro de 2024

O Homem Por Trás do Cometa Hartley 2

Nos últimos 40 anos, Malcolm Hartley, tem feito todo o trabalho possível no telescópio UK Schmidt para o Siding Spring Observatory em New South Wales na Austrália. O astrônomo que nasceu na Inglaterra, foi educado na Escócia tem ocupado seu tempo no telescópio de 1.2 metros como observador, processador, copiador, especialista em super sensibilização e controlador de qualidade.

Na tarde do dia 16 de Março de 1986, o trabalho que Hartley fez por último foi o de controle de qualidade. Neste papel ele foi o primeiro a ver cada uma das chapas fotográficas de vidro de 36 por 36 centímetros após elas terem ficado expostas para registrar o céu noturno. Buscando por imperfeições em uma das iluminações de 60 minutos de noites anteriores, Hartley notou algo que supostamente não poderia estar ali.

“Voltando então, as observações vinham como imagens negativas, ou seja, as estrelas e outros objetos do céu aparecem em preto e o todo o plano de fundo aparece com uma cor clara”, disse Hartley. “Eu então notei uma névoa ao redor de um rastro. Rastros indicam que algo está viajando rápido através do céu, mas os asteróides não apresentam essa névoa ao seu redor. Então pensei que poderia ser um cometa”.

Hartley conferiu novamente esse sinal algumas noites depois e então submeteu seu achado para o Minor Planet Center em Cambridge, Mass. Poucos dias depois disso, o centro enviou uma curta circular informando ao mundo astronômico a descoberta do cometa Hartley 2.

“Eu fiquei muito feliz por alguns dias”, disse Hartley. “Todo o cientista quer descobrir algo e é um sentimento fascinante. Eu tive até mesmo uma menção no jornal local, o Coonabarabran Times”.

Numa escala mundial ter seu nome dado a um cometa é algo único. Mas isso não é muito na pequena cidade de Coonabarabran, que vem de um nome aborígene que significa pessoa indagadora. Essa é a cidade mais próxima do Warrumbungle Range e da Montanha Siding Spring e do Observatório Anglo-Australiano.

“Existem alguns outros colegas no Siding Spring que já descobriram cometas”, disse Hartley. “Robert MacNaught já descobriu mais de 50, e eu nunca pensei que seria mencionado um dia na minha vida no Times. é uma comunidade rural e como existem muitos astrônomos amadores na área descobrindo cometas a escala aqui é diferente”.

Hartley foi o descobridor ou o co-descobridor de 10 cometas com o telescópio UK Schmidt e com cada um deles, ele sentiu muita felicidade. Mas em 2002, o Observatório Anglo-Australiano reviu suas prioridades para que o Schmidt fizesse trabalhos de espectroscopia de múltiplos objetos, essencialmente um trabalho que paralisou qualquer trabalho astrofotográfico com o telescópio e assim finalizando qualquer possibilidade para que o Hartley descobrisse outros cometas. Hartley que nunca trabalhou diretamente com a tarefa de descobrir cometas, continuou a trabalhar no telescópio com a nova tarefa de pesquisar galáxias. Os cometas tornaram-se basicamente uma nota de rodapé na sua carreira. Isso até que ele fosse contatado por uma revista científica.

“No começo do ano passado, um repórter entrou em contato comigo por e-mail dizendo que a missão EPOXI tinha mudado seu alvo e agora estava indo ao encontro do Hartley 2”, disse o senhor Hartley. “Eu nunca tinha ouvido nada sobre o Hartley 2 se um dos dois cometas levados em consideração”.

O Hartley 2 estava definitivamente na curta lista feita pela NASA de potenciais alvos para ser encontrado por uma sonda. O único problema com o Hartley 2 era que teriam mais de dois anos de espaço ultra profundo para ser cruzado até encontrá-lo. Então o outro único candidato dessa lista restrita de tamanho similar era o cometa Boethin. Isso até o momento que ele desapareceu. Os cientistas desenvolveram teorias para explicar o seu desaparecimento, dizendo que o cometa Boethin se partiu em pedaços que não podiam ser identificados. Essa situação restringiu mais ainda a lista da NASA, deixando a agência espacial com apenas um nome, o cometa Hartley 2.

Então Malcolm Hartley fez o que qualquer um faria se tivesse o cometa que leva seu nome sido selecionado como alvo para um sobrevôo de uma sonda da NASA após uma prévia seleção, desapareceu. Ele agradeceu ao repórter, desligou seu computador e começou a imaginar como seu cometa poderia parecer. Hartley tinha certeza que seria descoberto e retirado do conforto da sua casa. Então a NASA o chamou.

“Eu nunca estive envolvido em uma missão espacial”, disse Hartley. “Eu nunca tinha visitado o JPL ou qualquer outro prédio da NASA por esse motivo. Então tudo isso é novo para mim. Eu estou muito agradecido por ter sido convidado para testemunhar tudo isso. Essa é uma experiência que poucas pessoas viveram antes”.

Na verdade exatamente só uma vez antes isso havia acontecido. De todos os aproximadamente 3800 cometas conhecidos, quatro já foram visitados por uma sonda. E desses quatro, somente o astrônomo suíço Paul Wild estava vivo para ver seu cometa ser visitado. Enquanto Wild testemunhou o lançamento da sonda da NASA Stardust diretamente no Cabo Canaveral na Flórida em 1999 ele observou as imagens do encontro com o seu cometa no conforto de sua casa em 2003. Wild morreu em 2008. Hartley irá acompanhar as imagens do seu cometa diretamente na sala de controle da missão no JPL.

“Quando eu descobri o cometa em 1986, nunca imaginei que um dia iria acompanhar uma missão chegando perto dele e vê-lo em detalhe”, disse Hartley que era garoto quando o JPL estava nascendo.

Não foi de surpreender que o astrofotógrafo de 63 anos também deu palpites na missão para o seu cometa.

“A sonda já havia visitado o Tempel 1, mas então ela foi reconfigurada para a missão estendida”, disse Hartley. “É uma coisa muito esperta que está sendo feita aqui. É o tipo de ciência que é realmente muito interessante. Para ser capaz de fazer algo a mais sobre o que já havia sido feito na missão de sucesso até o Tempel 1 é realmente algo muito especial”.

EPOXI é uma missão estendida que utiliza a sonda já em vôo Deep Impact para explorar alvos celestes distintos dependendo da oportunidade. O termo EPOXI é uma combinação dos nomes de dois componentes dessa missão estendida: a Extrasolar Planet Observation and Characterization (EPOCh) e o sobrevôo ao Hartley 2, missão essa que é chamada de Deep Impact eXtended Investigation (DIXI). Para mais informação sobre a missão EPOXI visitem: http://www.nasa.gov/epoxi and http://epoxi.umd.edu.

Fonte:

http://www.jpl.nasa.gov/news/news.cfm?release=2010-368&cid=release_2010-368&msource=2010368&tr=y&auid=7293009

Sérgio Sacani

Formado em geofísica pelo IAG da USP, mestre em engenharia do petróleo pela UNICAMP e doutor em geociências pela UNICAMP. Sérgio está à frente do Space Today, o maior canal de notícias sobre astronomia do Brasil.

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