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23 de novembro de 2024

O Canto Empoeirado de Orion – Uma Aula Sobre O Processo de Formação de Estrelas no Universo

astronomy_now_scan_01

observatory_150105Em meio à nebulosidade que varre as estrelas de Orion estão aglomerados de gás molecular mais denso em processo de produção da próxima geração de estrelas que irão habitar a Via Láctea. Essa região do céu chama a atenção de muitos astrofotógrafo mas essa nova imagem revela componentes até então escondidos dessa região de formação de estrelas.

Messier 78 é uma nebulosa de reflexão – uma brilhante cascata de gás hidrogênio molecular, o tipo que forma estrelas e então reflete a brilhante radiação das estrelas formadas. Ela pode ser encontrada dois graus ao norte e 1.5 graus a leste de Alnitak, a primeira das três estrelas do Cinturão de Orion (ou das Três Marias, como preferir). O que é notável nessa nova imagem, uma cortesia do APEX, o Atacama Pathfinder Experiment no Chile, é a presença das ricas costuras de poeira interestelar vagando por toda a região da M78. O APEX é um rastreador tecnológico para o ALMA, o Atacama Large Millimeter/Submillimeter Array que no ano passado entrou em operação no Platô de Chajnantor no Deserto de Atacmaa, no Chile. Operando nos comprimentos de onda mais longos do espectro eletromagnético, do infravermelho distante até as micro-ondas, o APEX é capaz de identificar a presença dos reinos mais frios do universo, com a poeira – apresentada como filamentos laranjas nessa imagem – mais frias que -250 graus Celsius. Na realidade a poeira é escura e obscurece a nossa visão, deixando apenas um vestígio da sua presença na luz visível, como fios escuros cruzando a face da M78. O APEX revela até mais fios de poeira na M78 que nós não podemos ver com sua silhueta marcada contra o brilho na luz visível da nebulosa, significando que esses fios de poeira devem estar laçando a nebulosa, passando pelo seu lado escuro.

Entretanto, os pontos brilhantes dentro dos filamentos empoeirados indicam a localização onde o nascimento de estrelas já está num estágio mais avançado e os embriões estelares brilhantes estão começando a alcançar sua fase frutífera. As estrelas se alimentam das nebulosas ao redor, capturando material que cai em seu interior. Os campos magnéticos emaranhados dentro das estrelas florescentes dirigem qualquer material que esteja caindo ao longo de seus eixos magnéticos, expelindo esse material como jatos.

A origem da poeira é encontrada na criação dos átomos de oxigênio e carbono dentro das estrelas. Quando uma supernova explode, ou uma gigante vermelha expele suas camadas externas, elas adicionam uma grande quantidade de átomos de oxigênio e de carbono no cosmos Adicionando um átomo de oxigênio a um átomo de carbono você tem uma molécula de monóxido de carbono, uma das moléculas mais comuns encontradas no universo e um link vital na cadeia química interestelar que leva à formação de moléculas orgânicas mais complexas. À medida que as moléculas vão se aglutinando elas começam a criar grãos de poeira de tamanho micrométrico, meros tufos que se colam a outros para produzir grãos maiores. As estrelas moribundas, aquelas que se encontram na fase final de sua existência são as maiores geradoras de grãos do universo.

Misturada com o gás interestelar, a poeira torna-se um importante componente do material de formação das estrelas que surgem em nebulosas como a M78. A poeira pode funcionar como uma força positiva nas regiões de formação de estrelas, protegendo o gás da radiação estelar, permitindo assim que ele permaneça frio e colapse nos núcleos densos das protoestrelas. Eventualmente a poeira irá se acumular nessas protoestrelas ou em discos ao redor delas, gerando assim os blocos fundamentais para a geração dos planetas, outro link na cadeia de reciclagem cósmica. Então, um dia, num futuro, muito, muito distante essas estrelas também morrerão e entregarão sua poeira de volta ao universo, renovando o ciclo de poeira cósmica.

Fonte:

Revista Astronomy Now – Junjho de 2012 – pag. 20

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Sérgio Sacani

Formado em geofísica pelo IAG da USP, mestre em engenharia do petróleo pela UNICAMP e doutor em geociências pela UNICAMP. Sérgio está à frente do Space Today, o maior canal de notícias sobre astronomia do Brasil.

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