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O Canal Hadley e as Montanhas da Lua


No dia 20 de Julho de 2011, coincidentemente no dia do 42? aniversário, dos primeiros passos humanos em outro mundo, a sonda da NASA Lunar Reconnaissance Orbiter, ou LRO foi comandada para rolar para leste permitindo que a sua câmera observasse de forma oblíqua o canal Hadley e o local de pouso da missão Apollo 15. Uma das grandes viagens de exploração da humanidade, a aventura do comandante de missão David Scott, do piloto do módulo lunar James Irwin e do piloto do módulo de comando Al Worden transformou nosso entendimento sobre a Lua e sobre todo o Sistema Solar. A sombra do estágio de descida do Módulo Lunar Falcon é visível, bem como o primeiro veículo usado para explorar a Lua feito pela NASA. Além disso, as estações de amostragem de rochas exploradas pelos astronautas da Apollo 15 são também fáceis de serem identificadas.

A Apollo 15 foi a primeira de três missões de longa duração denominadas de J-missions, mais missões desse tipo com certeza aconteceriam se o programa de exploração da Lua não fosse terminado de forma prematura em 1972, após a missão da Apollo 17. As J-missions se destacavam por serem missões com os módulos de comando e serviço altamente equipados, onde os astronautas usavam roupas melhoradas visando promover a maior agilidade na execução de tarefas, os veículos de pouso lunar eram também versões atualizadas e os astronautas podiam usar o Lunar Roving Vehicle ou LRV para assim expandir o horizonte de pesquisa no solo da Lua. Antes da missão, a tripulação da Apollo 15 recebeu um intenso treinamento em geologia que juntamente com a grande capacidade dos equipamentos resultou numa extraordinária quantidade de resultados científicos. A Apollo 15 foi também a única missão lunar onde todos os membros da tripulação eram graduados da Universidade de Michigan e oficiais da Força Aérea Americana. O módulo lunar Falcon recebeu esse nome em homenagem ao mascote da Academia da Força Aérea do Estados Unidos, e o módulo de comando da Apollo 15, o Endeavour se encontra em exposição no Museu Nacional da Força Aérea em Dayton, OH.

Os astronautas Scott e Irwin gastaram quase três dias explorando o vale Hadley-Apennine, cruzaram 28 quilômetros usando o primeiro veículo lunar e coletaram mais de 77 kg de material lunar raro, incluindo a famosa Rocha Gênese, um pedaço da crosta primordial da Lua. Enquanto Scott e Irwin exploravam a superfície da Lua, o piloto do módulo de comando Worden, usava a grande quantidade de instrumentos a bordo do módulo Endeavour para completar com sucesso uma complexa série de observações orbitais. É possível ver amostras das imagens geradas pelo astronauta em seu vôo solitário ao redor da Lua no Arizona State University Apollo Digital Image Archive (http://apollo.sese.asu.edu/). O local de pouso da Apollo 15, um local geologicamente complexo é de alta prioridade para futuras explorações humanas na Lua, e consequentemente foi uma das chamadas Constellation Regions of Interest que foram um dos focos das observações feitas com a câmera LROC durante o LRO Exploration Systems Mission Directorate, o primeiro ano de operações da LRO. Graças as explorações feitas pelos astronautas da Apollo 15, nós temos agora um conjunto bem definido de questões científicas que só podem ser acessadas através de uma futura missão humana para a Lua revisitando a região de Hadley-Apennine. Além disso, materiais recolhidos pelo estágio de descida do módulo Falcon forneceram informações valiosas aos engenheiros de hoje sobre como os materiais sobrevivem na superfície da Lua por longos períodos de tempo.

No sábado, 5 de Novembro de 2011, como parte do dia anual de Exploração da Terra e do Espaço da Escola da Terra e de Exploração Espacial, a Universidade Estadual do Arizona orgulhosamente irá inaugurar uma exposição mostrando um pedaço da Apollo Lunar Sample 15555, uma amostra de basalto de mar coletada por Scott a aproximadamente 12 metros do anel do canal Hadley na Station 9A. Essa rocha da Lua é a maior e uma das mais bem estudadas amostras coletadas pelos astronautas da Apollo 15, e é predominantemente composta de minerais silicatos como olivina, piroxênio e plagioclásio. A composição completa da amostra 15555, acredita-se represente material vulcânico primitivo derretido e tem sido usada para realizar estudos experimentais e teóricos relacionados com a origem geológica dos basaltos da Lua. Os cientistas planetários usam as informações obtidas com essas análises para ajudar a aperfeiçoar e calibrar os métodos de datação radiométrica empregados pelos diferentes laboratórios ao redor do mundo.

O que é um basalto de mar e qual a sua importância? Os basaltos de mares da Lua são muito parecidos com os basaltos encontrados na Terra. Se você estiver dirigindo pela cratera Sunset no Arizona, você pode encontrar basalto, se você for ao Havaí poderá encontrar basalto, na Islândia, Índia, Etiópia e muitos outros países do mundo como o Brasil você também pode encontrar basaltos. A crosta oceânica da Terra é composta por basalto. Se você visitar Marte encontrará basalto no solo ou sedimentos derivados do basalto. Se você pousar em Vênus, a mesma coisa. A sonda Dawn da NASA que está nesse momento orbitando o asteroide Vesta, está observando todo o basalto que constitui esse objeto. O basalto é muito comum em todo o Sistema Solar. O fato fascinante sobre os basaltos é que eles representam uma amostra do manto superior. Nós não podemos acessar o manto diretamente, mas a natureza nos fornece algumas amostras das partes profundas do manto da Terra por meio dos basaltos. O vulcanismo é uma das formas de entrega do basalto. Como o manto é responsável pela maior parte da Terra, de Marte e da Lua nós precisamos muito de amostras de basaltos desses objetos para podermos entendê-los como um todo. Assim, você pode pensar na amostra 15555 como um pedaço do interior da Lua, mesmo que ela tenha sido coletada na superfície do satélite.

Em um generoso empréstimo feito pelo NASA Lyndon B. Johnson Space Center para a Universidade Estadual do Arizona, esse pedaço de rocha de 76 gramas do basalto de mar da Lua será mostrado no Lunar Reconnaissance Orbiter Camera Science Operations Center Visitor Galery. Essa maravilhosa e única amostra da Lua irá permitir aos visitantes observarem e aprenderem sobre um maravilhoso pedaço da nossa Lua, enquanto que a poucos metros dali, atrás de uma redoma de vidro, a equipe da LROC estará enviando comandos para a sonda e estará também recebendo imagens que permitirão os cientistas e engenheiros a planejarem futuras explorações robóticas e humanas da Lua.

A equipe da sonda LRO encoraja qualquer um interessado em exploração espacial a visitar esse tesouro da Lua e aprender como os cientistas lunares ao redor do mundo estão fazendo coisas pioneiras com respeito ao futuro do homem no espaço. O trabalho que é feito com a LROC é tremendamente excitante, mas ultimamente ele é ligado à paixão humana pela descoberta. Todos da equipe da LRO esperam compartilhar toda essa paixão pela Lua e pela exploração espacial com todos a partir de 5 de Novembro de 2011.

Fonte:

http://lroc.sese.asu.edu/news/index.php?/archives/474-Hadley-Rille-and-the-Mountains-of-the-Moon.html


Sérgio Sacani

Formado em geofísica pelo IAG da USP, mestre em engenharia do petróleo pela UNICAMP e doutor em geociências pela UNICAMP. Sérgio está à frente do Space Today, o maior canal de notícias sobre astronomia do Brasil.

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