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O Aquecimento da Coroa Solar – Mistério Perto de Ser Resolvido

O Sol, uma estrela familiar e vital para a vida na Terra, ainda guarda muitos mistérios. Um dos mais intrigantes é a coroa solar, uma camada de plasma que envolve o Sol. Durante um eclipse total, essa coroa se manifesta como um brilho pálido, quase rosa, em torno da sombra da Lua. Este tom rosado é indicativo da sua temperatura extremamente alta, excedendo um milhão de Kelvin, uma temperatura consideravelmente mais alta do que a superfície do Sol, que é de cerca de 6.500 K.

Por décadas, cientistas têm se perguntado: como a coroa pode ser tão mais quente que a superfície solar? A explicação predominante tem sido a dinâmica do campo magnético solar. A superfície do Sol, embora pareça constante a olho nu, é um turbilhão de atividade. Esta turbulência dá origem a filamentos de plasma, conhecidos como proeminências, e a poderosas erupções solares. Durante períodos de alta atividade solar, é fácil imaginar como esses fenômenos podem aquecer a coroa. No entanto, o Sol também tem períodos de calmaria, com poucas manchas solares e raridade de proeminências e erupções. Se a coroa é aquecida por esses grandes eventos, por que ela não esfria durante os períodos de calmaria?

A resposta a essa pergunta intrigante foi recentemente elucidada em um artigo publicado no prestigiado periódico “The Astrophysical Journal Letters”. Esta descoberta foi possível graças aos dados coletados pelo Solar Orbiter, uma sonda espacial equipada com uma série de detectores avançados. Estes detectores são capazes de medir campos magnéticos, ventos solares e partículas de alta energia, além de capturar imagens de alta resolução da superfície solar. A órbita dinâmica do Solar Orbiter permite que ele se aproxime do Sol mais do que Mercúrio, proporcionando uma visão sem precedentes da estrela.

Em uma de suas aproximações em outubro de 2022, o Imager de Ultravioleta Extremo (EUI) do Solar Orbiter capturou imagens detalhadas de pequenos arcos de plasma. Simultaneamente, o Imager Polarimétrico e Heliossísmico (PHI) mediu a polaridade magnética da superfície solar na mesma região. A combinação desses dados revelou que variações mínimas na polaridade podem gerar arcos de plasma, que são suficientes para aquecer a coroa mesmo durante os períodos mais calmos de atividade solar. Em outras palavras, mesmo quando o Sol não está em um estado de ebulição energética, há uma atividade constante, embora sutil, que mantém a corona aquecida.

Esta descoberta desafia as suposições anteriores e destaca a complexidade do comportamento magnético do Sol. Mesmo variações magnéticas menores podem ter efeitos significativos, contribuindo para a temperatura consistente da coroa. Esta compreensão é crucial, pois o comportamento do Sol tem implicações mais amplas para o sistema solar, influenciando o clima espacial e, por extensão, a Terra.

O Solar Orbiter não parou por aí. Em uma aproximação subsequente, chegou a apenas 43 milhões de quilômetros da superfície solar, coletando ainda mais dados. Espera-se que essas informações adicionais revelem ainda mais sobre os segredos do Sol nos próximos anos. A missão do Solar Orbiter é um testemunho da colaboração internacional e da fusão da engenharia e da ciência, buscando desvendar os mistérios de nossa estrela.

Em resumo, a coroa solar, com sua temperatura enigmática, está no centro dos estudos solares. Através de missões como o Solar Orbiter, estamos começando a entender os intricados processos que ocorrem no Sol. Cada nova descoberta nos aproxima de uma compreensão mais completa de nossa estrela e de seu impacto em nosso sistema solar. A jornada para entender o Sol, com suas implicações para a astrofísica e para a vida na Terra, continua.

Fonte:

https://www.universetoday.com/163697/small-magnetic-fields-have-a-big-impact-on-the-suns-atmosphere/

Sérgio Sacani

Formado em geofísica pelo IAG da USP, mestre em engenharia do petróleo pela UNICAMP e doutor em geociências pela UNICAMP. Sérgio está à frente do Space Today, o maior canal de notícias sobre astronomia do Brasil.

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