A Pequena Nuvem de Magalhães, ou do inglês, SMC, é uma das vizinhas galácticas, mais próximas da Via Láctea. Mesmo apesar de ser uma pequena, e assim chamada galáxia anã, a SMC é tão brilhante que pode ser observada a olho nu para os observadores do hemisfério sul e perto da linha do equador. Muitos navegadores, incluindo Fernão de Magalhães a usaram para encontrar seus caminhos pelo oceano. Essa galáxia foi nomeada em homenagem ao grande navegador Fernão de Magalhães.
Diferente dos navegadores que só a usavam para se encontrar na imensidão dos oceanos, os astrônomos modernos estão interessados em fazer um estudo mais profundo da SMC. Pelo fato dela estar tão perto e ser tão brilhante, ela oferece uma oportunidade única onde se pode estudar fenômenos difíceis de serem examinados em galáxias mais distantes.
Novos dados do Chandra forneceram uma nova descoberta da SMC: a primeira detecção de emissão de raios-X de jovens estrelas com massas similares à massa do nosso Sol, fora da Via Láctea. As novas observações do Chandra dessas estrelas de baixa massa foram feitas na região conhecida como Asa da SMC. Na imagem composta (a imagem principal desse post) da Asa, os dados do Chandra, são mostrados em roxo, os dados ópticos obtidos pelo Telescópio Espacial Hubble são mostrados em vermelho, verde e azul e os dados infravermelhos obtidos pelo Telescópio Espacial Spitzer são mostrados em vermelho.
Os astrônomos chamam todos os elementos que são mais pesados que o hidrogênio e que o hélio, ou seja, com mais de dois prótons no núcleo atômico, de metais. A Asa da SMC é uma região conhecida por ter menos metais se comparada com a maior parte das áreas dentro da Via Láctea. Ali também se tem relativamente menos quantidade de gás, poeira e estrelas se compararmos com a Via Láctea.
Juntas, essas propriedades fazem da Asa, um excelente local para estudar o ciclo de vida das estrelas e o gás localizado entre elas. Não somente, são essas condições típicas para galáxias anãs irregulares, como a SMC, mas elas são repetidas em galáxias muito mais distantes do início do universo.
A maior parte da formação de estrelas perto da ponta da asa está ocorrendo numa pequena região conhecida como NGC 602, que possui uma coleção de no mínimo três aglomerados estelares. Um deles, o NGC 602a, é similar em idade, massa e tamanho ao famoso Aglomerado da Nebulosa de Orion. Os pesquisadores estudam o NGC 602a, para ver se as estrelas jovens, ou seja, aquelas com pouco milhões de anos de vida, têm propriedades diferentes quando elas tem baixos níveis de metais, como as encontradas no aglomerado NGC 602a.
Usando o Chandra, os astrônomos descobriram extensas emissões de raios-X, de duas das mais densamente povoadas regiões no NGC 602a. A extensa nuvem de raios-X provavelmente vem da população de jovens estrelas de baixa massa no aglomerado, que foram anteriormente registradas em pesquisas de infravermelha e óptica pelo Spitzer e pelo Hubble respectivamente. Essa emissão pouco provavelmente está relacionada ao gás quente soprado pelas estrelas massivas, pois o baixo conteúdo de metais das estrelas na NGC 602a, implica que essas estrelas devem ter ventos fracos. A falha em detectar emissões de raios-X de estrelas mais massivas no NGC 602a, suporta essa conclusão, pois a emissão de raios-X é um indicador da força dos ventos das estrelas massivas. Nenhuma estrela individual de pouca massa foi identificada, mas a sobreposição da emissão de algumas milhares de estrelas é brilhante o suficiente para ser observada.
Os resultados do Chandra implicam que as jovens estrelas pobres em metais no NGC 602a, produzem raios-X de uma maneira similar às estrelas com conteúdo de metal muito mais elevado encontrado no aglomerado de Orion na nossa galáxia. Os autores especulam que se as propriedades dos raios-X das jovens estrelas são similares em diferentes ambientes, então outras propriedades relacionadas, incluindo a formação e a evolução dos discos onde os planetas se formam, são também provavelmente similares.
A emissão de raios-X traça a atividade magnética das jovens estrelas e está relacionada com quão eficientemente seu dínamo magnético opera. Os dínamos magnéticos geram os campos magnéticos nas estrelas através de um processo envolvendo a velocidade de rotação da estrela e a convecção, o soerguimento e a queda do gás quente no interior da estrela.
A combinação dos dados ópticos, de raios-X e infravermelho também revelam, pela primeira vez fora da Via Láctea, objetos representativos de um estágio até mesmo mais jovem da evolução de uma estrela. Esses jovens objetos estelares têm idades de poucos milhares de anos e ainda estão mergulhados nos pilares de poeira e gás de onde as estrelas se formam, como o famoso Pilar da Criação da Nebulosa da Águia. A imagem abaixo mostra em destaque a localização desses jovens objetos estelares.
Fonte:
http://www.chandra.harvard.edu/photo/2013/ngc602/