O universo da exploração espacial está prestes a testemunhar uma revolução tecnológica sem precedentes. O projeto DRACO, sigla em inglês para “Demonstration Rocket for Agile Cislunar Operations” (Foguete Demonstrativo para Operações Ágeis Cislunares), promete ser o epicentro dessa transformação. Esta iniciativa, que tem como objetivo principal testar a tecnologia de propulsão nuclear térmica (NTP), pode ser a chave para a humanidade estabelecer uma presença duradoura em Marte e em outros mundos distantes.
A colaboração entre a NASA e o exército dos Estados Unidos visa lançar uma espaçonave movida a energia nuclear em órbita terrestre entre o final de 2025 e o início de 2026. Esta não é uma empreitada recente. A origem do DRACO remonta a 2021, quando a Agência de Projetos de Pesquisa Avançada de Defesa dos EUA (DARPA) deu início ao programa. A NASA, reconhecendo o potencial revolucionário da iniciativa, juntou-se ao projeto em 2023.
A agência espacial americana tem uma longa história de interesse na tecnologia NTP. Na década de 1970, a NASA já vislumbrava a possibilidade de lançar uma missão tripulada a Marte usando uma espaçonave movida a energia nuclear. Este ambicioso projeto, denominado NERVA (“Nuclear Engine for Rocket Vehicle Application” ou Motor Nuclear para Aplicação em Veículos de Foguete), infelizmente, foi cancelado em 1972. No entanto, a visão de explorar o Planeta Vermelho nunca desvaneceu. Atualmente, a NASA tem como objetivo enviar astronautas a Marte entre o final da década de 2030 e o início da década de 2040. A propulsão nuclear térmica é vista como uma tecnologia-chave que pode tornar essa missão mais viável, reduzindo significativamente o tempo de viagem para Marte.
O funcionamento dos foguetes nucleares térmicos é fascinante. Eles carregam pequenos reatores de fissão que liberam quantidades impressionantes de calor ao dividir átomos. Esse calor é então aplicado a um gás propulsor, que se expande e é canalizado para o espaço através de um bocal, gerando impulso. Esta técnica é fundamentalmente diferente da empregada pelos geradores termoelétricos de radioisótopos (RTGs), uma tecnologia nuclear que tem sido usada em sondas espaciais desde os primeiros dias da era espacial. Enquanto os RTGs geram eletricidade a partir do calor do decaimento radioativo para alimentar instrumentos e outros equipamentos de uma espaçonave, os foguetes nucleares térmicos são puramente para propulsão.
Em atualizações anteriores sobre o DRACO, tanto a DARPA quanto a NASA indicaram que a primeira demonstração em espaço do programa estava prevista para 2027. No entanto, essa janela de lançamento pode ter sido antecipada, conforme indicado por Kirk Shireman, vice-presidente de Campanhas de Exploração Lunar da Lockheed Martin, em uma coletiva de imprensa. Atualmente, o lançamento está previsto para o final de 2025 ou início de 2026.
A Lockheed Martin, uma das gigantes da indústria aeroespacial, foi incumbida da tarefa de desenvolver e construir a espaçonave DRACO. Em uma parceria estratégica, a empresa se uniu à BWX Technologies, sediada na Virgínia, que será responsável pelo desenvolvimento do reator nuclear da espaçonave e pela produção de seu combustível, denominado HALEU (urânio pouco enriquecido de alta análise).
A missão DRACO não é apenas um marco tecnológico, mas também um testemunho de engenharia de precisão e segurança. A espaçonave será colocada em uma órbita relativamente alta ao redor da Terra, provavelmente entre 435 e 1.240 milhas (700 a 2.000 quilômetros). A partir dessas altitudes, levará pelo menos 300 anos para o demonstrador DRACO reentrar na atmosfera terrestre, garantindo que todo o seu combustível nuclear seja consumido quando ele retornar.
A segurança é uma prioridade máxima para a equipe da missão. O motor nuclear da espaçonave DRACO só será ativado quando ela alcançar a órbita. Durante o lançamento, o motor será equipado com um “fio venenoso”, uma peça de metal que absorve nêutrons, impedindo-os de iniciar uma reação em cadeia. Esse mecanismo de segurança é semelhante ao funcionamento das barras de controle em reatores nucleares aqui na Terra.
O DRACO operará em órbita por alguns meses, focando principalmente na demonstração de seu motor NTP. No entanto, essa operação também apresenta desafios, como a necessidade de manter o hidrogênio da espaçonave – cerca de 2.000 quilogramas – em um estado super-resfriado.
Tabitha Dodson, gerente do programa DRACO na DARPA, destacou a importância dessa missão, afirmando que “é tanto uma demonstração de armazenamento em órbita de hidrogênio líquido criogênico quanto uma demonstração do motor de foguete nuclear térmico”. A espaçonave, em sua essência, consistirá no sistema de motor NTP e em um grande tanque para armazenar o hidrogênio.
Em termos financeiros, os contratos concedidos à Lockheed Martin e à BWX Technologies para o trabalho no DRACO têm um valor total de 499 milhões de dólares. Esse investimento será compartilhado igualmente entre DARPA e NASA, refletindo a importância e o compromisso de ambas as organizações com este projeto pioneiro.
Em conclusão, o projeto DRACO representa uma nova era na exploração espacial. Com a combinação de tecnologia avançada, colaboração interagencial e visão futurista, a humanidade está dando um passo gigantesco em direção à conquista de novos horizontes no espaço sideral.
Fonte:
https://www.space.com/nasa-darpa-nuclear-thermal-rocket-draco-2026