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17 de setembro de 2024

NASA Confirma – O Verão de 2024 No Hemisfério Norte Foi o Mais Quente da História

O aquecimento global é um dos desafios mais prementes da nossa era, e o monitoramento preciso das temperaturas da Terra é crucial para entender e mitigar seus efeitos. Em agosto de 2024, a NASA anunciou que o verão daquele ano foi o mais quente já registrado desde o início dos registros globais em 1880. Este marco foi identificado pelos cientistas do Instituto Goddard de Estudos Espaciais (GISS) da NASA, em Nova York, e reforça a tendência de aquecimento contínuo do planeta.

O GISS, por meio de sua análise de temperatura de superfície conhecida como GISTEMP, tem sido fundamental na documentação das mudanças climáticas ao longo dos últimos 145 anos. Este registro é composto por dados de temperatura do ar adquiridos por dezenas de milhares de estações meteorológicas, bem como temperaturas da superfície do mar obtidas por instrumentos baseados em navios e boias, incluindo medições na Antártica. A abrangência e a precisão desses dados permitem uma análise detalhada e confiável das variações de temperatura ao longo do tempo.

O verão de 2024 destacou-se por ser aproximadamente 0,2 graus Fahrenheit (cerca de 0,1 graus Celsius) mais quente globalmente do que qualquer outro verão registrado anteriormente, superando por pouco o recorde estabelecido em 2023. Especificamente, o verão de 2024 foi 2,25 F (1,25 C) mais quente do que a média dos verões entre 1951 e 1980, e o mês de agosto sozinho foi 2,34 F (1,3 C) mais quente do que a média histórica. Esses dados são particularmente significativos, pois o período de junho a agosto é considerado o verão meteorológico no Hemisfério Norte, onde a maioria das medições são concentradas.

Segundo Gavin Schmidt, diretor do GISS, “os dados de múltiplos registros mostram que o aquecimento dos últimos dois anos pode estar muito próximo, mas está bem acima de qualquer coisa vista em anos anteriores, incluindo anos fortes de El Niño”. Esta observação sublinha a influência contínua das atividades humanas no aquecimento do clima global, uma conclusão que é apoiada por uma vasta quantidade de evidências científicas.

A importância do GISTEMP reside na sua capacidade de calcular anomalias de temperatura, que são desvios em relação à média base de 1951 a 1980. Este método é preferível à medição de temperaturas absolutas, pois permite uma comparação mais precisa das mudanças climáticas ao longo do tempo, eliminando variações sazonais e regionais que poderiam distorcer os resultados.

Além disso, a NASA recentemente compartilhou novos conjuntos de dados de última geração que permitem aos cientistas rastrear a temperatura da Terra para qualquer mês e região desde 1880 com maior certeza. Esta inovação é crucial para a validação contínua dos registros de temperatura e para a compreensão das tendências climáticas em uma escala global e regional.

A NASA utiliza uma abordagem robusta para coletar e analisar dados de temperatura, garantindo a precisão e a confiabilidade dos resultados. O GISTEMP calcula anomalias de temperatura, que indicam o quanto a temperatura se desviou da média base entre 1951 e 1980, ao invés de medir temperaturas absolutas. Este método permite uma comparação mais precisa das mudanças climáticas ao longo do tempo.

Recentemente, uma nova avaliação dos registros de temperatura, conduzida por cientistas da Colorado School of Mines, da National Science Foundation, da NOAA e da NASA, aumentou a confiança nos dados globais e regionais da agência. Esta pesquisa confirmou que o aumento da temperatura global desde o final do século XIX não pode ser explicado por incertezas ou erros nos dados.

Os pesquisadores utilizaram uma técnica estatística conhecida como ensemble, que considera uma gama de 200 valores mais prováveis, ao invés de um único intervalo de confiança. Esta abordagem oferece uma visão mais abrangente das possíveis variações de temperatura, especialmente em áreas com lacunas espaciais entre as estações meteorológicas.

A metodologia de coleta de dados da NASA envolve a integração de informações de diversas fontes. As temperaturas da superfície do ar são obtidas de dezenas de milhares de estações meteorológicas espalhadas pelo globo, enquanto as temperaturas da superfície do mar são coletadas por instrumentos baseados em navios e boias. Adicionalmente, medições na Antártica são incluídas para fornecer uma visão completa das variações de temperatura em todo o planeta. Este conjunto diversificado de dados é essencial para capturar a complexidade das mudanças climáticas globais.

A análise de anomalias de temperatura, em vez de temperaturas absolutas, é uma técnica crucial para entender as tendências climáticas. As anomalias mostram como as temperaturas atuais se comparam a uma média histórica, permitindo que os cientistas identifiquem desvios significativos que possam indicar mudanças climáticas. A média base utilizada pelo GISTEMP, que abrange de 1951 a 1980, fornece um ponto de referência estável para essas comparações.

Além disso, a nova avaliação dos registros de temperatura, liderada por Nathan Lenssen e seus colegas, reforçou a precisão dos dados da NASA. A pesquisa demonstrou que o aumento da temperatura global desde o final do século XIX é consistente e não pode ser atribuído a erros ou incertezas nos dados. A técnica de ensemble utilizada pelos pesquisadores é particularmente útil para lidar com incertezas, pois considera uma ampla gama de valores prováveis, oferecendo uma visão mais completa das possíveis variações de temperatura.

Essa abordagem é especialmente importante em áreas com lacunas espaciais entre as estações meteorológicas. Por exemplo, se o GISTEMP contém leituras de termômetros de Denver em julho de 1900, e um pesquisador precisa estimar as condições a 100 milhas de distância, a técnica de ensemble permite analisar uma série de valores igualmente prováveis para a região sul do Colorado. Isso proporciona uma compreensão mais detalhada e precisa das condições climáticas históricas e atuais.

Em resumo, a metodologia e a análise de dados da NASA, combinadas com a nova avaliação dos registros de temperatura, fornecem uma base sólida para entender as mudanças climáticas globais. A precisão e a confiabilidade desses dados são essenciais para monitorar o aquecimento global e desenvolver estratégias eficazes para mitigar seus impactos.

Os novos dados e métodos de análise têm implicações significativas para a compreensão do aquecimento global. A confirmação da precisão dos registros de temperatura da NASA reforça a evidência de que o aquecimento observado é impulsionado por atividades humanas. Além disso, a comparação com outras instituições, como a NOAA e o Serviço de Mudança Climática Copernicus da União Europeia, mostra uma concordância geral, embora com algumas variações específicas.

Compreender as incertezas nos dados é crucial para prever mudanças futuras e formular políticas eficazes. A nova abordagem de ensemble permite uma melhor comunicação das incertezas e uma análise mais detalhada das condições climáticas históricas e futuras. Este método não apenas melhora a precisão das estimativas de temperatura, mas também oferece uma visão mais holística das possíveis variações climáticas, especialmente em regiões onde os dados são escassos ou onde as estações meteorológicas estão distantes umas das outras.

As implicações desses achados são vastas. Primeiramente, eles fornecem uma base sólida para a formulação de políticas públicas que visem mitigar os efeitos das mudanças climáticas. Governos e organizações internacionais podem usar esses dados para desenvolver estratégias mais eficazes de redução de emissões de gases de efeito estufa, adaptação às mudanças climáticas e proteção de ecossistemas vulneráveis. Além disso, a precisão aprimorada dos dados de temperatura pode ajudar a informar o planejamento urbano e agrícola, permitindo que as comunidades se preparem melhor para eventos climáticos extremos, como ondas de calor e secas prolongadas.

Além das políticas públicas, os novos métodos de análise também têm implicações para a pesquisa científica. A capacidade de estimar com maior precisão as temperaturas históricas e futuras permite que os cientistas desenvolvam modelos climáticos mais robustos e preditivos. Esses modelos são essenciais para entender como o clima da Terra pode mudar nas próximas décadas e séculos, e para identificar possíveis pontos de inflexão que poderiam levar a mudanças climáticas abruptas e irreversíveis.

Em conclusão, os achados recentes da NASA e de seus parceiros científicos destacam a importância de monitorar e entender as mudanças climáticas. Este conhecimento é vital para a ciência climática e para a formulação de políticas públicas que visem mitigar os impactos do aquecimento global e proteger nosso planeta para as futuras gerações. A precisão e a confiabilidade dos dados de temperatura são fundamentais para enfrentar o desafio global do aquecimento, e os avanços metodológicos recentes representam um passo significativo nessa direção. À medida que continuamos a explorar e compreender nosso planeta, a ciência climática se torna uma ferramenta indispensável para garantir um futuro sustentável e resiliente para todos.

Fonte:

https://www.nasa.gov/earth/nasa-finds-summer-2024-hottest-to-date/

Sérgio Sacani

Formado em geofísica pelo IAG da USP, mestre em engenharia do petróleo pela UNICAMP e doutor em geociências pela UNICAMP. Sérgio está à frente do Space Today, o maior canal de notícias sobre astronomia do Brasil.

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