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22 de dezembro de 2024

Mundos De Lava Podem Ter A Chave Para A Habitabilidade

Os mundos de lava, com seus vastos oceanos de magma, têm emergido como um fascinante objeto de estudo no campo da ciência planetária. Contrariando a imagem convencional de um planeta habitável, esses corpos celestes podem ser a chave para desvendar os mistérios da evolução da Terra e a origem de seus ingredientes essenciais para a vida.

Recentes simulações computacionais sugerem que alguns desses mundos de lava são capazes de aprisionar gases voláteis, incluindo químicos vitais para a vida, em suas profundezas mantulares. Kiersten Boley, cientista planetária da Universidade Estadual de Ohio, destacou em uma declaração que a capacidade desses planetas de reter elementos voláteis em seus mantos pode ter implicações significativas para a habitabilidade. Este estudo inovador foi publicado no renomado “The Astrophysical Journal”.

Para entender melhor esses planetas, Boley e sua equipe utilizaram simulações computacionais avançadas. Eles exploraram o conceito de “super-Terras efervescentes”, planetas cobertos por oceanos de magma saturados com gases voláteis. Criando modelos digitais de mundos de lava com diferentes composições químicas e temperaturas superficiais, a equipe simulou o processo de resfriamento desses corpos celestes. Em um cenário comum, um mundo de lava que resfria lentamente pode aprisionar quantidades significativas de água e carbono, elementos-chave para a vida, em seu interior.

É interessante notar que, apesar de sua natureza exótica, os mundos de lava são surpreendentemente comuns no universo. Dos planetas rochosos descobertos ao redor de outras estrelas, cerca de metade apresenta superfícies cobertas por oceanos incandescentes de rocha derretida. Estes planetas, distintos de qualquer outro em nosso Sistema Solar, desafiam nossa compreensão tradicional de habitabilidade.

No entanto, a proximidade de muitos desses mundos de lava com suas estrelas torna a habitabilidade uma perspectiva distante. A intensa radiação estelar é, em grande parte, responsável por suas características magmáticas. Mas é crucial reconhecer que muitos planetas rochosos, incluindo a Terra, passaram por uma fase de oceano de magma em algum momento de sua evolução. Portanto, estudar esses mundos pode oferecer insights valiosos sobre a formação e evolução dos planetas rochosos.

A pesquisa de Boley revelou que o processo de resfriamento de um mundo de lava pode variar amplamente. Em alguns casos, o resfriamento pode começar na superfície, formando uma crosta sólida, enquanto o magma continua a borbulhar abaixo. Em outros, o resfriamento pode iniciar nas profundezas, deixando um oceano de magma na superfície. No entanto, o cenário mais intrigante ocorre quando o magma começa a resfriar no meio, resultando em uma camada de rocha sólida entre duas camadas de magma. Neste cenário, gases voláteis, como água e carbono, podem evaporar da superfície. Sem uma atmosfera, esses gases se dissipariam no espaço. Contudo, sob a camada de rocha sólida, muitos desses elementos permanecem aprisionados, podendo eventualmente encontrar seu caminho de volta à superfície à medida que o planeta continua a esfriar.

Os resultados das simulações são impressionantes. Um planeta com quatro vezes a massa da Terra poderia armazenar mais de 130 vezes a quantidade de água da Terra em seu manto, juntamente com cerca de 1.000 vezes a quantidade de carbono. Estes são recursos substanciais que, sob as condições certas, poderiam sustentar a vida no futuro.

Em conclusão, embora os mundos de lava estejam atualmente longe de serem considerados habitáveis, é essencial compreender os processos que podem eventualmente torná-los assim. A pesquisa de Boley e sua equipe na Universidade Estadual de Ohio destaca a importância de expandir nossa compreensão sobre a diversidade planetária e as vastas possibilidades de vida além da Terra. Estes estudos, ao desafiar nossas noções preconcebidas, reforçam a ideia de que o universo é um lugar de infinitas maravilhas e potenciais descobertas.

Fonte:

https://www.inverse.com/science/lava-worlds-exoplanet-super-earth-habitability

Sérgio Sacani

Formado em geofísica pelo IAG da USP, mestre em engenharia do petróleo pela UNICAMP e doutor em geociências pela UNICAMP. Sérgio está à frente do Space Today, o maior canal de notícias sobre astronomia do Brasil.

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