Canais de rios secos em Marte são algumas das melhores evidências de que a água algum dia fluiu na superfície do planeta vermelho, porém novas análises de um canal que até então se pensava que tivesse sido formado pela água mostram que de fato ele era formado por lava. Essa descoberta coloca em questão a origem de muitos outros canais em Marte.
A água deixa traços marcantes nos canais que ela forma. Canais entrelaçados, aterros, ilhas, distributários e curvas meandrantes são todas assinaturas de fluxos de água. Contudo a lava também pode criar estruturas surpreendentemente similares, como o canal próximo a Mauna Loa no Havaí que entrou em erupção em 1859. Esse canal possui uma ilha com 1 km de comprimento no meio do canal, provando que nós não devemos assumir que todos os canais são formados pela água.
Colocando essa hipótese em teste, cientistas da NASA liderados pelo Dr. Jacob Bleacher do Goddard Space Flight Center, estudaram uma seção de 270 km de comprimento de uma estrutura que se assemelha a um canal esculpido pela água localizado no flanco sudoeste do Monte Ascraeus uma das três torres da cadeia de vulcões Tharsis, que se eleva a 18 km de altura. Com imagens feitas por um verdadeiro arsenal de instrumentos a bordo das mais modernas sondas ao redor de Marte atualmente (câmera termal THEMIS da Mars Odyssey, Context Imager da Mars Reconnaissance Orbiter, High/super Resolution Stereo Colour Imager da Mars Express e o Altimetro Laser da Mars Orbiter ), Bleacher anunciou na 41º Lunar and Planetary Science conference (LPSC), que esse canal em particular foi formado por lava ao invés de água.
O canal apresenta realmente todas as assinaturas de como teria sido moldado pela água – aterros, ilhas e partes entrelaçadas – mas os mais importantes sinais indicam que ele foi formado por lava, até mesmo no ponto em que a morfologia do canal se assemelha a um tubo de lava, com aberturas por onde a lava é forçada a sair. Se a água tivesse sido parte integral da formação do canal existiriam minerais de argila e sulfatos carregados pelo fluxo da água, mas de acordo com Bleacher, os vulcões Tharsis agem como uma potente armadilha de poeira, literalmente cobrindo qualquer evidência de minerais hidratados.
Nem existe qualquer sinal de que a água e lava pudessem ter se misturado, por exemplo, na Terra, crateras formadas por explosão de vulcão são buracos escarpados dos lados em um terreno formado a partir de explosões originadas a medida que a água entra em contato com o magma, mas nenhum tipo dessa cratera foi encontrado no Monte Ascraeus. De fato, quando se considera a explicação vulcânica, parece que existe pouca evidência para a presença de água.
“Se o gelo foi derretido produzindo um derramamento anterior a erupção de lava nós esperaríamos ver evidências desse canal fluvial pré-existente sendo modificado ou preenchido por um fluxo de lava subseqüente, o que não foi identificado em toda a extensão da feição”, diz Bleacher. “Devido ao fato de metade das morfologias que nós identificamos somente serem vistas em canais vulcânicos e as outras feições que podem formar tanto canais vulcânicos como canais fluviais serem mais parecidas com feições de origem vulcânica, concluímos ser esse canal vulcânico e não fluvial”.
Claramente isso poderia ter implicações importantes para o nosso entendimento do passado climático de Marte caso esses canais fossem originados pela água e não tendo origem vulcânica. Bleacher certamente não irá reagir se alguns, se não muitos, canais em Marte forem criados pela água, para isso evidências subsidiárias como a presença de minerais hidratados, junto com feições típicas como mudanças abruptas na inclinação do canal e quedas de água em escada, denominadas de cataratas, isso já ocorre no planeta vermelho, mas não na região do Monte Ascraeus. Contudo isso indica que é necessária uma análise detalhada antes de determinar a origem de qualquer canal ao redor de um grande vulcão marciano, dada a semelhança entre as feições.
Em outro ponto do planeta Marte, imagens em alta resolução feitas pelo HiRISE a bordo da sonda Mars Reconnaissance Orbiterda NASA mostrou uma surpreendente inconsistência com o movimento das ondas de areia em grandes campos de dunas. No LPSC, Simone Silvestro da International Research School of Planetary Society na Universidade G d’Annunzio, na Itália, revelou que imagens de ondas nas dunas negras da região de Nili Patera em Marte, feitas em 2007, indicam que as ondas migraram sete metros e que as formas das bordas das dunas se alteraram com o tempo.
Contudo, em um Segundo estudo também anunciado na LPSC, Matthew Golombek do Jet Propulsion Laboratory da NASA encontrou que ondas ao redor das cratera na região de Meridiani Planum têm se mantido estacionárias por no mínimo 100000 anos. “As imagens do HiRISE são tão boas que você pode dizer se uma cratera é mais jovem do que migração da onda”, disse Golombek. “Existem idades de crateras suficientes que nós podemos definir a idade das mais recentes migrações de ondas nessa área a mais de 100000 anos e provavelmente menos de 300000 anos”.
Por que devem ser diferentes as ondas da região do Meridiani Planum no hemisfério sul de Marte das ondas da região de Nili Patera na porção norte do planeta? Nós sabemos que ventos ainda estão soprando na região de Meridiani Planum, por essa razão tem se observado poeira sendo soprando as pegadas deixadas pela sonda Opportunity. Contudo a Opportunity tem também descoberto pequenos seixos de hematita com apenas um ou três milímetros de diâmetro, denominados de “blueberries” na região de Meridiani Planum, que se formaram água líquida no passado. Apesar de seu tamanho reduzido, Golombek especula que eles podem ainda assim serem muito pesados para serem deslocados pelos fracos ventos na fina atmosfera. “Os blueberries parecem formar uma camada que blinda, protegendo assim os grãos de areia menores do vento embaixo deles”, diz o pesquisador.
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