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Japão Pode Estender Missão Hayabusa2 Para Visitar Um Segundo Asteroide

A missão Hayabusa2 do Japão está a caminho de casa já desde que partiu do asteroide Ryugu, e está trazendo uma entrega muito especial para todos nós, amostras do asteroide, porém, a Terra, pode não ser o destino final da sonda.

A JAXA que está executando a missão, está avaliando uma segunda parada para a sua sonda exploradora de rochas espaciais. Essa extensão de missão, que poderia durar mais de 10 anos, poderia levar a sonda Hayabusa2 para a órbita de outro asteroide.

A oportunidade para estender a missão surgiu da combinação de 2 fatores: o motor da sonda ainda tem cerca de metade do combustível e ela não precisa pousar na Terra para completar a sua missão. A sonda principal irá enviar para a Terra uma pequena cápsula onde está contida a amostra, e essa cápsula, se tudo correr bem, chega na Terra, no dia 6 de dezembro de 2020, pousando no Deserto Outback da Austrália.

Quando os engenheiros da JAXA analisaram os números, eles perceberam que a sonda principal da Hayabusa2 poderia enviar essa pequena cápsula para a Terra e ainda sim, poderia cumprir novas aventuras. A sonda precisaria permanecer dentro do Sistema Solar interno para poder pegar energia solar suficiente, mas a equipe calcula que a sonda ainda tem combustível suficiente para visitar um dos 354 destinos candidatos, entre eles, Vênus, Marte, cometas próximos e alguns outros asteroides.

Mas os oficiais da missão já reduziram esse número inicial para 2 candidatos, são duas pequenas rochas espaciais que não possuem nome ainda. Esses objetos são Near-Earth Objects, ou NEOs, como o próprio Ryugu, mas eles possuem apenas 1 décimo da largura do Ryugu.

Apesar do tamanho reduzido, ambos os candidatos são cientificamente interessantes, de acordo com a JAXA, e a Hayabusa2 seria capaz de entrar na órbita de qualquer um deles, ao invés de simplesmente sobrevoar os objetos, fazendo com que esses pequenos asteroides fiquem ainda mais interessantes.

Tudo isso, obviamente depende da saúde da sonda que demoraria um tempo para poder chegar nesses objetos. A Hayabusa2 foi desenhada para uma missão inicial de 6 anos, e não para uma década extra vagando pelo espaço. Mas para a JAXA, existe pouco risco em tentar essa missão, basicamente seria o custo somente de manter o pessoal que controla e opera a missão.

Em qualquer um dos dois finalistas, a Hayabusa2 necessitaria de uma longa jornada, e não usaria somente o seu combustível, mas também iria fazer uso do estilingue gravitacional sobrevoando a Terra, Vênus, ou outro asteroide, para que a sonda fosse então enviada para o seu destino. Dependendo do objeto escolhido ela só chegaria lá em 2029 ou 2031.

De acordo com o JAXA essas seriam as melhores opções, e antes que alguém pergunte, não existe nenhum outro alvo que a sonda poderia atingir em menos de 5 anos.

Mas isso não quer dizer que a sonda ficaria hibernando todo esse tempo, durante a viagem ela poderia muito bem estudar a chamada luz zodiacal que é a luz refletida na poeira interplanetária e também procurar exoplanetas. Ela poderia estudar a Lua durante as manobras de assistência gravitacional e, dependendo do destino final, a sonda também poderia passar por Vênus e por outro asteroide, criando assim, mais uma oportunidade para estudar o Sistema Solar.

Depois de toda essa jornada a sonda então poderia chegar a um dos dois finalistas. Os dois são os asteroides chamados de 2001 AV43 e o 1998 KY25. Ambos são NEOs, como o Ryugu e o Bennu, e cada um desses objetos orbita o Sol a cada 500 dias aproximadamente.

Ambos os asteroides possuem características intrigantes, de acordo com a avaliação da JAXA. Ambos são pequenos possuem entre 30 e 40 metros de diâmetro, e ambos giram rapidamente, completando uma rotação a cada 10 minutos. Os cientistas até agora nunca conseguiram olhar de perto um desses objetos que giram muito rápido, o que é uma característica muito interessante, pois a força criada pela rotação seria até mesmo maior que a própria gravidade do objeto.

Além disso, os cientistas querem saber se essas duas rochas espaciais são objetos sólidos, ou se são as chamadas pilhas de detritos, como o próprio Ryugu, que são objetos formados por detritos que colidem e se aglutinam.

Os dois possíveis alvos não são idênticos. O 2001 AV43 parece ser um pouco alongado e pode ser feito de uma mistura de materiais rochosos e de metal, uma receita pouco comum para asteroides. E o 1998 KY26, por outro lado, é mais arredondado e provavelmente é um tipo de asteroide rico em carbono, a classe mais comum dos asteroides, a mesma categoria do Ryugu e do Bennu.

A Hayabusa2 poderia atingir o 2001 AV43 em novembro de 2029, e poderia chegar no 1998 KY26 em julho de 2031.

Como toda missão de asteroides, a potencial segunda parada da Hayabusa2 tem que buscar um equilíbrio de dois diferentes objetivos. Os cientistas querem estudar essas rochas para poder aprender sobre o Sistema Solar. Mas também existe um grau de conhecimento para nos proteger, os NEOs podem chegar a chocar com a Terra e causar até mesmo danos sérios, mas a nossa atmosfera nos protege da maioria deles.

Embora os asteroides variam muito em tamanho, esses dois alvos potenciais são muito pequenos para causar um grande desastre, mas essas rochas podem causar danos locais, e aproximadamente uma vez por século, um objeto desse tamanho se choca com a Terra, de acordo com a JAXA.

O último grande impacto recente de um objeto com a Terra, o asteroide que explodiu sobre Chelyabinsk na Rússia, tem cerca de metade do tamanho desses novos possíveis alvos da Hayabusa2, e provavelmente o mesmo tamanho do asteroide que se chocou com a Terra em 1908 no evento de Tunguska. Quanto mais os cientistas aprendem sobre esses objetos no seu ambiente natural, nós, seres humanos podemos nos preparar da melhor forma para nos defender desses objetos.

A JAXA irá decidir qual alvo é mais promissor em alguns meses e então será feito um estudo de orçamento para determinar se a missão irá ou não visitar outro alvo na sua jornada pelo Sistema Solar.

Fonte:

http://www.hayabusa2.jaxa.jp/en/topics/20200803_exm/

Sérgio Sacani

Formado em geofísica pelo IAG da USP, mestre em engenharia do petróleo pela UNICAMP e doutor em geociências pela UNICAMP. Sérgio está à frente do Space Today, o maior canal de notícias sobre astronomia do Brasil.

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