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James Webb Revela Detalhes Sobre O Gelo Interestelar

Recentemente, uma equipe de pesquisadores, incluindo Paola Caselli, Barbara Michela Giuliano e Basile Husquinet do Instituto Max Planck de Física Extraterrestre (MPE), fez uma descoberta notável utilizando o Telescópio Espacial James Webb (JWST). A pesquisa, focada na região de Chamaeleon I, revelou detalhes inéditos sobre o gelo interestelar, que até então eram inobserváveis. Esta descoberta não só amplia nosso entendimento sobre a estrutura dos grãos de gelo, mas também lança luz sobre os processos fundamentais que governam a formação de planetas.

O JWST, com sua sensibilidade sem precedentes, permitiu que os pesquisadores sondassem profundamente os núcleos densos das nuvens interestelares, onde a extinção é tão alta que observatórios anteriores não conseguiam penetrar. A região de Chamaeleon I, uma densa nuvem localizada relativamente próxima a nós na Via Láctea, foi o foco desta investigação. Utilizando o instrumento NIRCam do JWST, a equipe conseguiu medir linhas espectroscópicas em direção a centenas de estrelas situadas atrás da nuvem.

Entre as descobertas mais significativas está a detecção de características espectroscópicas fracas conhecidas como ‘dangling OH’. Estas características indicam que as moléculas de água não estão totalmente ligadas no gelo, sugerindo a presença de grãos de gelo porosos e modificados. Esta descoberta é crucial, pois os grãos de gelo desempenham um papel fundamental na formação de planetas, servindo como blocos de construção primordiais nos discos protoplanetários que circundam estrelas recém-formadas.

A equipe de pesquisa, composta por especialistas de renome como Caselli, Giuliano e Husquinet, utilizou a capacidade do JWST para observar regiões do espectro que são inacessíveis a partir da Terra. Isso permitiu a detecção de bandas espectroscópicas muito fracas, que até agora só haviam sido medidas em laboratórios. A identificação dessas bandas, denominadas ‘dangling OH’ por astrofísicos de laboratório, é um marco significativo na astrofísica, pois fornece novas pistas sobre a estrutura e a evolução dos grãos de gelo interestelar.

Este estudo representa um avanço importante na nossa compreensão dos processos que ocorrem nas nuvens moleculares densas e nos discos protoplanetários. Ao desvendar os detalhes da estrutura do gelo interestelar, os cientistas podem agora investigar como esses grãos evoluem e se agregam para formar planetesimais e, eventualmente, planetas. A descoberta das características ‘dangling OH’ abre uma nova janela para o estudo da formação planetária, permitindo que os pesquisadores rastreiem a distribuição espacial e a variação dos gelos ao longo do tempo.

Em suma, a pesquisa conduzida na região de Chamaeleon I utilizando o JWST não só revela novos detalhes sobre o gelo interestelar, mas também proporciona uma compreensão mais profunda dos processos que levam à formação de planetas. Esta descoberta destaca a importância do JWST e da colaboração internacional na exploração dos mistérios do universo.

Para desvendar os mistérios dos grãos de gelo interestelar, a equipe de pesquisadores utilizou o Telescópio Espacial James Webb (JWST), especificamente sua câmera de infravermelho próximo, a NIRCam. Este instrumento é crucial para a observação de regiões densas e escuras do espaço, como a nuvem molecular Chamaeleon I, onde a extinção da luz é tão alta que as observações anteriores foram incapazes de penetrar. A NIRCam permite a medição de linhas espectroscópicas em direção a centenas de estrelas situadas atrás da nuvem, capturando a interação da luz estelar com os grãos de gelo interestelar ao atravessar a nuvem.

A metodologia envolveu a realização de medições espectroscópicas simultâneas, que permitiram a detecção de características espectroscópicas fracas, anteriormente inobserváveis. Entre essas características, destaca-se a detecção das chamadas bandas ‘dangling OH’, que são indicativas de moléculas de água que não estão completamente ligadas no gelo. Essas bandas espectroscópicas são extremamente fracas e situam-se em uma região espectral inacessível a partir do solo, tornando o JWST uma ferramenta indispensável para essa descoberta.

O processo de observação começou com a escolha das linhas de visão através da nuvem Chamaeleon I, uma região densa e próxima na Via Láctea. A luz emitida pelas estrelas de fundo interage com os grãos de gelo ao atravessar a nuvem, e essa interação é capturada pelo grande espelho do JWST. Até então, as observações eram limitadas às principais características de absorção, associadas às espécies dominantes no gelo, como água, dióxido de carbono, monóxido de carbono, metanol e amônia. No entanto, a sensibilidade sem precedentes do JWST permitiu a detecção de características muito mais fracas.

As bandas ‘dangling OH’ foram identificadas através de estudos detalhados das posições e perfis dessas características espectroscópicas fracas. Essas bandas correspondem a uma pequena fração das moléculas de água no gelo, que não estão completamente ligadas aos seus vizinhos. A detecção dessas bandas oferece uma nova maneira de rastrear as superfícies e interfaces dentro dos grãos de gelo, bem como a mistura íntima da água com outras espécies moleculares no gelo.

Essa descoberta marca um avanço significativo, pois as bandas ‘dangling OH’ foram procuradas ativamente desde a década de 1990, mas as observações anteriores não possuíam a combinação necessária de resolução espectral e sensibilidade para detectá-las. Com o JWST, agora é possível usar essas assinaturas para rastrear a modificação dos grãos de gelo ao longo do processo de formação planetária, oferecendo novas perspectivas sobre a porosidade dos grãos e sua evolução sob diferentes condições.

As observações realizadas com o Telescópio Espacial James Webb (JWST) revelaram detalhes inéditos sobre as ligações de hidroxila (OH) em grãos de gelo interestelar, especificamente na região de Chamaeleon I. A equipe de pesquisadores, incluindo Paola Caselli, Barbara Michela Giuliano e Basile Husquinet, identificou três ambientes distintos de ligação de OH, cada um associado a diferentes características espectroscópicas.

O primeiro ambiente corresponde a moléculas de H2O completamente ligadas a outras moléculas de H2O no gelo, gerando uma intensa absorção em aproximadamente 3 μm. Este cenário representa a estrutura mais comum e estável do gelo interestelar. No entanto, os ambientes dois e três, que apresentam as características espectroscópicas conhecidas como ‘dangling OH’, são particularmente intrigantes. No segundo ambiente, as moléculas de H2O não estão completamente ligadas às moléculas vizinhas, resultando em uma absorção em 2.703 μm. Já no terceiro ambiente, as moléculas de H2O interagem com outras espécies moleculares no gelo, gerando uma absorção em 2.753 μm.

Essas características ‘dangling OH’ são de extrema importância, pois indicam a presença de moléculas de água que não estão completamente integradas na matriz de gelo, sugerindo uma estrutura porosa ou a presença de interfaces dentro dos grãos de gelo. A detecção dessas características, que foi impossível com observatórios anteriores devido à falta de sensibilidade e resolução espectral, agora é possível graças ao JWST. Este avanço permite uma análise detalhada das condições físicas e químicas dos grãos de gelo interestelar.

Além disso, a presença ou ausência dessas características pode ser utilizada para inferir a porosidade dos grãos de gelo. Grãos ‘fluffy’ com alta porosidade exibem essas características, enquanto grãos mais compactos e agregados não as apresentam. Embora essa interpretação ainda esteja em debate, a detecção bem-sucedida das características ‘dangling OH’ abre novas possibilidades para estudar a evolução dos grãos de gelo em diferentes ambientes e fases do processo de formação estelar.

Comparadas com observações anteriores, estas descobertas representam um salto significativo na nossa compreensão da estrutura do gelo interestelar. Anteriormente, apenas as características de absorção mais intensas, associadas às principais espécies no gelo, como água, dióxido de carbono, monóxido de carbono, metanol e amônia, podiam ser medidas. Agora, com a capacidade de detectar características espectroscópicas mais fracas, podemos obter informações mais detalhadas sobre a composição e a evolução dos grãos de gelo.

A evolução dos grãos de gelo desde as nuvens moleculares até os discos protoplanetários também é um processo chave para a formação de planetas. À medida que os grãos se movem e se agregam, suas propriedades físicas e químicas mudam. A detecção de ‘dangling OH’ permite rastrear essas mudanças e entender melhor como os grãos de gelo se transformam ao longo do tempo. Por exemplo, a presença ou ausência dessas características espectroscópicas pode indicar se os grãos estão se tornando mais compactos ou permanecendo porosos à medida que se aproximam do disco protoplanetário.

Além disso, a capacidade de detectar essas características fracas com o JWST abre novas possibilidades para estudar diferentes ambientes e fases do processo de formação estelar. Isso permitirá aos cientistas comparar as propriedades dos grãos de gelo em várias regiões e em diferentes estágios de evolução, fornecendo uma imagem mais completa de como os planetas se formam e evoluem.

As descobertas destacam a importância da astrofísica laboratorial para interpretar os dados obtidos pelo JWST. Conforme mencionado por Barbara Michela Giuliano, a colaboração entre observações astronômicas e experimentos de laboratório é crucial para desvendar as propriedades físicas dos gelos observados em regiões densas do meio interestelar e dos discos protoplanetários. Essa sinergia permite uma compreensão mais detalhada da composição química e da estrutura física desses gelos, fornecendo restrições rigorosas aos modelos químicos e dinâmicos necessários para reconstruir a história astroquímica desde as nuvens interestelares até os sistemas estelares como o nosso.

Este estudo não apenas avança nossa compreensão dos processos que ocorrem nas regiões mais densas das nuvens moleculares, mas também estabelece uma base sólida para futuras pesquisas. Com o JWST, estamos apenas começando a explorar a complexidade dos gelos interestelares e suas implicações para a formação de planetas. À medida que continuamos a investigar essas características em diferentes ambientes e momentos do processo de formação estelar, podemos esperar descobertas ainda mais reveladoras que aprofundarão nosso conhecimento sobre a origem e evolução dos sistemas planetários.

Fonte:

https://www.mpe.mpg.de/8024042/news20240704

Sérgio Sacani

Formado em geofísica pelo IAG da USP, mestre em engenharia do petróleo pela UNICAMP e doutor em geociências pela UNICAMP. Sérgio está à frente do Space Today, o maior canal de notícias sobre astronomia do Brasil.

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