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21 de dezembro de 2024

James Webb Mostra Como Buracos Negros Podem Matar Suas Galáxias De Fome

No vasto e enigmático universo, as galáxias desempenham o papel de berçários cósmicos, onde a formação estelar é um processo contínuo que dá origem a novas estrelas e sistemas planetários. No entanto, algumas galáxias, conhecidas como “galáxias mortas”, cessam abruptamente a formação de novas estrelas, tornando-se objetos de intenso estudo e fascínio para astrônomos e astrofísicos. O fenômeno de galáxias mortas levanta questões fundamentais sobre a evolução galáctica e os mecanismos subjacentes que podem interromper tão drasticamente a criação de estrelas.

Um dos principais suspeitos na investigação sobre a morte estelar das galáxias é o buraco negro supermassivo, uma entidade cósmica de densidade inimaginável que reside no coração de quase todas as grandes galáxias. A interação entre esses buracos negros e suas galáxias hospedeiras pode ser comparada a uma dança cósmica, onde a energia e a matéria são trocadas em escalas colossais. Compreender essa interação é crucial para desvendar os mistérios da evolução galáctica e a dinâmica do universo em larga escala.

Recentemente, uma equipe internacional de astrônomos, co-liderada pela Universidade de Cambridge, utilizou o Telescópio Espacial James Webb da NASA/ESA para investigar essa complexa relação. O James Webb, com sua capacidade sem precedentes de observar o universo em comprimentos de onda infravermelhos, oferece uma nova janela para o estudo das galáxias nos estágios iniciais do universo. Sua sensibilidade superior permite a detecção de fenômenos que antes eram invisíveis aos nossos olhos, proporcionando insights valiosos sobre a natureza das galáxias mortas.

A pesquisa focou-se em uma galáxia do início do universo, aproximadamente dois bilhões de anos após o Big Bang, conhecida oficialmente como GS-10578, mas apelidada de ‘Galáxia de Pablo’. Esta galáxia, semelhante em tamanho à Via Láctea, foi observada em um estado “extinto”, com uma formação estelar significativamente reduzida. A investigação buscou confirmar a hipótese de que o buraco negro supermassivo no centro da galáxia estava de fato privando-a do combustível necessário para a formação de novas estrelas.

O estudo da ‘Galáxia de Pablo’ não é apenas uma exploração de um fenômeno isolado, mas uma peça crucial no quebra-cabeça da evolução cósmica. Ao desvendar os processos que levam à morte estelar de galáxias, os cientistas esperam obter uma compreensão mais profunda da história do universo e dos mecanismos que moldam as estruturas cósmicas. Assim, a pesquisa com o Telescópio Espacial James Webb marca um avanço significativo na astrofísica, prometendo revelar os segredos ocultos das galáxias mortas e sua relação com os buracos negros supermassivos.

O Telescópio Espacial James Webb, uma colaboração entre a NASA e a ESA, tem se mostrado uma ferramenta revolucionária na exploração do cosmos, permitindo aos astrônomos observar fenômenos que antes eram apenas teóricos ou parcialmente compreendidos. Um exemplo notável disso é a observação da galáxia GS-10578, carinhosamente apelidada de ‘Galáxia de Pablo’, em homenagem ao pesquisador que escolheu estudá-la em detalhe. Esta galáxia, localizada no universo primitivo, aproximadamente dois bilhões de anos após o Big Bang, apresenta características intrigantes que desafiam nosso entendimento sobre a formação e evolução galáctica.

Com o auxílio do Webb, os astrônomos puderam confirmar que esta galáxia, apesar de sua massa comparável à da Via Láctea, está em um estado de ‘quiescência’, ou seja, praticamente não está formando novas estrelas. Este estado peculiar levanta questões sobre os processos que levaram a tal condição em um período tão inicial do universo. A observação revelou que a galáxia está expelindo enormes quantidades de gás a velocidades impressionantes, cerca de 1.000 quilômetros por segundo, suficientemente rápidas para superar a atração gravitacional da galáxia. Este fenômeno é impulsionado pelo buraco negro supermassivo em seu centro, que atua como uma força destrutiva, expulsando o gás necessário para a formação de novas estrelas.

Uma das descobertas mais significativas feitas pelo Webb foi a identificação de um novo componente de vento galáctico, composto por gás mais frio e denso, que não emite luz visível. Este gás, invisível a telescópios anteriores, foi detectado graças à sensibilidade superior do Webb, que consegue perceber a presença dessas nuvens escuras ao observar a maneira como bloqueiam a luz da galáxia ao fundo. Esta capacidade de detectar gás frio e denso é crucial, pois fornece evidências diretas de como o buraco negro está efetivamente ‘sufocando’ a galáxia, privando-a do material necessário para a formação estelar contínua.

Essas observações não apenas confirmam teorias anteriores sobre o impacto dos buracos negros na evolução galáctica, mas também abrem novas avenidas para a pesquisa. A capacidade do Webb de observar detalhes tão finos em galáxias distantes representa um salto significativo em nossa compreensão do universo primitivo. Com essas descobertas, os cientistas podem agora investigar mais profundamente os mecanismos pelos quais os buracos negros influenciam suas galáxias hospedeiras, oferecendo novas perspectivas sobre a evolução cósmica.

Os buracos negros supermassivos, localizados no coração de muitas galáxias, desempenham um papel crucial e multifacetado na evolução galáctica, particularmente na formação estelar. A recente descoberta, facilitada pelo Telescópio Espacial James Webb, de que um buraco negro pode efetivamente “matar” sua galáxia hospedeira ao privá-la de material necessário para a formação de novas estrelas, lança luz sobre um fenômeno que, até então, era amplamente teórico. Esta descoberta desafia e, ao mesmo tempo, valida modelos teóricos que sugeriam que os buracos negros poderiam ter um impacto tão profundo nas suas galáxias hospedeiras.

Os ventos de gás detectados na galáxia GS-10578, ou ‘Galáxia de Pablo’, são expelidos a velocidades impressionantes de cerca de 1.000 quilômetros por segundo, uma velocidade suficiente para superar a atração gravitacional da galáxia. Este fenômeno impede que o gás, que é o combustível primordial para a formação estelar, se condense e forme novas estrelas. A presença de ventos de gás mais frio e denso, que não emitem luz, mas foram detectados pelo Webb devido à sua capacidade de bloquear a luz de fundo, é particularmente reveladora. Isso indica que o buraco negro está expulsando não apenas gás quente, mas também componentes mais frios e densos, essenciais para a formação de estrelas.

Esta observação é significativa porque sugere que os buracos negros supermassivos podem regular a taxa de formação estelar em suas galáxias hospedeiras, um processo conhecido como feedback de buraco negro. Este feedback pode ser responsável por manter as galáxias em um estado “adormecido”, onde a formação de estrelas é significativamente reduzida ou completamente interrompida. Anteriormente, acreditava-se que o feedback de buraco negro poderia ser um processo violento que destruiria a estrutura galáctica, mas as observações da ‘Galáxia de Pablo’ mostram que a galáxia mantém uma estrutura ordenada, sugerindo que o feedback pode ser um processo mais suave do que se pensava.

As implicações desta descoberta são vastas. Elas não apenas fornecem evidências diretas de que os buracos negros podem suprimir a formação estelar, mas também ajudam a refinar os modelos teóricos de evolução galáctica. Além disso, a continuidade da pesquisa com o Atacama Large Millimeter-Submillimeter Array (ALMA) permitirá uma investigação mais detalhada dos componentes de gás mais frios e escuros, oferecendo uma visão ainda mais profunda sobre como os buracos negros influenciam suas galáxias hospedeiras. Este estudo é um passo significativo para entender a complexa dança cósmica entre buracos negros e a evolução galáctica.

A recente descoberta de que buracos negros supermassivos podem efetivamente “matar” suas galáxias hospedeiras ao privá-las do gás necessário para a formação estelar tem implicações profundas e abrangentes para nossa compreensão do universo. Esta pesquisa não apenas desafia algumas das suposições anteriores sobre a evolução galáctica, mas também oferece novas perspectivas sobre como as galáxias se desenvolvem e interagem com seus ambientes ao longo do tempo cósmico.

Em um nível mais amplo, a capacidade dos buracos negros de influenciar a formação estelar sugere que eles desempenham um papel mais ativo na evolução do universo do que se pensava anteriormente. Tradicionalmente vistos como objetos passivos que simplesmente consomem matéria, os buracos negros agora são reconhecidos como agentes dinâmicos que podem moldar a estrutura e o destino de suas galáxias hospedeiras. Esta nova compreensão pode levar a revisões significativas nos modelos cosmológicos que descrevem a formação e evolução das estruturas no universo.

Além disso, a descoberta destaca a importância da tecnologia avançada na exploração do cosmos. O Telescópio Espacial James Webb, com sua capacidade de detectar componentes de gás frio e denso que escapam à observação por telescópios anteriores, representa um salto gigantesco em nossa capacidade de estudar o universo primitivo. Este tipo de tecnologia não apenas amplia nosso conhecimento atual, mas também abre novas fronteiras para futuras investigações científicas.

As implicações desta pesquisa também se estendem à compreensão da dinâmica galáctica. Ao revelar que os buracos negros podem interromper a formação estelar sem destruir a estrutura ordenada das galáxias, o estudo sugere que os processos que governam a evolução galáctica são mais complexos do que se imaginava. Isso pode levar a novas teorias sobre a interação entre buracos negros e suas galáxias hospedeiras, bem como sobre a formação de galáxias “mortas” no universo primitivo.

Finalmente, esta pesquisa sublinha a importância contínua da colaboração internacional em astrofísica. Com o apoio de organizações como a Royal Society e a União Europeia, os cientistas podem utilizar recursos e conhecimentos compartilhados para desvendar os mistérios do universo. À medida que continuamos a explorar o cosmos, descobertas como esta não apenas enriquecem nosso conhecimento científico, mas também inspiram uma nova geração de pesquisadores a buscar respostas para as perguntas mais fundamentais sobre a origem e o destino do universo.

Fonte:

https://www.cam.ac.uk/research/news/astronomers-detect-black-hole-starving-its-host-galaxy-to-death

Sérgio Sacani

Formado em geofísica pelo IAG da USP, mestre em engenharia do petróleo pela UNICAMP e doutor em geociências pela UNICAMP. Sérgio está à frente do Space Today, o maior canal de notícias sobre astronomia do Brasil.

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