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Impactos Poderosos Foram Gatilhos Para O Vulcanismo de Vênus

Um novo estudo lançou luz sobre os impactos de bolides de alta energia em Vênus, sugerindo que esses impactos podem ter criado um núcleo superaquecido e levado a um vulcanismo prolongado no planeta, resultando em sua aparência superficial mais jovem. Conduzido por pesquisadores da Universidade de Yale e do Southwest Research Institute, o estudo pode ter descoberto o segredo da aparência jovem de Vênus: um impulso rejuvenescedor de alta energia que recebeu em seus primeiros anos.

Ao contrário de planetas e luas próximos, como Marte e a lua da Terra, que carregam as cicatrizes e crateras do bombardeio de bolides ao longo de bilhões de anos, a superfície de Vênus permanece relativamente imaculada. A aparência da superfície da Terra, por outro lado, beneficia-se de seu sistema de tectônica de placas, que “recicla” a superfície do planeta regularmente. Vênus, no entanto, não possui tectônica de placas.

Apesar de ter cerca de 4,5 bilhões de anos, Vênus tem a aparência externa de um planeta muito mais jovem, com uma idade superficial de apenas 500 milhões de anos. “Esperaríamos que Vênus fosse fortemente craterado, mas surpreendentemente, é muito menos craterado do que a lua ou Marte”, disse Jun Korenaga, professor de Ciências da Terra e Planetárias na Faculdade de Artes e Ciências de Yale e coautor do estudo publicado na Nature Astronomy.

Muitos cientistas tentaram explicar essa idade superficial jovem de Vênus. Uma ideia popular é que Vênus costumava ter tectônica de placas, mas de alguma forma parou cerca de 500 milhões de anos atrás. Essa explicação é admitidamente ad hoc, então outros tentaram criar modelos fisicamente mais sólidos, com sucesso limitado.

Korenaga, trabalhando com o autor principal Simone Marchi e coautora Raluca Rufu do Southwest Research Institute em Boulder, Colorado, acredita ter resolvido o mistério. Em seu estudo, eles consideram a ideia de que Vênus sistematicamente experimentou impactos de bolides mais poderosos do que a Terra, particularmente nos primeiros anos do sistema solar, cerca de 4,5 bilhões de anos atrás. Durante esse período, Korenaga disse, a taxa e magnitude dos bombardeios de bolides eram bastante altas devido à abundância de material de construção planetário restante no espaço. Com o passar do tempo, a intensidade dos bombardeios diminuiu.

Terra e Vênus se formaram na mesma vizinhança do sistema solar, à medida que materiais sólidos colidiam entre si e gradualmente se combinavam para formar os dois planetas rochosos. As pequenas diferenças nas distâncias dos planetas em relação ao sol mudaram suas histórias de impacto, particularmente o número e o resultado desses eventos.

“Um dos mistérios do sistema solar interno é que, apesar de seu tamanho e densidade semelhantes, Terra e Vênus operam de maneiras marcadamente diferentes, afetando particularmente os processos que movem materiais através de um planeta”, disse Marchi.

Após executar simulações de impactos de bolides mais sistemáticos, os pesquisadores notaram uma tendência intrigante: mais impactos explodindo mais profundamente em Vênus levaram a um superaquecimento do núcleo do planeta. “Esse núcleo superaquecido poderia ter uma influência duradoura na história vulcânica de Vênus”, disse Korenaga. “Poderia continuar aquecendo o manto por alguns bilhões de anos, com atividade vulcânica suficiente para cobrir a maioria das crateras e reduzir a idade aparente da superfície para apenas algumas centenas de milhões de anos.”

Os pesquisadores observaram que duas próximas missões espaciais da NASA a Vênus – VERITAS e DAVINCI – bem como a missão europeia planejada EnVISION, devem fornecer novos dados de alta resolução sobre a história tectônica e de impacto de bolides de Vênus. “Poderemos testar várias previsões de nossa hipótese com base nesses dados”, disse Korenaga.

O estudo oferece uma nova perspectiva sobre a aparência da superfície de Vênus, desafiando explicações anteriores para o aspecto jovem do planeta. As descobertas podem ter implicações para a compreensão de outros planetas e destacam a complexidade da formação planetária. A pesquisa também sublinha a importância da tectônica de placas e o papel único dos impactos de bolides na modelagem da superfície de um planeta.

As características únicas de Vênus fornecem insights valiosos para a ciência planetária, e as próximas missões a Vênus são aguardadas com expectativa pela comunidade científica. Os novos dados provavelmente levarão a mais descobertas sobre Vênus, e o estudo representa uma colaboração entre diferentes instituições de pesquisa, contribuindo para uma compreensão mais ampla do sistema solar.

A pesquisa pode inspirar mais estudos sobre impactos planetários e abre novos caminhos para explorar os núcleos planetários. Também levanta questões sobre o papel do vulcanismo na evolução planetária e as conclusões do estudo podem ser validadas ou desafiadas pelas próximas missões. A pesquisa adiciona ao crescente corpo de conhecimento sobre Vênus, destacando a importância da colaboração interdisciplinar em ciência, e os insights do estudo podem ter aplicações além de Vênus.

O estudo é um passo significativo na compreensão das superfícies planetárias e prepara o terreno para futuras explorações e estudos de Vênus. A linguagem e metodologia científicas empregadas no estudo, incluindo simulações e análise histórica, refletem uma abordagem rigorosa e formal, alinhada com os padrões acadêmicos da pesquisa científica.

Fonte:

https://news.yale.edu/2023/07/20/what-keeps-venus-looking-so-young-powerful-jolt-early-perhaps

Sérgio Sacani

Formado em geofísica pelo IAG da USP, mestre em engenharia do petróleo pela UNICAMP e doutor em geociências pela UNICAMP. Sérgio está à frente do Space Today, o maior canal de notícias sobre astronomia do Brasil.

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