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23 de dezembro de 2024

VLT Obtém a Imagem Infravermelha Mais Detalhada da Nebulosa Carina

O Very Large Telescope do ESO captou a imagem no infravermelho mais detalhada conseguida até agora da Nebulosa Carina, uma maternidade estelar. Muitas estruturas previamente escondidas e espalhadas pela espetacular paisagem celeste de gás, poeira e estrelas jovens, são agora visíveis. Esta é uma das imagens mais extraordinárias obtidas pelo VLT.

No coração profundo da Via Láctea, a sul, encontra-se a maternidade estelar chamada Nebulosa Carina. Situa-se a cerca de 7500 anos-luz de distância da Terra na constelação Carina (a Quilha) [1]. Esta nuvem de gás e poeira brilhante é uma das incubadoras de estrelas de grande massa mais próximas da Terra, incluindo várias das estrelas mais brilhantes e de maior massa que se conhecem. Uma delas, a misteriosa e altamente instável Eta Carinae, foi a segunda estrela mais brilhante no céu durante vários anos, por volta de 1840 e irá provavelmente explodir como uma supernova num futuro próximo, em termos astronômicos. A Nebulosa Carina é um laboratório perfeito para estudarmos os nascimentos violentos e as vidas iniciais das estrelas.

Embora esta nebulosa seja espetacular em imagens no visível (eso0905), o certo é que muitos dos seus segredos se encontram escondidos por detrás de espessas nuvens de poeira. Para conseguir penetrar este véu, uma equipe de astrônomos europeus liderada por Thomas Preibisch (Observatório da Universidade, Munique, Alemanha), utilizou o VLT  e a sua câmara infravermelha HAWK-I [2].

Centenas de imagens individuais foram combinadas para criar esta imagem, que é o mosaico infravermelho mais detalhado já obtido para esta nebulosa, e também uma das melhores imagens jamais criadas pelo VLT. Mostra-nos não apenas as estrelas brilhantes de grande massa, mas também centenas de milhares de estrelas muito mais tênues [3], as quais não se conseguiam observar anteriormente. 

 

A ofuscante estrela Eta Carinae aparece na parte inferior esquerda da nova imagem. Encontra-se rodeada por nuvens de gás que brilham devido a intensa radiação ultravioleta. Por toda a imagem aparecem também muitos nós compactos escuros, que permanecem opacos mesmo no infravermelho. São casulos de poeira onde novas estrelas se encontram em formação.

Durante os últimos milhões de anos, esta região do céu formou um grande número de estrelas, tanto individuais como em aglomerados. O brilhante aglomerado de estrelas próximo do centro da imagem chama-se Trumpler 14. Embora este objeto possa ser observado perfeitamente no visível, nesta imagem infravermelha conseguem distinguir-se estrelas muito mais tênues. E do lado esquerdo da imagem, podemos observar uma pequena concentração  de estrelas amareladas. Este grupo foi visto pela primeira vez nestes novos dados do VLT: estas estrelas não podem ser observadas na luz visível. Este é apenas um dos muitos objetos novos revelados pela primeira vez neste panorama.

Notas

[1] Carina é a quilha do navio mitológico Argo, de Jasão e os Argonautas.

[2] No espaço, regiões com poeira absorvem e espalham mais a radiação azul de menor comprimento de onda do que a radiação vermelha de maior comprimento de onda. Este efeito explica também porque é que o pôr-de-sol na Terra geralmente é avermelhado, particularmente quando a atmosfera está carregada de poeira. Em algumas partes do céu, onde existe mais poeira, principalmente em regiões de formação estelar como é o caso da Nebulosa Carina, este efeito é tão forte que nenhuma radiação visível consegue passar. Os astrônomos superam este problema observando no infravermelho, com o auxílio de câmaras especiais tais como a HAWK-I montada no VLT do ESO ou o telescópio de rastreio infravermelho VISTA.

[3] Um dos objetivos principais dos astrônomos era a procura nesta região de estrelas muito mais tênues e de menor massa que o Sol. A imagem é igualmente suficientemente profunda para permitir a detecção de estrelas jovens anãs marrons.

Fonte:

http://www.eso.org/public/news/eso1208/

Sérgio Sacani

Formado em geofísica pelo IAG da USP, mestre em engenharia do petróleo pela UNICAMP e doutor em geociências pela UNICAMP. Sérgio está à frente do Space Today, o maior canal de notícias sobre astronomia do Brasil.

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