Cientistas usando a sonda Cassini da NASA em Saturno têm caçado uma nova classe de luas nos anéis do planeta, luas essas que criam buracos identificáveis em forma de hélice no material do anel. Isso marca a primeira vez que os cientistas conseguem perseguir a órbita de objetos individuais inseridos no disco de detritos que são os anéis de Saturno. Essa pesquisa dá aos cientistas uma oportunidade para viajar no tempo na história do nosso Sistema Solar para revelar pistas sobre os discos ao redor de outras estrelas no universo que são muito mais distantes que Saturno para serem estudados com precisão.
“Observar o movimento desses objetos nos discos nos fornece uma rara oportunidade de entender como os planetas se formaram e como eles interagiram com o disco de material ao redor do Sol, quando ele era jovem”, diz Carolyn Porco, chefe da equipe de imagens da Cassini com base no Space Science Institute em Boulder no colorado e co-autora do artigo. “Isso nos permite um breve olhar em como o sistema solar se tornou no que ele é hoje”.
Os cientistas da Cassini descobriram as feições em forma de hélice pela primeira vez em 2006 numa área agora conhecida como “cinturão de hélices”, localizada no meio do anel denso e mais externo de Saturno, conhecido como anel A. Os espaços identificados nos anéis foram criados por uma nova de pequenas luas, que são definidas como sendo menores que as luas tradicionais do planeta e maiores que as partículas que constituem os anéis, essas pequenas luas limpam os espaços imediatamente ao redor delas. Essas pequenas luas, estimadas em milhões não são grandes o suficiente para limpar sua passagem inteira ao redor de Saturno, como as luas Pan e Dafne.
O novo artigo, que tem como principal autor Matthew Tiscareno, um membro associado da equipe de imagens da Cassini baseado na Universidade de Cornell em Ithaca, N.Y., relata um novo grupo de luas maiores e mais raras em outra parte do anel A, mais distante ainda de Saturno. Com as feições em forma de hélice sendo centenas de vezes maiores do que as anteriormente descritas, esses novos objetos têm sido procurados por mais de quatro anos.
As feições em forma de hélice possuem milhares de quilômetros de comprimento e alguns quilômetros de largura. As luas que estão no meio dos anéis aparentemente levantam o material dos anéis aproximadamente a 0.5 km além do seu plano, para cima e para baixo, os anéis normalmente possuem uma espessura de 10 metros. A Cassini está muito longe para ver se as luas estão perturbando o material do anel ao seu redor, mas os cientistas estimam que essa perturbação seja de aproximadamente 1 km em diâmetro, devido ao tamanho das feições em forma de hélices que foram identificadas.
Tiscareno e seus colegas estimam que existam dezenas dessas hélices gigantes, e 11 delas já foram fotografadas mais de uma vez entre 2005 e 2009. Uma delas chamada de Bleriot, em homenagem ao famoso aviador Louis Bleriot, apareceu em mais de 100 imagens da Cassini e em uma imagem em ultravioleta.
“Os cientistas nunca perseguiram objetos em discos antes disso, no universo”. disse Tiscareno. “Todas as luas e planetas que conhecemos estão em uma órbita no espaço aberto. No cinturão de hélices, vimos algo que não tínhamos idéia se o que estávamos observando eram objetos individuais ou não. Com essa nova descoberta nós podemos agora continuar buscando esse tipo de satélite que se localiza dentro de discos por anos”.
Por mais de quatro anos, as hélices gigantes têm desviado suas órbitas, mas os cientistas ainda não sabem ao certo o que causou esse distúrbio em suas jornadas ao redor de Saturno. Sua passagem pode ser perturbada por pequenas partículas presentes nos anéis, ou responder a sua gravidade, além da força gravitacional das luas maiores localizadas fora dos anéis. Os cientistas continuarão monitorando as luas para ver se os discos governam essas mudanças, similar as interações que ocorrem em sistemas planetários jovens. Se isso acontecer, Tiscareno diz, que essas seriam as primeiras medidas diretas de tal fenômeno.
“As hélices nos dão uma inesperada idéia sobre os maiores objetos nos anéis”, disse Linda Spilker, cientista da missão Cassini. “Pelos próximos sete anos, a Cassini terá a oportunidade de observar a evolução desses objetos e entender porque suas órbitas sofrem alterações”.
Fonte:
http://www.nasa.gov/mission_pages/cassini/whycassini/cassini20100708.html