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22 de dezembro de 2024

Fato Científico do Ano (01) – Cientistas Encontram Fósseis da Maior Cobra que já Habitou o planeta Terra

Chegou o fim do ano, e com ele as tradicionais, 10 mais daquilo, 10 mais disso, os melhores, os piores, os mais bonitos, as mais lindas, os eventos marcantes. Como não poderia ser diferente na ciência também existem as listas e são muitas. Praticamente toda importante revista científica (Nature, Science, Discover, Scientific American, Cosmos, etc..) fazem a lista dos eventos científicos mais marcantes do ano.

Esse blog então resolveu que vai mostrar um item de cada lista, tentando completar os 10 eventos científicos mais marcantes de 2009, mas não em ordem, nem de importância, de acontecimento. Um evento que com certeza marcou o ano foi o achado de fósseis da maior cobra que já habitou a Terra. A importância desse fato tem muito haver com um dos temas mais discutidos e cogitados durante 2009, o aquecimento global e suas conseqüências. O achado desses fósseis pode dar uma nova luz sobre as mudanças climáticas, principalmente as que ocorreram próximo dos trópicos do planeta.

Os fósseis encontrados dão conta de uma cobra gigante com 13 metros de comprimentos que vivia na porção nordeste da Colômbia e que em comparação as gigantescas Pítons e Anacondas encontradas atualmente com seus 6.5 metros de comprimento podem ser consideradas cobras anãs. Os fósseis datam de 58 a 60 milhões de anos.

As cobras são seres interessantes que diferentemente dos seres humanos precisam muito da temperatura para poder alimentar o seu metabolismo, quanto maior a cobra mais quente deve ser o ambiente para que ela sobreviva. Com isso os pesquisadores estimaram que a região devesse possuir uma temperatura entre 30 e 34 graus centígrados em média, durante o ano. Atualmente essa teoria de ligar as cobras grandes à temperatura também é verdadeira visto que as maiores cobras do mundo vivem nas regiões tropicais da América do Sul e do sudeste asiático.

Os pesquisadores acharam fósseis relacionados com as vértebras de 28 cobras individuais, numa mina de carvão em Cerrejón. As estruturas vertebrais encontradas sugerem que a cobra poderia ser atualmente relacionada com cobras da família da Jiboia e Anaconda, numa família conhecida como “Boidae”, ou em inglês Boa, por esse motivo os pesquisadores decidiram nomear a cobra de Titanoboa Cerrejonensis, ou “a cobra Boidae de Cerrejón”. Comparando as formas e os tamanhos das vértebras com cobras que vivem atualmente os pesquisadores estimaram seu comprimento em 12.8 metros pesando 1135 Kg.

Com o tamanho definido para as cobras e com modelos matemáticos capazes de simular as condições ambientais da época, os pesquisadores puderam calcular a temperatura existente há 58 e 60 milhões de anos atrás num período denominado de Paleoceno. Com isso chegaram a uma temperatura média anual entre 30 e 34 graus Celsius, temperatura essa capaz de manter o metabolismo dessas cobras gigantescas. Essa temperatura se ajusta as estimativas anteriores para as temperaturas do Paleoceno que assumiam alta concentração de dióxido de carbono na atmosfera.

Esses modelos mostram que a diferença de temperatura entre os trópicos e as regiões de alta latitude durante o Paleoceno eram maiores do que hoje, mesmo sendo as altas latitudes mais quentes neste período. Esse modelo é conhecido como modelo de termostato que defende que as temperaturas tropicais vêm se mantendo estáveis e as demais partes do mundo vem esquentando.

O estudo das cobras gigantes marcou 2009 por vários motivos, primeiro por ter se encontrado uma cobra gigantesca que habitou a Terra a 60 milhões de anos atrás e em segundo lugar, mas não menos importante, pelo fato de ter contribuído para o entendimento do clima nessa época do planeta o que conseqüentemente ajuda os cientistas a entenderem as alterações climáticas de grande escala conhecendo sua causa e principalmente o seu efeito.

Impressão artística da Titanoboa Cerrejonensis
Comparação entre a vértebra de uma Anaconda moderna, esquerda (considerada a maior cobra do mundo) e a vértebra da Titanoboa, direita.

Sérgio Sacani

Formado em geofísica pelo IAG da USP, mestre em engenharia do petróleo pela UNICAMP e doutor em geociências pela UNICAMP. Sérgio está à frente do Space Today, o maior canal de notícias sobre astronomia do Brasil.

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