Sedimentos recolhidos numa amostra do fundo do mar podem abrigar ferro radioativo soprado por uma supernova distante a 2.2 milhões de anos atrás e que pode estar preservado numa bactéria fossilizada. Se confirmado, o ferro seria a primeira assinatura biológica de uma explosão estelar específica.
Shawn Bishop, um físico na Universidade Técnica de Munique na Alemanha, relataram os achados preliminares no dia 14 de Abril de 2013, no encontro da Sociedade Física Americana em Denver, no Colorado.
Em 2004, os cientistas relataram descobertas do isótopo ferro-60, que não se forma na Terra, em pedaço do assoalho oceânico do Oceano Pacífico. Eles calcularam quanto tempo esse isótopo radioativo tinha chegado na Terra usando a taxa de decaimento do mesmo ao longo do tempo. Eles concluíram então que esse isótopo havia se originado numa supernova na nossa vizinhança cósmica.
Bishop imaginou se ele poderia encontrar sinais dessa explosão em registros fósseis na Terra. Alguns candidatos naturais são certas espécies de bactérias que que reúnem o ferro de seu ambiente para criar cristais magnéticos com 100 nanômetros de largura, que os micróbios usam para se orientarem dentro do campo magnético da Terra, de modo que elas possam navegar em condições preferenciais. Essas bactérias magnetotáteis vivem nos sedimentos localizados no fundo do mar.
Assim Bishop e seus colegas adquiriram partes de uma amostra de sedimentos do Oceano Pacífico do leste equatorial, datadas entre 1.7 milhões e 3.3 milhões de anos. Eles obtiveram amostras de sedimentos de uma camada correspondendo a períodos separados por aproximadamente 100000 anos, e trataram essas amostras com uma técnica química que extraiu o ferro-60, mas não o ferro das fontes não biológicas, como o solo que formaram os continentes. Os cientistas então passaram as amostras por um espectrômetro de massa para ver se alguma parte do ferro-60 estava presente.
E estava. “Parece que tem algo ali”, disse Bishop aos repórteres no encontro de Denver. Os níveis de ferro-60 são minúsculos, mas o único lugar que eles parecem aparecer é em camadas datadas de aproximadamente 2.2 milhões de anos de vida. Esse sinal aparente do ferro-60, Bishop disse, poderia ser a parte remanescente das cadeias de magnetita (Fe3O4) formadas pelas bactérias no assoalho oceânico à medida que detritos radioativos da supernova eram derramados sobre elas desde a atmosfera depois que esses detritos cruzaram o espaço interestelar à velocidade da luz.
Ninguém está certo sobre qual estrela particular pode ter explodido, embora um artigo aponte que essa estrela possa ser uma associação estelar Scorpius-Centaurus a uma distância aproximada de 130 parsecs, ou 424 anos-luz do Sol.
“Eu estou realmente muito animado sobre isso”, disse Brian Thomas, um astrofísico na Universidade de Washburn em Topeka no Kansas, que não esteve envolvido no trabalho. “A coisa legal é que essa descoberta está diretamente ligada a um evento específico”.
“Para mim, filosoficamente falando, o charme é que isso está registrado num fóssil em nosso planeta”, disse Bishop. Ele e sua equipe estão agora trabalhando numa segunda amostra, também do Pacífico, para se ela também tem sinal do ferro-60.
Fonte:
http://www.nature.com/news/supernova-left-its-mark-in-ancient-bacteria-1.12797