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Explorando a Cratera Ptolemaeus na Lua

Embora seja rasa, não tenha raios ou um pico central a cratera Ptolemaeus na Lua é uma das crateras mais familiares aos astrônomos amadores. Uma razão é o seu tamanho, 153 km de largura e 2.4 km de profundidade, além disso ela está bem posicionada para que possa ser observada da Terra. Além disso, essa cratera possui algumas feições enigmáticas que são quase invisíveis.

Quando o Sol ilumina essa cratera de uma altura moderada, cratera brilhante e relativamente grande com 9 km de diâmetro, a Ptolemaeus A, e talvez três ou 4 crateras menores com alguns quilômetros de diâmetro são visíveis no interior da cratera mãe. Mas é quando o Sol está baixo, que o show realmente começa. Nessa condição especial de iluminação todos os “pires”, ou cavidades com diâmetros típicos entre 5 e 10 km se tornam visíveis. O maior e mais fácil de ver desses “pires”  é a Ptolemaeus B, com 18 km de diâmetro e localizada um pouco acimada A, além disso outra feição um pouco mais apagada e menor pode também ser observada ao sul da A. Outras feições um pouco mais óbvias podem ser observadas na porção sudoeste do interior e são muito belas de serem observadas nessas condições com o Sol baixo.

Com um pouco mais de uma hora de observação com o Sol avançando “pires” adicionais aparecem do nada e rapidamente desaparecem. O mestre em observar essas feições na Lua e principalmente na região da cratera Ptolemaeus deve ter sido H.P. Wilkins, um famoso cientista britânico que construiu mapas da Lua. Seus mapas de 1955 mostram duas dezenas de pires nessa região. Fica aqui o desafio para quem observa a região de quantos consegue ver.

Como essas são as principais feições nessa região da Lua, logo vem a questão, o que são esses pires que adornam a cratera Ptolemaeus? Uma ideia é de que esses pires sejam crateras  que foram cobertas por derramamentos de lava subsequentes. Essa hipótese parece ser a melhor pois existem evidências que alguns desses “pires” são na verdade estruturas definitivamente enterradas. Por exemplo, a leste da Ptolemaeus A existe uma apagada cadeia de pires que parecem ser radiais à bacia Imbrium. Considerando que a área ao redor da Ptolemaeus é cortada por muitas cadeias secundárias da Imbrium é bem provável que que essa cadeia de pires se originou com o impacto que formou a Imbrium mas que foi posteriormente coberta por algum material. Mas qual? Seria esse material lava, ou talvez material ejetado e pulverizado que chegou da Imbrium momentos depois da cadeia de cratera ter sido formada? Uma visão da Ptolemaeus na Lua cheia revela que o seu interior não é escuro como os mares mas sim brilhante como as terras montanhosas. Assim, muito provavelmente o material ejetado pela Imbrium se depositou na Ptolemaeus, preenchendo-a de modo suficiente a esconder o pico central e quase enterrando crateras de impactos anteriores.

 

Fonte: http://www.vaztolentino.com.br/photos/details/1138

Essa é a melhor explicação que podemos dar, mesmo porque a cratera Albategnius que fica próxima a Ptolemaeus tem 136 km de diâmetro e também possui um interior suave, porém com poucos pires. Mas com base no pequeno número de novas crateras de impacto no interior da Albategnius, pode-se dizer que ela é bem mais jovem do que o impacto que deu origem a Imbrium, de modo que o material que preencheu a Albategnius não deve ter vindo da Imbrium.

Talvez o material da Albategnius e da Ptolemaeus seja um depósito vulcânico de tonalidades brilhantes. A ideia do preenchimento vulcânico é consistente com a forte anomalia de gravidade na Ptolemaeus  que acredita-se ser devido a uma densa intrusão de material do manto que quase atingiu a base do interior original da cratera no lado leste. A intrusão poderia ser uma câmara de lava que alimentou os fluxos de lava superficiais.

Outra coisa sobre o interior da cratera Ptolemaeus é que durante os anos de 1930, observadores alemães relataram que a sua cor variava de cinza depois que o Sol nasceu até um verde oliva próximo da Lua Cheia e então para amarelo próximo do Sol se pôr. Isso foi citado pelo excêntrico observador britânico Valdemar Axel Firsoff, como evidência da existência de alguma forma primitiva de vegetação lunar, nesse caso se propôs a presença de líquen, que ficava verde em resposta a luz do Sol e depois essa coloração desaparecia com o Sol se pondo. Uma triste notícia para os potenciais vegetarianos da Lua é que as amostras trazidas para Terra pela missão Apollo não continha nada verde.

Essa descrição da cratera Ptolemaeus foi escrita por Charles A. Wood na revista Sky and Telescope de Março de 2002. As imagens aqui mostradas foram extraídas do site: http://www.vaztolentino.com.br/ esse é o site do observatório lunar que fica em BH, Minas Gerais e é mantido por João Marcos de Almeida Pinto e o Prof. Ricasdo José Vaz Tolentino.


 

 

Sérgio Sacani

Formado em geofísica pelo IAG da USP, mestre em engenharia do petróleo pela UNICAMP e doutor em geociências pela UNICAMP. Sérgio está à frente do Space Today, o maior canal de notícias sobre astronomia do Brasil.

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