Eventos de aquecimento no inverno ártico, ou seja, dias de inverno com temperaturas máximas acima dos -10 graus Celsius, são uma parte normal do clima sobre o Oceano Ártico coberto de gelo. Mas uma nova pesquisa feita por uma equipe internacional de pesquisadores, descobriu que esses eventos estão se tornando mais frequentes e durando mais do que eles duravam três décadas atrás.
No outono e no inverno é quando o gelo marinho do Ártico cresce e se espessa, as temperaturas do ar no inverno impedirão o crescimento e a expansão do gelo, acelerando assim os efeitos do aquecimento global no Ártico.
Um novo estudo publicado na revista Geophysical Research Letters, em 10 de Julho de 2017, mostra que desde 1980, seis eventos adicionais de aquecimento estão ocorrendo a cada inverno na região polar norte. O estudo também mostra que a duração média de cada evento tem aumentado de menos de dois dias para aproximadamente dois dias e meio.
Os pesquisadores chegaram nesses resultados adquirindo e analisando dados de campanhas de campo, de estações meteorológicas e de boias no Oceano Ártico, de 1893 até 2017, bem como a partir de uma re-análise global atmosférica realizada e fornecida pelo European Center for Medium-Range Weather Forecast em Reading, no Reino Unido, de 1979 até 2016.
As descobertas se baseiam também em recentes evidência do aquecimento do inverno no Ártico. O inverno de 2015-2016, por exemplo, viu temperaturas cerca de 2 graus Celsius, mais quentes do que o registro anterior de mais alta temperatura no inverno. No final de dezembro de 2015, os cientistas registraram uma temperatura de 2.2 graus Celsius, na parte central do Ártico, a temperatura mais quente já registrada nessa região de Dezembro até Março.
Nos anos mais recentes do estudo, cada evento de aquecimento foi associado com a entrada de uma grande tempestade na região. Durante essas tempestades, ventos fortes do sul sopram um ar mais úmido e quente do Atlântico para o Ártico.
Os eventos de aquecimento e as tempestades estão totalmente correlacionados, quanto mais tempestades nós temos, mais eventos de aquecimento nós temos, e mais dias com temperaturas menores que -10 graus Celsius nós temos ao invés de dias com temperatura com -30 graus Celsius, e assim mais quente é a temperatura média do inverno.
As tempestades que levam o ar quente para o Ártico não somente evitam a formação de um gelo novo, mas também quebram a cobertura de gelo que está ali presente. A neve das tempestades também isola o gelo da atmosfera mais fria que retorna ao Ártico depois dos ciclones, o que também reduz o crescimento.
No inverno de 2015-206, um ciclone durou alguns dias e a temperatura na região subiu perto do ponto de derretimento, impediu o crescimento do gelo marinho, enquanto que os fortes ventos associados empurraram de volta a borda de gelo do mar, levando a um recorde de baixa taxa de gelo nos mares da região em 2016. Esse novo estudo fornece um contexto de longo prazo, que perdemos usando observações diretas no final do século 19. Esse estudo mostra que esses eventos de aquecimento ocorreram no passado, mas eles não duravam tanto e nem eram tão frequentes assim, como estamos vendo hoje. Tudo isso combinado com o enfraquecimento do pacote de gelo marinho, significa que as tempestades de inverno no Ártico estão tendo um grande impacto no sistema climático da região.
A frequência e duração desses eventos de aquecimento varia de região para região. Em média, o lado Atlântico do Polo Norte tem 10 eventos de aquecimento em cada inverno, enquanto que o lado Pacífico Central do Ártico tem 5 eventos em média. Mais tempestades chegam ao Ártico pelo Oceano Atlântico durante o inverno, o que resulta em mais eventos de aquecimento no lado Atlântico do Polo Norte.
A próxima etapa do estudo é entender o que está alimentando o aumento dessas tempestades e como elas podem mudar. Pesquisas recentes mostram que a redução da cobertura de gelo e a mudança nos padrões climáticos podem acarretar no aumento da frequência das tempestades e no impacto das mesmas no Ártico.
É difícil dizer como esse padrão pode ser amplificado no futuro.
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