Os astrônomos conseguiram obter pela primeira vez uma visão clara de uma galáxia num universo muito inicial que pode ter se desenvolvido numa estrutura que de alguma forma é parecida com a Via Láctea.
Constituída predominantemente de gás quando registrada enquanto a Via Láctea tinha somente 3 bilhões de anos de vida, a galáxia, DLA2222-0946, deve algum dia se desenvolver numa galáxia espiral comum como a Via Láctea. Sua unicidade é que a faz tão importante, já que ela deve fornecer ideias sobre a formação da massa de galáxias iniciais na vida do universo.
“É um tipo de coisa extraordinária que se torna ordinária”, disse Regina Jorgenson, da Universidade do Havaí durante uma conferência no início do mês de Janeiro de 2014 no encontro da Sociedade Astron6omica Americana em Washington, D.C.
Jorgenson e sua equipe usaram o Telescópio Keck no Havaí para obter a primeira imagem espacialmente resolvida dessas jovens e normais galáxias. Embora já se soubesse há décadas de sua existência, elas representavam um verdadeiro desafio para serem imageadas de forma clara e evidente.
“É o equivalente a detectar uma lâmpada de 50 watts em Marte”, disse Jorgenson.
As galáxias primordiais continham primariamente poeira, o alimento para a formação de estrelas. Jorgenson comparou o processo de formação de galáxias com o ato de se cozinhar um bolo, que necessita de muitos ingredientes, sendo que o mais importante é a farinha. No bolo galáctico, a farinha é o equivalente ao gás neutro, o combustível fundamental para a formação de estrelas.
O gás não brilha como as estrelas, assim os astrônomos tiveram que ser criativos para encontrar o gás no espaço distante. Eles usaram para isso um quasar, uma fonte de luz astronômica brilhante e distante. À medida que a luz do quasar passa através desse tipo de sistema galáctico, conhecido como DLAs, os cientistas podem fazer medidas das nuvens de gás que as constituem
“Esses DLAs contêm a maior parte do gás neutro no universo no momento”, disse Jorgenson. “Eles contêm a maior parte da farinha”.
Mas a simples linha de visão fornecida pelo quasar limita quanto da galáxia pode ser vista. Jorgenson comparou isso a um carro com um único farol numa estrada com neblina. Adicionando mais ingredientes ao desafio, o quasar cuja luz brilhante ilumina a galáxia também tem seu próprio brilho, fazendo com que outras emissões de um grupo jovem sejam difíceis de serem detectadas.
A equipe utilizou as tecnologias avançadas embarcadas no Telescópio Keck para resolver a imagem e o espectro, a medida da energia separada em comprimentos de onda da DLA2222-0946. O Keck permitiu uma significante melhora na resolução.
“É como se pudéssemos ler um jornal a uma distância de quase 15 quilômetros”, explicou ela.
Os resultados serão publicados em uma edição do Astrophysical Journal.
Localizado a aproximadamente 10.8 bilhões de anos-luz de distância da Via Láctea, a DLA2222-0946 se formou 3 bilhões de anos depois do Big Bang, só para se comparar, estima-se que o universo tenha cerca de 13.8 bilhões de anos.
Quando observamos, ela não parecia nada com os braços espirais espalhados da Via Láctea. A jovem galáxia tem somente um sexto do tamanho da nossa galáxia e 1/200 da massa. Contudo, o massivo suprimento de gás contido no seu interior significa que ela produz cerca de 10 vezes mais estrelas do que a nossa galáxia.
Pelo fato de estarmos olhando a grandes distâncias no espaço é como estivéssemos olhando para o passado, os cientistas são capazes de ver a DLA como ela era a 10.8 bilhões de anos atrás. Com o passar do tempo, essas Via Lácteas Bebês, como a própria Jorgenson as denominou, provavelmente cresceram em galáxias que lembram as que observamos hoje. Uma resolução clara da DLA2222-0946 e de outras DLAs fornecerão ideias sobre as etapas evolucionárias vencidas pelas galáxias, como a Via Láctea.
“Isso é algo que os astrônomos têm tentado fazer nos últimos trinta anos”, finalizou Jorgenson.
Fonte:
http://www.space.com/24519-baby-milky-way-galaxy-structure.html?cmpid=514639_20140203_18002314