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23 de dezembro de 2024

Estrela Vampira Revela os Seus Segredos


Astrônomos obtiveram as melhores imagens até o momento de uma estrela que perdeu a maior parte da sua matéria devido a uma companheira vampira. Ao combinar a luz captada por quatro telescópios instalados no Observatório do Paranal do ESO, os astrônomos criaram um telescópio virtual de 130 metros de diâmetro, capaz de observar com uma nitidez 50 vezes superior ao Telescópio Espacial Hubble da NASA/ESA. Surpreendentemente, os novos resultados mostram que a transferência de matéria de uma estrela para a outra neste sistema duplo é mais suave do que o que seria de esperar.

“Podemos agora combinar a radiação captada pelos quatro telescópios VLT e criar imagens extremamente nítidas muito mais depressa do que antes,” diz Nicolas Blind (IPAG, Grenoble, França), o autor principal do artigo científico que apresenta estes resultados, “As imagens são tão nítidas que podemos, não apenas observar as estrelas a orbitar em torno uma da outra, mas também medir o tamanho da maior das duas.”

Os astrônomos observaram [1] o sistema incomum SS Leporis na constelação da Lebre, que contém duas estrelas que orbitam uma em torno da outra em 260 dias. As estrelas estão separadas de uma distância apenas um pouco maior do que a distância entre o Sol e a Terra, sendo que a maior e mais fria das duas estrelas se estende até um quarto desta distância – o que corresponde mais ou menos à órbita de Mercúrio. Devido a esta proximidade, a estrela mais quente já canibalizou cerca de metade da massa da estrela maior.

“Sabíamos que esta estrela dupla era incomum e que material estava a fluir de uma estrela para a outra,” diz o co-autor Henri Boffin, do ESO. “O que descobrimos no entanto, foi que o modo como a transferência de massa se processa é completamente diferente do previsto por modelos anteriores. A “mordida” da estrela vampira é muito mais suave mas altamente eficaz.”

As novas observações são suficientemente nítidas para vermos que a estrela gigante é menor do que o que se pensava anteriormente, o que torna mais difícil explicar como é que a gigante vermelha perdeu massa para a sua companheira. Os astrônomos pensam agora que, em vez de fluir de uma estrela para a outra, a matéria deve ser expelida pela estrela gigante sob a forma de um vento estelar e capturada deste modo pela companheira mais quente.

“Estas observações demonstraram a capacidade do Interferômetro do Very Large Telescope em produzir imagens e abrem o caminho para futuros estudos sobre estrelas duplas em interação,” conclui o co-autor Jean-Philippe Berger.

Notas

[1] As imagens foram criadas a partir de observações obtidas com o Very Large Telescope Interferometer (VLTI) instalado no Observatório do Paranal do ESO, utilizando os quatro telescópios auxiliares de 1,8 metros para obter a radiação que foi usada pelo novo instrumento PIONIER (ver ann11021).

O instrumento PIONIER desenvolvido pelo LAOG/IPAG em Grenoble, França, encontra-se de visita no Observatório do Paranal. O PIONIER é financiado pela Université Joseph Fourier, IPAG, INSU-CNRS (ASHRA-PNPS-PNP) ANR 2G-VLTI ANR Exozodi. O IPAG faz parte do Observatório de Grenoble (OSUG).

Os engenheiros do VLTI tiveram que controlar a distância atravessada pela radiação capturada pelos vários telescópios individuais, com a precisão de cerca de um centésimo da espessura de um fio de cabelo humano. Uma vez chegada ao PIONER, a radiação é canalizada para o coração do instrumento: um circuito óptico impressionante, mais pequeno que um cartão de crédito, que combina então as ondas de luz vindas dos diferentes telescópios, de maneira muito precisa, de modo a que possam interferir entre si. O poder resolvente da rede de telescópios tem a precisão, não de um telescópio auxiliar individual de 1,8 metros, mas sim a de um “telescópio virtual” muito maior com cerca de 130 metros, limitado apenas pela distância a que os telescópios individuais podem ser colocados entre si.

A resolução do Telescópio Espacial Hubble da NASA/ESA é aproximadamente de 50 milésimos de segundo de arco, enquanto que a resolução atingida pelo VLTI é cerca de uma milésimo de segundo de arco – o que corresponde ao tamanho aparente de um astronauta na superfície da Lua, visto a partir da Terra.

Eso1148

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Fonte:

http://www.eso.org/public/news/eso1148/


Sérgio Sacani

Formado em geofísica pelo IAG da USP, mestre em engenharia do petróleo pela UNICAMP e doutor em geociências pela UNICAMP. Sérgio está à frente do Space Today, o maior canal de notícias sobre astronomia do Brasil.

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