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26 de dezembro de 2024

É a Lua de Saturno, Titã, ou Alguma Paisagem Terrestre?

Os cientistas planetários têm quebrado a cabeça por anos trabalhando em cima de padrões de favo de mel e vales de forma achatada com base em imagens de radar da lua de Saturno, Titã. Agora, trabalhando com um pesquisador voluntário, que colocou seu próprio esforço nos dados da sonda Cassini eles encontraram algumas analogias no terreno com as feições cársticas encontradas na Terra.

Terrenos cársticos na Terra ocorrem quando a água dissolve camadas de rocha, deixando dramáticos afloramentos e buracos à vista. Comparando imagens do White Canyon em Utah, Darai Hills em Papua Nova Guiné, a Província Guangxi na China com uma área conectada com vales e sulcos em Titã conhecida como Sikun Labyrinthus pôde-se notar uma grande similaridade. Os materiais podem ser diferentes – metano líquido e etano em Titã ao invés de água e provavelmente uma mistura de moléculas orgânicas em Titã ao invés de rochas – mas os processos parecem muito similares.

“Mesmo sendo Titã um mundo alienígena com temperaturas muito baixas, nós podemos continuar aprendendo sobre muitas similaridades que existem com a Terra”, disse Karl Mitchell, membro da equipe de radar da Cassini. “As paisagens parecidas com ambientes cársticos sugerem que existe muita coisa acontecendo sob a superfície que nós não podemos ver”.

Com isso, Mitchell quer realmente dizer que se as paisagens cársticas de Titã são consistentes com os processos que ocorrem na Terra, podem existir cavernas na subsuperfície do satélite.

O trabalho com essas analogias foi liderado por Mike Malaska, um químico orgânico e colaborador em determinados períodos do site unmannedspaceflight.com, um portal para entusiastas amadores do espaço que podem tentar contribuir na visualização dos dados da NASA.

“Eu me apaixonei por Titã desde que a Cassini tocou o seu solo e mandou as primeiras imagens”, disse Malaska. “Está sendo maravilhoso para o público ver dados vindo tão rápido e com tanta qualidade da sonda que é possível até imaginar que você está pilotando-a”.

Malaska recebeu uma determinada quantidade de imagens de radar da Cassini e com isso pôde processar, traçando padrões e classificando-os em diferentes tipos de vales. Ele observou que alguns vales não tinham uma zona de escape enquanto que outros possuíam imensos locais por onde o fluido poderia escapar.

Procurando na literatura ele encontrou que os vales fechados eram formações típicas de terrenos cársticos e foi guiado por exemplos da Papua nova guiné, Indonésia, Utah e China.

Além disso, o pesquisador também queria montar uma imagem 3D e um filme dessa região. Para isso ele usou uma paleta de cores derivada do subsistema de ciência de imageamento da Cassini  combinada com uma paleta do imageador do radiômetro espectral da sonda Huygens. Ele também usou um pouco de licença artística para modelar as elevações das cadeias de montanha, e as bacias de drenagem dendríticas, considerando a premissa básica de o líquido fluía na direção das bacias descendo as montanhas.

“Meu modelo artístico parece se ajustar aos dados atuais”, disse Malaska. “É claro que a Cassini poderia fazer outra passagem pelo satélite e jogar o modelo por água abaixo. Mas eu espero que ela confirme esse modelo”.


Fontes:

Vídeo: http://www.jpl.nasa.gov/video/index.cfm?id=895

Vídeo (White Canyon – Utah): http://www.jpl.nasa.gov/video/index.cfm?id=895

http://www.jpl.nasa.gov/news/news.cfm?release=2010-078

Sérgio Sacani

Formado em geofísica pelo IAG da USP, mestre em engenharia do petróleo pela UNICAMP e doutor em geociências pela UNICAMP. Sérgio está à frente do Space Today, o maior canal de notícias sobre astronomia do Brasil.

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