fbpx
22 de dezembro de 2024

Divulgadas Primeiras Imagens da Solar Orbiter – Apareceram Fogueiras no Sol!!! Impressionante!!!

As primeiras imagens feitas pela sonda Solar Orbiter, uma missão da ESA em parceria com a NASA, foram finalmente divulgadas, e são surpreendentes. As imagens revelaram flares solares em miniatura que são onipresentes na nossa estrela e que os cientistas apelidaram de fogueiras.

De acordo com os cientistas da missão, observar um fenômeno que não tinha sido observado em detalhe antes, dá pistas sobre o grande potencial da Solar Orbiter, que somente terminou a fase inicial de sua verificação técnica, chamada de comissionamento, ou seja, tem muita coisa para fazer ainda.

Essas são somente as primeiras imagens que ela fez do Sol, e mesmo assim, os astrônomos já estão muito interessados nesse novo fenômeno. Eles mesmo não esperavam grandes resultados nesse começo da missão. Mas eles viram como a missão é realmente espetacular e como os instrumentos são complementares e fornecem imagens espetaculares, do Sol e do ambiente ao redor da nossa estrela.

A Solar Orbiter foi lançada em 10 de fevereiro de 2020, carrega 6 instrumentos de sensoriamento remoto, ou telescópios, que fazem imagens do Sol e do ambiente ao redor do Sol, e quatro instrumentos que monitoram o ambiente ao redor da sonda. Comparando os dados dos dois conjuntos de instrumentos, os cientistas querem ter uma boa ideia sobre como ocorre a geração do vento solar, o jato de partículas carregadas do Sol que influencia todo o Sistema Solar.

A Solar Orbiter ainda tem um aspecto único, até hoje na história da exploração espacial, nenhuma sonda conseguiu fazer imagens do Sol a uma distância tão próxima quanto ela conseguiu, ou seja, essas são as imagens mais próximas já feitas da nossa estrela.

As fogueiras ou campfires, mostradas no primeiro conjunto de imagens, foram capturadas pela instrumento chamado de Extreme Ultraviolet Imager, ou EUI, durante o periélio da Solar Orbiter, ou seja, no momento em que a sonda passou no ponto da sua órbita, mais próximo do Sol. Nesse momento, a sonda estava a 77 milhões de quilômetros do Sol, cerca de metade da distância entre a Terra e o Sol.

As fogueiras são pequenas se comparadas com as flares solares que podemos observar da Terra, na verdade, milhões, ou até bilhões de vezes menor. O Sol, numa primeira olhada até parecia estar calmo, já que estamos passando pelo mínimo da sua atividade, mas quando se observou a estrela em detalhe, foi possível ver essas flares em miniatura para todo lugar que se observava.

Os cientistas não sabem se essas fogueiras são apenas versões menores das grandes flares, ou se são geradas por diferentes mecanismos. Existe, contudo, teorias que essas flares em miniatura poderiam contribuir para um dos mais misteriosos fenômenos que acontece com o nosso Sol, o chamado aquecimento da coroa solar.

Essas fogueiras são totalmente insignificantes se você considerar elas de forma isolada, mas a soma dos seus efeitos em todo o Sol pode ter uma contribuição dominante no aquecimento da coroa solar.

A coroa solar é a camada mais externa da atmosfera do Sol, que se estende por milhões de quilômetros no espaço. A sua temperatura é mais de um milhão de graus Celsius, o que faz com que ela seja várias ordens de grandeza mais quente que a superfície do Sol que tem uma temperatura na casa dos 5500 graus Celsius. Depois de muitas décadas de estudo, os mecanismos físicos que aquecem a coroa ainda não são totalmente entendidos, mas indentificá-los é considerado como sendo o Santo Graal da física solar.

É muito cedo ainda para dizer, mas existe a esperança de conectar essas observações com medidas de outros instrumentos que de certa forma, “sentem” o vento solar, e assim a ideia é que se possa resolver o mistério do aquecimento da coroa solar.

Outro instrumento importante da sonda Solar Orbiter é o Polarimetric and Helioseismic Imager, ou PHI. Esse instrumento é responsável por fazer imagens de alta resolução das linhas de campo magnético na superfície do Sol. Ele foi desenhado para monitorar as regiões ativas do Sol, áreas com campos magnéticos especialmente fortes, de onde podem nascer as flares solares.

Durante as flares solares, o Sol emite rajadas de partículas energéticas que intensificam o vento solar que constantemente manda da estrela para o espaço. Quando essas partículas interagem com a magnetosfera da Terra, elas podem causar tempestades magnéticas que podem chegar até a romper as redes de telecomunicação e energia no nosso planeta.

Atualmente estamos na fase do ciclo solar de 11 anos em que o Sol está quieto. Mas como a Solar Orbiter observa o Sol de um ângulo diferente do que o ângulo que observamos daqui da Terra, a sonda conseguiu ver uma região ativa no Sol que não foi visível do nosso planeta. E com essa região ativa, a sonda pôde fazer algo inédito, medir o campo magnético ali.

Os magnetogrhamas, mostraram como a intensidade do campo magnético solar varia através da superfície da nossa estrela e essas medidas podem então ser comparadas com as medidas feitas pelo outro conjunto de instrumentos.

O instrumento PHI está medindo o campo magnético na superfície, os cientistas observam estruturas na coroa do Sol com o EUI, mas também é possível inferir as linhas de campo magnético no interplanetário com a própria sonda Solar Orbiter, e comparando todas essas medidas é possível ter uma medida completa do campo magnético.

Os quatro instrumentos da sonda que medem o ambiente ao seu redor então caracterizaram as linhas de campo magnético, à medida que eles passaram pela sonda.

Usando essa informação é possível estimar de onde no Sol, o vento solar é emitido, e então usar todos os instrumentos da missão para revelar e entender o processo físico operando em diferentes regiões do Sol, que levam à formação do vento solar.

Essas primeiras imagens são realmente muito animadoras, mas isso é só o começo. A Solar Orbiter apenas começou a sua turnê pelo Sistema Solar interno, e ela passará muito mais perto do Sol nos próximos dois anos. Ela vai chegar a ficar a “apenas” 42 milhões de quilômetros de distância do Sol, que é um quarto da distância entre a Terra e o Sol.

Os primeiros dados já estão demonstrando o poder atrás dessa colaboração de sucesso entre as agências espaciais NASA e ESA e já se tem um belo conjunto de imagens que começam a revelar os segredos do nosso Sol.

Fonte:

https://www.esa.int/Science_Exploration/Space_Science/Solar_Orbiter/Solar_Orbiter_s_first_images_reveal_campfires_on_the_Sun

Sérgio Sacani

Formado em geofísica pelo IAG da USP, mestre em engenharia do petróleo pela UNICAMP e doutor em geociências pela UNICAMP. Sérgio está à frente do Space Today, o maior canal de notícias sobre astronomia do Brasil.

Veja todos os posts

Arquivo