fbpx
21 de dezembro de 2024

Detritos do Impacto da Missão DART Podem Atingir A Terra E Marte

No dia 26 de setembro de 2022, a missão Double Asteroids Redirect Test (DART) da NASA colidiu com Dimorphos, um pequeno satélite natural orbitando o asteroide maior Didymos. Esta missão representou um marco significativo na defesa planetária, ao demonstrar com sucesso uma estratégia proposta para desviar asteroides potencialmente perigosos (PHAs) – o método de impacto cinético. Este método envolve a colisão de uma sonda espacial com um asteroide, alterando sua trajetória e, assim, mitigando a ameaça de uma possível colisão com a Terra.

A importância da missão DART não pode ser subestimada. Em um cenário onde a Terra enfrenta a ameaça constante de asteroides que poderiam causar danos catastróficos, a capacidade de desviar esses objetos representa um avanço monumental na proteção do nosso planeta. A colisão de DART com Dimorphos foi cuidadosamente planejada e executada, servindo como um experimento crucial para validar esta técnica de defesa planetária. A missão foi acompanhada por diversos instrumentos científicos, incluindo o Light Italian CubeSat for Imaging of Asteroids (LICIACube), que forneceu dados valiosos sobre o impacto.

O objetivo deste artigo é explorar uma consequência intrigante e potencialmente significativa da missão DART: a possibilidade de que os detritos gerados pelo impacto possam atingir a Terra e Marte dentro de uma década. Embora o método de impacto cinético tenha se mostrado eficaz em desviar asteroides, ele também pode criar uma quantidade considerável de detritos que, ao serem ejetados no espaço, podem seguir trajetórias que os levem a outros corpos celestes.

Um estudo recente, conduzido por uma equipe internacional de cientistas liderada pelo Dr. Eloy Peña-Asensio, investigou essa possibilidade. Utilizando dados obtidos pelo LICIACube e simulações realizadas em supercomputadores da NASA, a equipe analisou as trajetórias e velocidades dos detritos gerados pelo impacto. As conclusões do estudo sugerem que alguns desses detritos poderiam alcançar a Terra e Marte dentro de uma década ou mais, dependendo de suas velocidades iniciais.

Este artigo se propõe a detalhar os achados desse estudo, explorando as implicações de detritos espaciais atingirem a Terra e Marte. Além disso, discutiremos como futuras missões, como a missão Hera da Agência Espacial Europeia (ESA), continuarão a investigar e monitorar esses detritos, contribuindo para nossa compreensão dos impactos e da defesa planetária. A missão DART não apenas validou uma técnica crucial para desviar asteroides, mas também abriu novas possibilidades para a observação e estudo de detritos espaciais, destacando a importância contínua de monitorar e entender nosso ambiente cósmico.

A missão Double Asteroids Redirect Test (DART) da NASA representou um marco significativo na defesa planetária, ao demonstrar a viabilidade do método de impacto cinético para desviar asteroides potencialmente perigosos (PHAs). Em 26 de setembro de 2022, a sonda DART colidiu deliberadamente com Dimorphos, um pequeno satélite natural orbitando o asteroide maior Didymos. Esta colisão foi cuidadosamente planejada para testar se um impacto cinético poderia alterar a trajetória de um asteroide, desviando-o de um caminho potencialmente perigoso em direção à Terra.

O método de impacto cinético envolve a colisão de uma sonda espacial com um asteroide a alta velocidade, transferindo energia cinética suficiente para alterar sua órbita. No caso da missão DART, a sonda impactou Dimorphos a uma velocidade de aproximadamente 6,6 km/s (23.760 km/h), criando uma cratera e ejetando uma quantidade significativa de material do asteroide. Este evento foi monitorado por uma série de instrumentos, incluindo o Light Italian CubeSat for Imaging of Asteroids (LICIACube), um pequeno satélite que acompanhou a missão e registrou dados cruciais sobre o impacto.

O LICIACube desempenhou um papel vital ao fornecer imagens e dados sobre a forma e a direção do cone de ejeção imediatamente após a colisão. Estas observações permitiram aos cientistas restringir as condições iniciais dos detritos, incluindo suas trajetórias e velocidades. A análise desses dados foi fundamental para entender a dinâmica do impacto e a distribuição dos detritos resultantes.

A missão DART é apenas a primeira parte de um esforço internacional contínuo para validar e aprimorar estratégias de defesa planetária. Em outubro de 2026, a Agência Espacial Europeia (ESA) lançará a missão Hera, que se encontrará com o sistema de asteroides duplo Didymos-Dimorphos para realizar uma pesquisa detalhada pós-impacto. A missão Hera fornecerá dados adicionais sobre as propriedades do alvo, incluindo a cratera de impacto criada pela DART e a distribuição dos detritos. Esta missão complementar é essencial para garantir que o método de impacto cinético possa ser repetido com sucesso no futuro.

A combinação das missões DART e Hera representa um avanço significativo na nossa capacidade de proteger a Terra de asteroides potencialmente perigosos. Além de demonstrar uma técnica promissora para desviar asteroides, estas missões também fornecem uma oportunidade única para estudar os processos de impacto e a evolução dos detritos em um contexto controlado. Os dados coletados por essas missões permitirão aos cientistas testar e melhorar modelos de impacto e leis de escala, contribuindo para a nossa compreensão dos impactos em escala planetária e a eficácia das estratégias de defesa planetária.

O estudo sobre os detritos gerados pela missão DART foi liderado pelo Dr. Eloy Peña-Asensio, um pesquisador do grupo de Pesquisa e Tecnologia em Astrodinâmica do Espaço Profundo (DART) no Instituto Politécnico de Milão. Ele foi acompanhado por colegas da Universidade Autônoma de Barcelona, do Instituto de Ciências Espaciais (ICE-CSIC), parte do Conselho Nacional de Pesquisa da Espanha, do Instituto de Estudos Espaciais da Catalunha (IEEC) e da Agência Espacial Europeia (ESA). O artigo detalhando suas descobertas foi recentemente publicado online e aceito para publicação pelo The Planetary Science Journal.

Para sua pesquisa, Peña-Asensio e sua equipe basearam-se em dados obtidos pelo Light Italian CubeSat for Imaging of Asteroids (LICIACube), que acompanhou a missão DART e testemunhou o teste de impacto cinético. Esses dados foram cruciais para restringir as condições iniciais dos detritos, incluindo suas trajetórias e velocidades, que variaram de algumas dezenas de metros por segundo até cerca de 500 m/s (1800 km/h). A equipe então utilizou os supercomputadores do Centro de Informações de Navegação e Auxiliares da NASA (NAIF) para simular o destino dos detritos.

As simulações rastrearam 3 milhões de partículas criadas pelo impacto da missão DART com Dimorphos. Conforme explicou Peña-Asensio em um e-mail para o Universe Today: “LICIACube forneceu dados cruciais sobre a forma e direção do cone de detritos imediatamente após a colisão. Em nossa simulação, as partículas variaram em tamanho de 10 centímetros a 30 micrômetros, com a faixa inferior representando os menores tamanhos capazes de produzir meteoros observáveis na Terra com a tecnologia atual. A faixa superior foi limitada pelo fato de que apenas fragmentos ejetados de tamanho centimétrico foram observados.”

Os resultados indicaram que algumas dessas partículas alcançariam a Terra e Marte dentro de uma década ou mais, dependendo da velocidade com que viajaram após o impacto. Por exemplo, partículas ejetadas a velocidades abaixo de 500 m/s poderiam alcançar Marte em cerca de 13 anos, enquanto aquelas ejetadas a velocidades superiores a 1,5 km/s (5,400 km/h) poderiam alcançar a Terra em apenas sete anos. No entanto, suas simulações sugeriram que provavelmente levará até 30 anos antes que qualquer um desses detritos seja observado na Terra.

“Essas partículas mais rápidas são esperadas para serem pequenas demais para produzir meteoros visíveis, com base em observações iniciais”, disse Peña-Asensio. “No entanto, campanhas de observação de meteoros em andamento serão críticas para determinar se a missão DART criou uma nova (e humana) chuva de meteoros: os Dimorphids. Campanhas de observação de meteoros nas próximas décadas terão a última palavra. Se esses fragmentos ejetados de Dimorphos alcançarem a Terra, eles não representarão nenhum risco. Seu pequeno tamanho e alta velocidade os farão se desintegrar na atmosfera, criando um belo rastro luminoso no céu.”

Além disso, Peña-Asensio e seus colegas observam que futuras missões de observação de Marte terão a oportunidade de testemunhar meteoros marcianos à medida que fragmentos de Didymos queimam em sua atmosfera. Enquanto isso, seu estudo forneceu as características potenciais desses e de quaisquer meteoros futuros queimando em nossa atmosfera, incluindo direção, velocidade e a época do ano em que chegarão, permitindo que quaisquer “Dimorphids” sejam claramente identificados. Este é um dos aspectos que tornam a missão DART e suas missões complementares únicas.

Os resultados das simulações conduzidas pela equipe liderada pelo Dr. Eloy Peña-Asensio revelaram que algumas das partículas ejetadas pelo impacto da missão DART poderiam alcançar a Terra e Marte dentro de uma década ou mais, dependendo de suas velocidades iniciais. As partículas ejetadas a velocidades inferiores a 500 metros por segundo (m/s) poderiam alcançar Marte em aproximadamente 13 anos. Em contraste, aquelas ejetadas a velocidades superiores a 1,5 quilômetros por segundo (km/s) poderiam alcançar a Terra em apenas sete anos. No entanto, é importante notar que, de acordo com as simulações, é mais provável que demore até 30 anos antes que qualquer um desses detritos seja observado na Terra.

As partículas mais rápidas, embora capazes de alcançar a Terra em um período relativamente curto, são esperadas para serem pequenas demais para produzir meteoros visíveis. Segundo Peña-Asensio, essas partículas menores não representarão um risco significativo, pois se desintegrarão na atmosfera terrestre, criando, no máximo, um rastro luminoso no céu. Este fenômeno, se observado, poderia resultar na criação de uma nova chuva de meteoros, denominada “Dimorphids”. As campanhas de observação de meteoros em andamento serão cruciais para determinar se a missão DART realmente criou esta nova chuva de meteoros.

Além disso, as futuras missões de observação de Marte terão a oportunidade de testemunhar meteoros marcianos, à medida que fragmentos de Didymos queimem na atmosfera marciana. Este fenômeno proporcionará dados valiosos sobre a composição e o comportamento dos detritos espaciais ao interagirem com atmosferas planetárias. A equipe de pesquisa também forneceu características potenciais para esses e quaisquer futuros meteoros que queimem em nossa atmosfera, incluindo direção, velocidade e época do ano em que chegarão, permitindo que qualquer “Dimorphids” seja claramente identificado.

O impacto da missão DART, portanto, vai além da validação de uma estratégia de defesa planetária. Ele oferece uma oportunidade única para modelar e observar como os detritos causados por impactos podem eventualmente alcançar a Terra e outros corpos no Sistema Solar. Este conhecimento é essencial não apenas para a defesa planetária, mas também para a compreensão dos processos dinâmicos que governam a evolução dos detritos espaciais.

Em última análise, a missão DART e suas descobertas associadas sublinham a importância contínua de monitorar e estudar detritos espaciais. A capacidade de prever e observar a trajetória desses detritos pode fornecer informações críticas para futuras missões de exploração e defesa planetária. A criação potencial de uma nova chuva de meteoros, os Dimorphids, destaca a interconexão entre as atividades humanas no espaço e os fenômenos naturais que observamos na Terra. A missão DART, portanto, não apenas contribui para a segurança planetária, mas também enriquece nossa compreensão do cosmos.

Os achados deste estudo são de grande importância para futuras observações e missões de exploração espacial. Além de validar uma estratégia chave para a defesa planetária, a missão DART também proporcionou uma oportunidade única para modelar como os detritos causados por impactos podem eventualmente alcançar a Terra e outros corpos no Sistema Solar. A potencial criação de uma nova chuva de meteoros, os Dimorphids, destaca a relevância contínua de monitorar e estudar detritos espaciais.

Como ressaltado por Michael Küppers, cientista do projeto da missão Hera da ESA e coautor do estudo, a missão DART é um experimento de impacto controlado, onde as propriedades do impactador são precisamente conhecidas. Graças à missão Hera, também conheceremos bem as propriedades do alvo, incluindo o local do impacto da DART. Esses dados permitem testar e melhorar nossos modelos e leis de escala do processo de impacto e evolução dos detritos, fornecendo informações valiosas para futuras missões de defesa planetária.

Além disso, a observação dos detritos ejetados pelo impacto da DART pode fornecer insights valiosos sobre a dinâmica dos impactos em escala planetária. A capacidade de prever com precisão as trajetórias dos detritos e sua eventual interação com a atmosfera terrestre ou marciana é crucial para a nossa compreensão de eventos de impacto naturais e artificiais. Este conhecimento pode ser aplicado não apenas para proteger a Terra de asteroides potencialmente perigosos, mas também para compreender melhor a história de impactos em outros corpos celestes, como Marte.

Outro aspecto significativo é a possibilidade de que os detritos de Dimorphos possam criar uma nova chuva de meteoros, os Dimorphids. Embora as partículas mais rápidas sejam pequenas demais para produzir meteoros visíveis, as campanhas de observação de meteoros em andamento serão essenciais para determinar a presença e a natureza desses novos meteoros. Se confirmados, os Dimorphids não apenas enriquecerão nosso entendimento sobre a distribuição e o comportamento dos detritos espaciais, mas também proporcionarão um espetáculo celeste fascinante para observadores na Terra.

Em um contexto mais amplo, a missão DART e seus estudos subsequentes sublinham a importância da colaboração internacional na exploração espacial e na defesa planetária. A participação de instituições de diversos países, como o Instituto Politécnico de Milão, a Universidade Autônoma de Barcelona, o Instituto de Ciências Espaciais (ICE-CSIS) e a ESA, exemplifica como a cooperação global pode levar a avanços significativos na ciência e na tecnologia espacial.

Em conclusão, a missão DART não apenas demonstrou uma técnica promissora para desviar asteroides, mas também abriu novas possibilidades para a observação e estudo de detritos espaciais. A contínua investigação e monitoramento desses detritos serão essenciais para garantir a segurança e a compreensão de nosso lugar no cosmos. A missão DART, juntamente com a missão Hera e outras futuras iniciativas, representa um passo crucial na proteção de nosso planeta e na expansão do conhecimento humano sobre o universo.

Fonte:

https://www.universetoday.com/168109/debris-from-dart-could-hit-earth-and-mars-within-a-decade/#google_vignette

Sérgio Sacani

Formado em geofísica pelo IAG da USP, mestre em engenharia do petróleo pela UNICAMP e doutor em geociências pela UNICAMP. Sérgio está à frente do Space Today, o maior canal de notícias sobre astronomia do Brasil.

Veja todos os posts

Arquivo