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26 de dezembro de 2024

Curiosity Descobriu Que Marte No Passado Teve A Quantidade Certa de Carbono Orgânico Um Ingrediente Fundamental Para a Vida

Para fazer um bolo, você não só precisa ter os ingredientes disponíveis, mas também precisa ter a quantidade suficiente deles, caso contrário você nunca conseguirá fazer um bolo.

Com a vida é a mesma coisa, além dos ingredientes, eles têm que existir ou ter existido na quantidade certa para isso.

E para isso não basta medir somente uma pequena porção do ingrediente tem que se ter uma medida completa e foi exatamente isso que o rover Curiosity conseguiu fazer, em um dos experimentos mais sensacionais já realizados em Marte.

Os cientistas, usando dados do rover curiosity da NASA mediram o total de carbono orgânico nas rochas marcianas pela primeira vez na história.

Se você não está ligando o nome à pessoa, o carbono orgânico é um componente fundamental encontrado nas moléculas que geram a vida.

Uma das coisas mais importantes na busca pela vida, é tentar entender as condições pré-bióticas e o total do carbono orgânico é uma das medidas que ajuda os pesquisadores a entender quanto de material está disponível para a química pré-biótica e potencialmente a biológica.

O carbono orgânico é constituído de um átomo de carbono preso a um átomo de hidrogênio. Ele é a base das moléculas orgânicas, que são criadas e usadas por todas as formas de vida que nós conhecemos até hoje.

Vale lembrar que a presença de carbono orgânico em Marte não prova a existência de vida no Planeta Vermelho, pois esse elemento também pode ter origem em fontes não biológicas, como meteoritos, vulcões, ou pode se formar por reações que ocorrem na superfície.

O carbono orgânico já havia sido encontrado antes em Marte, mas as medidas anteriores só produziram informação sobre compostos particulares, ou representaram medidas feitas apenas em uma porção do carbono nas rochas.

Tudo isso faz parte da busca insana de todos, incluindo e talvez principalmente os pesquisadores, pela vida em outro ponto do universo.

Embora a superfície de Marte seja hostil para a vida agora, existem muitas evidências que a bilhões de anos atrás o clima em Marte era muito parecido com o da Terra, com uma atmosfera mais espessa e com a água líquida fluindo em rios e em mares.

Como a água líquida é essencial para a vida como a conhecemos, os cientistas pensam que a vida em Marte, se ela existiu, poderia ter sido sustentada por ingredientees fundamentais como o carbono orgânico, se ele estivesse presente em quantidades suficientes.

O rover Curiosity da NASA é uma das ferramentas que os pesquisadores possuem hoje em dia para avançar no campo da astrobiologia e ela vem fazendo isso muito bem, investigando a habitabilidade de Marte, estudando o seu clima e a sua geologia.

O rover já perfurou o solo marciano e coletou amostras datadas de 3.5 bilhões de anos, essas amostras são de lamitos enocntrados numa região da Cratera Gale, que por sua vez foi um antigo lago em Marte.

Os lamitos são rochas formadas por sedimentos muito finos, resultantes de alterações físicas e químicas de rochas vulcânicas, que foram misturados com água e que se depositaram no fundo do lago, com o passar dos bilhões de anos, essa rocha foi soterrada e hoje o Curiosity consegue estudar e entender como era o passado naquela região de Marte.

O carbono orgânico foi parte desse material e ficou incorporado no lamito.

Além da presença de água líquida no passado, de carbono orgânico, a Cratera Gale possui outras condições que são, digamos favoráveis à vida, como fontes de energia química, baixa acidez, e outros elementos essenciais para a biologia como o oxigênio, o nitrogênio e o enxofre.

Basicamente é o seguinte, se Marte teve vida no passado, a Cratera Gale é um lugar onde a vida pode ter existido.

Para fazer essas medidas, o Curiosity coletou amostras do solo marciano e colocou essas amostras no seu instrumento conhecido como Sample Analysis at Mars, ou SAM, onde basicamente um forno aquece o pó de rocha coletado a temperaturas gradativamente maiores.

Esse experimento usa oxigênio e aquece as amostras de modo a converter o carbono orgânico em dióxido de carbono o famoso CO2.

A quantidade de CO2 medida nos dá a quantidade de carbono orgânico presente nas rochas.

Ao adicionar oxigênio e aquecer as amostras, isso faz com que as moléculas de carbono se quebrem e ocorre então a reação entre carbono e oxigênio criando o CO2.

Algum carbono ainda fica preso nas rochas, então o forno eleva a sua temperatura de modo a decompor esses minerais remanescentes e liberar o carbono que então se converte em CO2.

O experimento foi realizado em 2014, mas foram necessários anos de análises para entender os dados e colocar os resultados em um contexto.

Esse experimento foi realizado somente uma vez durante os quase 10 anos de missão do rover Curiosity em Marte.

E essas medidas então nos conseguem dar uma ideia do total de carbono orgânico nas rochas.

Ao fazer as medidas usando os dados do rover Curiosity da NASA que está explorando a Cratera Gale em Marte, os pesquisadores encontraram uma contagem mínima de 200 a 273 partes por milhão de carbono orgânico.

Para vocês terem uma ideia isso é comparável ou até mais do que é encontrado em locais na Terra que são pouco habitáveis como o Deserto de Atacama no Chile, mas é bem mais do que já foi detectado nos meteoritos provenientes de Marte.

Esse processo também permitiu que o instrumento SAM fizesse medidas das razões dos isótopos de carbono, o que pode ajudar a entender a fonte do carbono em Marte.

Isótopos mais pesados tendem a reagir mais lentamente do que isótopos mais leves, o carbono derivado de seres vivos ou de formas de vida é rico, por exemplo em Carbono-12.

Nesse caso, a composição isotópica pode realmente nos dizer somente qual porção do total de carbono é carbono orgânico e qual porção é carbono mineral.

Embora por um lado a biologia não pode ser completamente descartada, os isótopos não podem na verdade serem usado para comprovar a origem biológica para esse carbono, pois a ambiguidade é muito grande, já que rochas ígneas, meteoritos entre outros materiais são os mais prováveis para ser a fonte desse carbono orgâncio.

Mas as medidas mostraram que Marte, além de várias outras condições favoráveis para a vida, teria tido a quantidade de carbono orgânico suficiente para a vida se formar, ou seja, além dos ingredientes, tinha os ingredientes na quantidade certa.

E aí, será que teve vida em Marte?

Fontes:

https://www.nasa.gov/feature/goddard/2022/mars-total-organic-carbon

https://www.pnas.org/doi/epdf/10.1073/pnas.2201139119

Sérgio Sacani

Formado em geofísica pelo IAG da USP, mestre em engenharia do petróleo pela UNICAMP e doutor em geociências pela UNICAMP. Sérgio está à frente do Space Today, o maior canal de notícias sobre astronomia do Brasil.

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