Uma pesquisa no Google Earth em 2008 liderou a descoberta da Cratera Kamil, uma das mais bem preservadas crateras de impacto de meteorito já encontrada na Terra. Antes dessa data outra expedição visitou o local com o objetivo de coletar detritos de ferro para determinar a idade da cratera e sua origem.
Um dia nos últimos milhares de anos, um raro meteorito metálico, viajando a mais de 12000 km/h se chocou com a superfície da Terra próximo ao que é hoje a fronteira entre Egito, Sudão e Líbia. O impacto do pedaço de ferro de 1.3 m e de 10 toneladas gerou uma bola de fogo e uma pluma que puderam ser observadas a mais de 1000 km de distância e perfurou um buraco com 16 metros de profundidade e 45 metro de largura no terreno rochoso.
O líder da expedição Mario Di Martino, INAF, na Cratera Kmail, segurando um pedaço de detrito metálico do meteorito durante a expedição de Fevereiro de 2010.
Desde então, a cratera tem sofrido com os processos geológicos e climáticos que ocorrem na Terra, que normalmente preservam a cratera mas a deixam invisíveis para os humanos.
Mas isso mudou em 2008 quando a cratera foi identificada durante um estudo do Google Earth conduzido pelo mineralogista Vincenzo De Michele, então trabalhando no Civico Museo di Storia Naturale em Milão na Itália. Ele estava pesquisando por feições naturais quando ele então observou a cratera de impacto redonda na tela do seu computador.
De Michele entrou em contato com um astrofísico, Dr. Mario Di Martino, no INAF (National Institute for Astrophysics) em Turin, que junto com o Dr. Luigi Folco, do Museo Nazionale dll’Antartide de Siena, organizou uma expedição até o local que ocorreu em Fevereiro de 2010.
A equipe demorou um ano para planejar e obter as permissões necessárias para a expedição. Durante os preparativos eles contaram com a colaboração do Telespazio, e-Goes e da Agência Espacial Italiana, esses grupos analisaram usando dados de satélite a cratera e também por meio da cooperação de satélite ASI operados por COSMO-SkyMed foi possível fazer imagens de radar de alta resolução da cratera.
A expedição demorou duas semanas e mobilizou 40 pessoas incluindo cientistas egípcios e italianos, bem como um numeroso contingente de trabalhadores locais e foi conduzida como parte do 2009 Italian-Egyptian Year of Science and Technology (EISY). A expedição foi financiada por um fundo da ESA.
Uma imagem de radar da Cratera Kamil fornecida pela constelação de satélites COSMO-Sky-Med da Agência Espacial Italiana (ASI).
Após uma cansativa viagem de 3 dias guiada por GPS tolerando o calor de 40 graus Celsius do deserto a equipe alcançou a cratera.
Eles coletaram mais de 1000 kg de fragmentos de meteoritos metálicos, incluindo um pedaço de 83 kg que deve ter sido arremessado do corpo principal do meteorito pouco depois do impacto, esse pedaço estava a aproximadamente 200 m da cratera. A equipe conduziu uma pesquisa geológica e topográfica, usando uma ferramenta conhecida como GPR ou ground penetrating radar para criar um modelo digital do terreno. Levantamentos sísmicos e geomagnéticos também foram realizados no local.
Os pesquisadores ficaram impressionados em achar a Cratera Kamil, que tem esse nome devido a presença próxima de um afloramento rochoso, que se mantém inexplorado e deve ter sido gerado relativamente em anos recentes.
“Essa descoberta demonstra que meteoritos metálicos tendo uma massa da ordem de 10 toneladas não se desintegram na atmosfera, e sim explodem quando eles alcançam o solo terrestre produzindo assim uma cratera”, disse o Dr. Detlef Koschny da ESA, que é chefe do Near Objects.
A Cratera Kamil então começou a se tornar o alvo de interesse de geólogos, astrofísicos e até mesmo arqueólogos.
Usando o equipamento GPR (Ground Penetrating Radar) para estudar o interior da Cratera Kamil.
“Nós ainda estamos determinando a geocronologia do local do impacto, mas a cratera tem certamente menos de 10 mil anos de vida – e potencialmente menos de alguns mil anos. O impacto pode até ter sido observado por seres humanos que ali viviam e investigações arqueológicas próximo do local podem ajudar a fixar essa data”, disse Dr. Folco.
Os dados obtidos durante a expedição serão muito úteis para as atividades do SSA da ESA para acessar os riscos de pequenos asteróides que possuem uma órbita próxima da Terra, uma categoria de objetos a qual pertencia o meteorito que gerou a Cratera Kamil.
Para observar a cratera direto no Google Earth basta acessar o link:
http://maps.google.com/?ie=UTF8&t=h&source=embed&ll=22.01812,26.087873&spn=0.003481,0.004292&z=17
Outro texto sobre a Cratera Kamil nesse blog pode ser lido aqui:
http://cienctec.com.br/wordpress/?p=3008
Fonte: