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23 de dezembro de 2024

Buracos Negros Massivos Estão por Toda a Parte

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observatory_1501054Frequentemente, o termo “mudança de paradigma”, é usado em ciência para relatar coisas, que, realmente, não mudam muito da ideia que temos de tudo. Contudo, essa semana, esse termo foi usado para descrever uma nova descoberta astronômica, e todos, acredito, irão concordar que é na verdade uma grande coisa.

A história é a descoberta de buracos negros massivos no centro de galáxias anãs, descoberta essa, feita por Amy Reines do National Radio Astronomy Observatory. Agora, nós já estamos familiarizados com a história de que todas as galáxias massivas possuem um buraco negro supermassivo em seu interior. De fato, quanto maior o bulbo galáctico, maior o buraco negro supermassivo, ou SMBH. Existe um elo definitivo entre a evolução das galáxias e a evolução de seus buracos negros centrais.

Uma questão em aberto, é: como esses buracos negros supermassivos se formaram? Muitos milhões ou bilhões de buracos negros de massa regular poderiam se encaixar em um SMBH, mas é difícil de imaginar isso acontecendo no universo. É muito provável, contudo, que os SMBHs começaram como simplesmente Buracos Negros Massivos, ou MBHs, durante os primeiros dias do universo, seja como nuvens de gás colapsadas de forma catastrófica ou como estrelas supermassivas que de alguma forma formaram a semente massiva dos buracos negros. Esses buracos negros iniciais estão muito distantes para serem observados com a atual tecnologia disponível.

E esse é o motivo pelo qual os astrônomos estão tão animados por terem encontrado um análogo a esses buracos negros num lugar inesperado: galáxias anãs. Nós já sabemos que todas as grandes galáxias, como a Via Láctea, abrigam buracos negros supermassivos em seus centros, mas as galáxias menores que não possuem um bulbo central e que tendem a se aglomerar ao redor de galáxias maiores não pareciam ter esses buracos negros centrais.

Então, a poucos anos atrás, Reines descobriu um buraco negro massivo no coração da galáxia anã Henize 2-10. Isso levou seu trabalho para uma direção totalmente nova. Agora, depois de ter estudado de forma detalhada cerca de 25000 galáxias anãs, ela e seus colaboradores encontraram evidências para buracos negros em crescimento em 100 delas. Esses MBHs não têm milhões ou bilhões de vezes a massa do Sol, mas sim poucas centenas de milhares de vezes a massa do Sol. Eles são muito parecidos com o que as  sementes dos buracos negros supermassivos iniciais devem ter sido no início do universo, e estão perto o suficiente para serem estudados.

Se você pensar, 100, das 25000 galáxias, não parece ser um número muito grande. Contudo, essas são somente aquelas que possuem material caindo neles de forma ativa. Nós sabemos que cerca de 10% dos buracos negros supermassivos são ativos, deixando os outros 90% sendo buracos negros calmos. Nós não sabemos a porcentagem de buracos negros ativos com relação aos calmos nas galáxias anãs, ainda, mas provavelmente, esses 100 são somente a ponta do iceberg. E agora nós temos muitas galáxias anãs que abrigam buracos negros massivos centrais bem como suas primas maiores, e isso, de fato, representa uma mudança de paradigma no que nós conhecemos atualmente sobre a evolução das galáxias e dos buracos negros.

Há mais uma história como bônus. Os astrônomos nem sequer tem que obter novos dados para fazer essa descoberta. Ao invés disso, eles estão analisando o espectro de galáxias que já foram imageadas com o gigantesco projeto, conhecido como Sloan Digital Sky Survey.

À medida que a astronomia se move para uma era onde os telescópios ficarão cada vez maiores e maiores pesquisas serão feitas, é crucial que esses dados sejam acessíveis para que qualquer pesquisador possa analisar e encontrar algo que nós nunca pensávamos que veríamos nem mesmo com outros telescópios.

Esse trabalho foi publicado no Astrophysical Journal e o artigo original está disponível abaixo.


Fonte:

http://news.discovery.com/space/astronomy/massive-black-holes-are-everywhere-140108.htm

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Sérgio Sacani

Formado em geofísica pelo IAG da USP, mestre em engenharia do petróleo pela UNICAMP e doutor em geociências pela UNICAMP. Sérgio está à frente do Space Today, o maior canal de notícias sobre astronomia do Brasil.

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