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Biografia de Um Asteróide: Gaspra

Situado no cinturão de asteróides, em uma zona próxima à borda interior desse disco de escombros rochosos e metálicos, resultou em encontrar com a trajetória da sonda Galileu, então em rota para o seu objetivo principal, Júpiter, o asteróide Gaspra. A sonda Galileu sobrevoou o Gaspra em 29 de Outubro de 1991. Com seu arsenal de instrumentos, incluindo sua potente câmera, enviou uma grande quantidade de informações do asteróide, até então praticamente desconhecido. Pertencente aos asteróides do grupo tipo S, devido a sua composição e incluindo na família Flora, o Gaspra é uma rocha com dimensões de 20 x 12 x 11 km muito irregular. Foi descoberto em 1916 graças aos esforços do russo Grigory N. Neujamin.

Muito mais tarde, em 1989, uma astrônoma entusiasmada e jovem com apenas 13 anos, chamada Claudine Madras, colaborando com uma equipe do MIT realizou várias observações fotográficas do Gaspra. Essas observações foram feitas diretamente do observatório Lowell e quando finalizaram o trabalho, permitiram chegar a uma conclusão de que o asteróide girava em torno de si mesmo uma vez a cada sete horas e que a sua forma era alongada.

Comparação entre o asteróide Ida, maior e o Gaspra menor.

A sonda Galileu da NASA passou a aproximadamente 1600 km de distância do asteróide a uma velocidade relativa de 8 km/s. A câmera da nave estava fotografando-o desde de muitas horas do encontro mais próximo, desse modo os astrônomos puderam ter uma idéia de como era a superfície do asteróide como um todo. Com essas imagens foi possível confirmar o período de rotação do asteróide estimado por Madras.

As imagens também mostraram a presença de algumas crateras, não muitas e nem muito grandes. Isso sugere que se trata de um fragmento recente entre 20 e 500 milhões de anos, de outro asteróide maior, que é foi formado a partir de um choque. Esse choque seria o responsável pela criação da família de asteróides conhecida como Flora.

Asteróide Gaspra em cor real.
Asteróide Gaspra em coloração melhorada

Sua superfície é relativamente escura e com pouca gradação de cor. Só reflete 20% da luz que incide sobre ele. Sua escassa gravidade o mantém com um aspecto anguloso, apresentando zonas planas. Os asteróides maiores e com maior gravidade têm uma forma mais esférica. Rico em silicatos e metais, apresenta uma região denominada de Dunne Regio com aproximadamente 35 Km quadrados de área que é especialmente plana em termos geológicos.

Se o Gaspra pertenceu antigamente a um asteróide muito maior, isso explicaria as estrias que podem ser observadas em algumas partes da sua superfície. Impactos fortes são capazes de danificar a rocha e criar as fraturas, que neste caso alcançam próximo de 300 metros de largura por 2,5 km de extensão. A profundidade desses sulcos é de várias dezenas de metros. A capa exterior de rególitos tem uma origem misteriosa. Aparentemente sua espessura não pode ser explicada com material proveniente das crateras formadas durante sua vida.

Por isso, alguns astrônomos pensam que isso se acumulou no asteróide durante o mesmo processo de formação da família flora. Nessa época seus componentes deviam estar muito próximos uns dos outros como resultado da colisão então recente. Alguns dos escombros menores do choque acabavam caindo nos asteróides acumulando sobre eles.

Um dos mapas levantados da superfície de gaspra.

A sonda Galileu nos enviou imagens de 80% da superfície visível do asteróide. A única zona que permanece desconhecida é a existente ao redor do pólo sul do objeto. Na realidade a nave tirou muitas fotos, porém a maioria delas não tinha Gaspra no seu campo de visão devido a incerteza na sua posição relativa exata. Esse encontro poderia ter sido pior se não tivesse ocorrido um planejamento prévio por meio de uma navegação que permitiu os astr6onomos a definirem melhor o alvo. Ordenaram a sonda a fotografar uma determinada zona seguindo um padrão de mosaico desde grandes distâncias de modo que o objetivo apareça pelo menos em uma dessas imagens. Desta maneira conforme produzia a aproximação a orientação das câmeras podiam ser efetuadas com maior precisão.

Graças a todas essas informações agora se conhece melhor a trajetória de Gaspra ao redor do Sol. Um asteróide tem uma inclinação muito pequena com relação ao plano da eclíptica. Em sua órbita alcança uma distância  máxima do Sol de 2.59 unidades astronômicas e uma mínima de 1.82. Demora 1199 dias para dar uma volta ao redor do Sol e a sua magnitude absoluta é de 11.46.

Sua gravidade é tão escassa que a velocidade necessária para abandonar a sua superfície é de apenas 0.006 km/s. E as suas temperaturas variam de 181 até 281 Kelvins. O Gaspra também parece ser um astro magnetizado. Não existe nenhuma previsão que outra missão volte a visitar o asteróide nem sequer em longo prazo. A casualidade de que a trajetória da Galileu cruzou a sua órbita o converteu em um protagonista acidental. Assim, apesar de sua modéstia, o asteróide Gaspra passou para a história como o primeiro visitado por um artefato humano.

Sequência de aproximaçào ao asteróide Gaspra.

Sérgio Sacani

Formado em geofísica pelo IAG da USP, mestre em engenharia do petróleo pela UNICAMP e doutor em geociências pela UNICAMP. Sérgio está à frente do Space Today, o maior canal de notícias sobre astronomia do Brasil.

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