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Astrônomos Revelam O Campo Magnético Da Coroa Solar

Os astrônomos continuam trabalhando fortemente para tentar entender cada vez mais e melhor a nossa estrela, o Sol. E uma das principais características do Sol que eles querem entender é a sua coroa, a atmosfera mais externa do Sol, que se expande no espaço interplanetário. Esse fluxo de partículas carregadas que irradia da superfície do Sol é chamada de vento solar e se expande por todo o nosso Sistema Solar.

As propriedades da coroa solar, são uma consequência do complexo campo magnético do Sol, que é produzido no interior solar e se estende para fora da estrela. Um novo estudo, usou observações de um eclipse total do Sol para medir a forma do campo magnético coronal com uma resolução espacial mais alta e numa área muito maior do que já tinha sido feito anteriormente.

A coroa é muito fácil de ser vista durante um eclipse total do Sol, quando a Lua está diretamente entre a Terra e o Sol, bloqueando o brilho da superfície do Sol. Avanços tecnológicos nas décadas recentes estão mudando o foco para observações baseadas no espaço e na terra em outros comprimentos de onda, ou instrumentos diferentes, como o Telescópio Solar Daniel K. Inouye. Mas apesar de todos esses avanços, alguns aspectos da coroa só podem ser estudados durante os eclipses total do Sol.

E por esse motivo um grupo de pesquisadores resolveu usar eclipses solares observadas durante os últimos 20 anos. Para fazer essas pesquisas os astrônomos usaram dados obtidos pelos famosos caçadores de eclipses, as pessoas que viajam pelo mundo observando os eclipses totais do Sol de diferentes maneiras, com aviões, drones, com diferentes equipamentos, e assim, eles conseguiram muitos dados sobre a coroa solar.

A coroa solar tem sido observada através de eclipses solares por mais de um século, mas nunca essas imagens tinham sido usadas para quantificar a estrutura do seu campo magnético. É possível extrair muito mais informação aplicando modernas técnicas de processamento de imagens nos dados de eclipses. Os pesquisadores traçaram o padrão de distribuição das linhas do campo magnético na coroa, usando um método automático de traçamento aplicado às imagens da coroa feitas durante 14 eclipses nas últimas duas décadas. Esses dados deram a chance de se estudar a coroa durante dois ciclos magnéticos de 11 anos do Sol. Os pesquisadores encontraram que o padrão das linhas de campo magnético da coroa é altamente estruturado com as estruturas vistas em tamanhos limitados pela resolução das câmeras usadas nas observações. Os pesquisadores também observaram que esse padrão muda com o tempo. Para quantificar essas mudanças, eles mediram o ângulo do campo magnético com relação à superfície do Sol.

Durante os períodos de mínima atividade solar, o campo da coroa emana praticamente diretamente das regiões próximas do equador e dos polos do Sol, embora venha de uma grande variedade de ângulos nas latitudes intermediárias. Durante o máximo da atividade solar, por outro lado, o campo magnético coronal é bem menos organizado e mais radial.

Os pesquisadores já sabiam que existiriam mudanças de acordo com o ciclo solar, mas eles não esperavam ver o quanto extenso e estruturado o campo magnético coronal poderia ser. Modelos futuros terão que explicar essas características para que se possa entender de forma completa o campo magnético coronal.

Esses resultados desafiam as premissas atuais usadas na modelagem da coroa, que assumem que o campo magnético coronal é radial além de 2.5 raios solares. E esse trabalho descobriu que o campo coronal não é radial até pelo menos 4 vezes o raio solar de distância.

Esse trabalho tem implicações em outras áreas de pesquisa solar, incluindo a formação do vento solar, que impacta o campo magnético da Terra e que pode afetar diretamente o nosso planeta e a nossa vida.

Esses resultados são particularmente interessantes para se ter ideia sobre a formação do vento solar. Ele indica que as ideias principais sobre como modelar a formação não estão completas, e com esse estudo a nossa habilidade de prever e entender o clima espacial pode ser melhorada.

A equipe de pesquisadores, pretende continuar com o trabalho e já planeja a próxima expedição para um eclipse total do Sol, que será na América do Sul em dezembro de 2020.

Fonte:

http://www.ifa.hawaii.edu/info/press-releases/corona_boe/

https://arxiv.org/pdf/2004.08970.pdf

Sérgio Sacani

Formado em geofísica pelo IAG da USP, mestre em engenharia do petróleo pela UNICAMP e doutor em geociências pela UNICAMP. Sérgio está à frente do Space Today, o maior canal de notícias sobre astronomia do Brasil.

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