Essa semana, uma equipe internacional de astrônomos reportou o primeiro sistema estelar múltiplo a ser observado durante seus primeiros estágios de formação. Essa descoberta suporta as previsões do modelo sobre como sistemas estelares duplos e triplos se formam.
Escrevendo na edição atual da revista Nature, o primeiro autor Jaime Pineda do Institute for Astronomy no ETH Zurique, com outros na Inglaterra e EUA, disse que entender porque e como os sistemas estelares múltiplos se formam é essencial para se saber sobre fenômenos como a formação de planetas e estrelas, a frequência de planetas e a habitabilidade. Eles disseram que o número de estrelas no sistema é determinado durante as fases iniciais da formação de estrelas mas que processos críticos ocorrem então e que são normalmente escondidos pelas densas nuvens de gás e poeira.
Offner disse que as novas observações também ajudam a explicar por que algumas condensações de gás pre-estelar ocorrem para formar um sistema com somente uma única estrela como a nossa, enquanto outras formam sistemas binários ou múltiplos. Metade das estrelas residem nesses sistemas com duas ou mais estrelas, incluindo a estrela vizinha mais próxima do Sol, Alpha Centauri. Contudo, os astrônomos não sabem exatamente o que determina quantas estrelas se formaram juntas ou quais as condições iniciais determinam que tipo de sistema estelar se desenvolverá. Os resultados reportados avançam no entendimento dessas condições em situações onde estrelas múltiplas são muito separadas.
Offner, que realizou simulações sobre os ambientes onde as estrelas nascem, previu que as estrelas em muitos sistemas múltiplos serão separadas por uma distância de algumas milhares de vezes a distância entre a Terra e o Sol. As condições nessa configuração inicial, no berçário estelar, são governadas pela velocidade do gás e pela gravidade, nota ela.
“Parece ser uma questão simples”, disse ela. “Por que o nosso Sol é uma estrela simples enquanto nossa estrela mais próxima, Alpha Centauri, é um sistema triplo? Existem modelos sobre como sistemas estelares múltiplos nascem, mas agora nós sabemos um pouco mais que nós não sabíamos antes”.
Nesse novo artigo, Pineda e seus colegas relataram a descoberta de um sistema estelar no ato de formação dentro da região de um berçário estelar da constelação de Perseus, por meio de observações feitas pelo Very Large Array (VLA), um observatório de rádio astronomia em Socorro, no Novo México e pelo Telescópio de Green Bank (GBT), o maior rádio telescópio do mundo em West Virginia.
As novas observações de alta resolução mostram três condensações de gás, que são fragmentos de um denso filamento de gás, e uma estrela muito jovem que ainda está ganhando massa. Eles estimam que as condensações formarão uma estrela em cerca de 40000 anos, um tempo relativamente curto na escala astronômica. A fragmentação do filamento “fornece um novo caminho para criar sistemas estelares”, notou Pineda e seus colegas. “Essa é a primeira vez que nós fomos capazes de estudar esses sistemas jovens em formação, e isso só foi possível graças a combinação tanto do GBT e do VLA”, disse Pineda.
Embora as distâncias entre as condensações de gás sejam atualmente algumas vezes maiores que o nosso sistema solar, os autores estimam a atração gravitacional entre eles é suficientemente forte que as novas estrelas formarão um sistema estelar quadruplo. Contudo, eles dizem que provavelmente interações entre as estrelas farão com que uma das estrelas seja expelida em menos de um milhão de anos, fazendo com que o sistema se torne um sistema triplo.
Infelizmente, o conhecimento ganho a partir da observação desse sistema enquanto ele está se formando não inclui assinaturas ou características para ajudar os astrônomos a localizarem outros sistemas como esse. “Nós gostaríamos de saber quão comum esse tipo de configuração é”, nota Offner. “Infelizmente, nós não pudemos prever a existência desse sistema na pesquisa inicial do GBT, assim nós não sabemos o que procurar em outros lugares. Para isso precisamos de mais trabalhos de pesquisa e mais modelos numéricos para sermos capazes de identificar outros sistemas jovens como esse”.
“Em termos do que isso significa para a formação do nosso Sol”, adiciona ela, “isso sugere que essas condições iniciais não foram iguais às observadas nesse sistema em formação. Ao invés disso, o Sol provavelmente se formou de algo que era mais esférico e não filamentar. A distribuição dos planetas no nosso Sistema solar também sugere que o nosso Sol nunca foi parte de um sistema múltiplo como esse”.
Fonte:
http://www.sciencedaily.com/releases/2015/02/150211141242.htm