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18 de novembro de 2024

Astrônomos Lançam a Maior Imagem Colorida do Céu Já Feita – Resultados do SDSS-III

O projeto Sloan Digital Sky Survey-III (SDSS-III) lançou a maior imagem digital colorida do céu já feita e com livre acesso para qualquer um. A imagem foi construída com dados adquiridos durante uma década a partir de milhões de imagens com resolução de 2.8 megapixel, criando uma imagem colorida com resolução incrível de mais de um trilhão de pixels. Essa imagem de terapixel é tão grande e detalhada que seriam necessárias 500000 TVs de altíssima resolução para poder vê-la em todo o seu esplendor. “Essa imagem fornece a oportunidade para muitas novas descobertas científicas nos anos que se seguem”, disse Bob Nichol, um professor da University of Portsmouth e porta-voz científico do projeto colaborativo SDSS-III.

A nova imagem está no coração dos novos dados que foram lançados pelo SDSS-III durante a 217 reunião da American Astronomical Society que aconteceu em Seattle. Esses novos dados lançados pelo SDSS-III junto com outros dados previamente lançados dão aos astrônomos a mais compreensiva visão do céu noturno que eles já tiveram. Os dados do SDSS-III já foram usados para descobrir aproximadamente 500 milhões de objetos astronômicos incluindo asteroides, estrelas, galáxias e quasares distantes. As posições, cores e formas mais precisas de todos esses objetos foram revisadas e também foram lançadas junto com a imagem.

“Esse é um dos maiores prêmios na história da ciência”, disse o Professor Mike Blanton da New York University, que liderou o trabalho de arquivamento dos dados do SDSS-III. Blanton e muitos outros cientistas têm trabalhado por meses preparando o lançamento de todos esses dados. Esses dados serão um legado para as eras futuras, explica Blanton, do mesmo modo que ambiciosas pesquisas do céu como o Palomar Sky Survey da década de 1950 ainda é usado até hoje. Nós esperamos que os dados do SDSS tenham vida longa. A imagem começou a ser construída em 1998 usando o que era então a maior câmera digital do mundo um detector de 138 megapixel montado no telescópio de 2.5 metros no Apache Point Observatory no Novo México, EUA. Na última década o Sloan Digital Sky Survey vasculhou um terço de todo o céu. Agora essa câmera de imageamento está sendo aposentada e será parte da coleção permanente no Smithsonian em reconhecimento às suas contribuições para a astronomia.

“Tem sido maravilhoso ver os resultados científicos que foram conseguidos a partir dessa câmera”, disse Connie Rockosi, uma astrônoma da University of California Santa Cruz, que começou a trabalhar na câmera nos anos de 1990 como estudante de pós-graduação, junto com Jim Gunn, Professor de Astronomia na Princeton University e cientista de projeto da SDSS-I/II. Toda a carreira de Rockosi correu paralela a história da câmera SDSS. “É um sentimento estranho ver a câmera sendo aposentada, já que trabalhei com ela nos últimos 20 anos”, disse ela.

Mas qual o próximo passo? Essa enorme imagem formou a base para novos estudos do universo usando o telescópio SDSS. Essas pesquisas se concentram no espectro, uma técnica astronômica que usa instrumentos para dispersar a luz de uma estrela ou galáxia em todos os comprimentos de onda que a compõem. O espectro pode ser usado para encontrar as distâncias das galáxias, e as propriedades, como temperatura e composição química de diferentes tipo de estrelas e galáxias.

“Nós atualizamos os instrumentos existentes no SDSS, e nós estamos usando-os para medir as distâncias de mais de um milhão de galáxias detectadas nessa imagem”, explica David Schlegel, um astrônomo da Lawrence Berkeley National Laboratory, e principal pesquisador do no novo SDSS-III Baryon Oscilation Spectroscopic Survey (BOSS). Schlegel explica que medir as distâncias das galáxias consome mais tempo do que simplesmente fazer fotos delas, mas em contrapartida, isso fornece um detalhado mapa tridimensional da distribuição das galáxias no espaço.

O BOSS começou a coletar dados em 2009 e irá continuar até 2014, explica Shlegel. Uma vez terminada sua missão, o BOSS será o maior mapa 3D das galáxias já feito, estendendo a pesquisa original SDSS das galáxias para um volume muito maior do universo. O objetivo do BOSS é medir com precisão como a chamada Energia Escura mudou na recente história do universo. Essas medidas ajudarão os astrônomos a entender a natureza dessa misteriosa substância. “A Energia Escura é o maior enigma da ciência hoje em dia”, disse Schlegel, “e o SDSS continua a liderar o caminho para tentar entender o que ela realmente é”.

Em adição ao BOSS, a colaboração SDSS-III tem estudado as propriedades e movimentos de centenas de milhares de estrelas nas partes externas da nossa galáxia, a Via Láctea. A pesquisa conhecida como Sloan Extension for Galactic Understanding and Exploration, ou SEGUE, que começou alguns anos atrás mas tem sido agora completada como parte do primeiro ano do SDSS-III.

Juntamente com a imagem, os astrônomos do SEGUE também estão lançando o maior mapa da região externa da Via Láctea, já feito. “Esse mapa tem sido usado para estudar a distribuição das estrelas na nossa galáxia”, disse Rockosi, o principal pesquisador do SEGUE. “Nós encontramos muitas correntes de estrelas que originalmente pertenciam a outras galáxias que separadas da Via Láctea pela gravidade. Há muito tempo pensamos que as galáxias se desenvolvem por meio de fusão com outras galáxias, as observações feitas com o SEGUE confirmam essa imagem básica”.

O SDSS-III também está executando duas outras pesquisas da nossa galáxia até 2014. A primeira chamada de MARVELS, usará um novo instrumento para medir de forma repetida o espectro de aproximadamente 8500 estrelas próximas como o Sol, buscando por vibrações causadas por grandes planetas como Júpiter orbitando-as. O MARVELS tem a previsão de descobrir aproximadamente um centena de novos planetas gigantes, bem como, encontrar um número similar das chamadas anãs marrons que são corpos intermediários entre os planetas mais massivos e as menores estrelas.

A segunda pesquisa é chamada de APO Galactic Evolution Experiment (APOGEE), que está usando um dos maiores espectrógrafos infravermelhos já construídos para realizar um estudo sistemático das estrelas em todas as partes da nossa galáxia, mesmo as estrelas do outro lado da galáxia, além do bulbo central. Essas estrelas são tradicionalmente difíceis de serem estudadas pois sua luz visível é obscurecida pela grande quantidade de poeira no disco da galáxia. Contudo, trabalhando-se em comprimentos maiores do infravermelho o APOGEE pode estudá-las em grande detalhe, revelando assim suas propriedades e movimentos para assim se explorar como diferentes componentes da nossa galáxia foram colocados juntos nesse conjunto de estrelas em que vivemos.

“O SDSS-III é um projeto com surpreendentes ramificações construído a partir do legado deixado pelo SDSS e o SDSS-II”, resume Nichol. “Essa imagem é o cume de décadas de trabalho executado por centenas de pessoas e que já estão produzindo incríveis descobertas. A astronomia tem uma rica tradição de fazer com que todos os seus dados sejam disponíveis gratuitamente para o público e esperamos que muitos aproveitem cada vez mais o que estamos disponibilizando agora”.

A apresentação feita pela equipe na última reunião da American Astronomical Society pode ser encontrada abaixo:

[slideshare id=6570235&doc=sloandigitalskysurveyiii-mappingtheuniverseonthelargestscales-110114153104-phpapp01]

Fonte:

http://sdss3.wordpress.com/

 

Sérgio Sacani

Formado em geofísica pelo IAG da USP, mestre em engenharia do petróleo pela UNICAMP e doutor em geociências pela UNICAMP. Sérgio está à frente do Space Today, o maior canal de notícias sobre astronomia do Brasil.

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