Astrônomos, em sua incessante busca pelo entendimento do cosmos, recentemente se depararam com um fenômeno intrigante: uma estrela comportando-se de maneira atípica. Localizada em um sistema estelar a 1800 anos-luz de nós, essa estrela, nomeada ASASSN-21qj, revelou um espetáculo cósmico sem precedentes – a colisão de dois planetas do tamanho de Netuno.
Em 2021, observações indicaram que ASASSN-21qj escureceu em até 95%. Uma análise retrospectiva mostrou que, três anos antes desse evento, a estrela havia duplicado seu brilho. Matthew Kenworthy, da Universidade de Leiden, na Holanda, junto com sua equipe, mergulhou profundamente nesse mistério. Após considerar várias explicações, a hipótese que mais se alinhou aos dados foi a de uma colisão entre dois gigantes gelados, um evento nunca antes observado.
Estes planetas, cada um com várias dezenas de vezes a massa da Terra e comparáveis a Netuno, orbitavam sua estrela a uma distância similar à de Júpiter em relação ao nosso Sol. O impacto foi tão catastrófico que os planetas foram pulverizados, reduzidos a uma substância semelhante a uma “lama fundida”. O resultado? Uma gigantesca bola de vapor de sílica, com uma largura sete vezes maior que o nosso Sol.
Para um observador próximo, a colisão teria se manifestado como uma colisão “brilhante e vermelha”, com rochas e detritos sendo ejetados dos núcleos sólidos dos planetas. No centro desse caos, um remanescente incandescente queimava, formando eventualmente um anel em forma de toro ao redor da estrela. Este anel, com uma temperatura abrasadora de cerca de 700°C, era curiosamente apenas metade do que seria esperado se os planetas fossem rochosos. Isso levou os pesquisadores a inferir que os planetas eram ricos em vapor de água, classificando-os como gigantes gelados, semelhantes a Netuno e Urano.
O destino desse sistema é fascinante. Os restos da colisão podem, com o tempo, condensar-se formando um novo planeta, possivelmente circundado por várias luas. No entanto, as circunstâncias que levaram a essa colisão cataclísmica ainda são incertas. Uma estrela ou planeta passando poderia ter perturbado suas órbitas, culminando no impacto. Para contextualizar a magnitude desse evento, a energia liberada foi equivalente a uma pequena estrela ardendo continuamente por dois anos.
Jonathan Marshall, do Instituto de Astronomia e Astrofísica da Academia Sinica em Taiwan, reforça que colisões planetárias não são novidade. Um exemplo notável é a teoria amplamente aceita de que a Lua foi formada a partir da colisão da Terra com um objeto do tamanho de Marte, chamado Theia. No entanto, Marshall anteriormente propôs uma teoria alternativa para o escurecimento de ASASSN-21qj, sugerindo que cometas se desintegrando no sistema poderiam ser a causa.
André Izidoro, da Universidade Rice em Houston, Texas, pondera sobre a possibilidade de um impacto gigante no sistema, ressaltando a prevalência de super-Terras e mini-Netunos em proximidade com outras estrelas. Portanto, impactos gigantes entre eles deveriam ser igualmente comuns. No entanto, tais eventos tornam-se menos frequentes à medida que um sistema estelar envelhece. Por exemplo, no nosso sistema solar, acredita-se que essa fase tumultuada tenha terminado cerca de 100 milhões de anos após o nascimento do Sol. Contudo, Kenworthy e sua equipe estimam que ASASSN-21qj tenha 300 milhões de anos. Se estiverem corretos, isso sugere que impactos gigantes podem ocorrer muito depois do que se pensava anteriormente.
O futuro reserva observações adicionais deste sistema, possivelmente com o auxílio do Telescópio Espacial James Webb. Kenworthy antecipa que, em 5 a 10 anos, começaremos a observar luz extra emanando do sistema, refletida pela nuvem de poeira. Se isso não ocorrer, algo completamente diferente pode estar em jogo.
Em conclusão, o estudo de ASASSN-21qj e sua colisão planetária oferece uma janela única para os eventos dinâmicos que moldam os sistemas estelares. Desafia nossas noções preconcebidas sobre colisões planetárias e promete remodelar nosso entendimento da evolução dos sistemas estelares. A observação contínua deste sistema e outros semelhantes é crucial para validar ou refutar as teorias atuais, e sem dúvida, trará mais revelações sobre o intricado balé cósmico que é a dança dos planetas.
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