A pouco mais de um ano atrás, o mundo ficou pasmo, com a primeira imagem do horizonte de eventos de um buraco negro. A imagem foi feita com a incrível técnica da interferometria, uma tecnologia que combina observações simultâneas de dois ou mais telescópios para ajudar a montar uma imagem mais precisa de um determinado objeto. Agora, usando, uma técnica similar, uma equipe internacional de astrônomos conseguiu registrar os anéis internos dos discos de formação planetária localizado a centenas de anos-luz de distância da Terra.
Os discos protoplanetários, ou discos de formação de planetas, são anéis de gás e poeira que ficam orbitando uma estrela recém-formada. Dentro desses discos, os grãos de poeira começam a colidir, se unir, formam os planetesimais e podem crescer e formar os planetas. As regiões mais internas dos discos protoplanetários, ficam a menos de 750 milhões de quilômetros da estrela, e é onde os planetas rochosos como a Terra, se formam.
Embora os astrônomos já tenham registrados algumas imagens espetaculares desses discos antes, as regiões mais internas sempre aparecem bem nebulosas, borradas nas imagens.
As regiões mais internas, onde os planetas rochosos se formam, são cobertas por poucos pixels. E é muito importante visualizar os detalhes dessas regiões para que possamos ser capazes de identificar os padrões que podem levar a formação dos planetas e também para que seja possível caracterizar as propriedades dos discos.
Para poder obter as imagens de alta resolução dessa região, os astrônomos usaram o Very Large Interferometer, ou VLTI do ESO no Chile, que combina a luz dos 4 grandes telescópios do VLT e usaram o instrumento PIONIER, numa técnica chamada de interferometria infravermelha.
Mas, se você se lembrar da foto do horizonte de eventos do buraco negro, quando se usa a técnica da interferometria não se tem uma imagem de forma direta, é preciso reconstruir matematicamente a imagem dos discos e filtrar a luz da estrela ao redor. Só depois disso foi possível observar em grande detalhe 15 diferentes discos protoplanetários.
Distinguir os detalhes na escala das órbitas de planetas rochosos como a Terra ou Júpiter, é equivalente a ser capaz de ver um ser humano na Lua, ou distinguir um fio de cabelo a 10 km de distância. A interferometria infravermelha está se tornando rotina e sendo usada muito para observar detalhes de objetos astronômicos. Combinando essa técnica com uma matemática avançada finalmente é possível transformar os resultados em imagens.
A partir das imagens, os astrônomos identificaram partes mais claras e mais escuras nos discos, que eles suspeitam podem apontar para os processos que levam à formação de planetas. Nesse mecanismo eles sugerem que essas áreas representam instabilidades no disco onde os grãos de poeira começam a crescer e se desenvolver para formar planetas.
Pesquisas futuras dessas irregularidades estão nos planos da equipe, além disso , eles querem fazer mais observações e esperam um dia poderem testemunhar um planeta rochoso se formando nas regiões internas de um disco protoplanetário.
Fonte:
https://www.iflscience.com/space/rare-family-portrait-of-planetforming-disks/