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Amostras do Asteroide Ryugu Estão Polvilhadas Com Poeira Estelar Mais Antiga Que O Sistema Solar

A descoberta de fragmentos de estrelas que antecedem nosso sistema solar em amostras do asteroide Ryugu representa um marco na pesquisa espacial. Esses fragmentos, coletados pela espaçonave japonesa Hayabusa2, parecem ter origem nas franjas congeladas do sistema solar, em vez de serem do próprio asteroide. Esses fragmentos estrangeiros podem lançar luz sobre detalhes da história do sistema solar, uma perspectiva que a cosmoquímica Ann Nguyen, do Centro Espacial Johnson da NASA, em Houston, descreve como única.

A espaçonave Hayabusa2 visitou o asteroide em 2018 e 2019 e retornou à Terra com 5,4 gramas da rocha espacial em 2020. Essas amostras foram examinadas em laboratório de maneiras que não podem ser feitas com telescópios ou mesmo outras espaçonaves, como obter medidas detalhadas da composição química. Esses exames revelaram que Ryugu é rico em carbono e é feito do mesmo material que alguns dos meteoritos mais raros encontrados na Terra. Além disso, foi descoberto que o asteroide foi alterado pela água em algum momento de seu passado.

Os cientistas acreditam que Ryugu se formou a partir dos detritos de um asteroide maior, que se despedaçou em uma colisão e se re-formou em uma pilha solta de escombros. No entanto, o foco da pesquisa de Nguyen é diferente. Ela está interessada em grãos presolares, minúsculas partículas de material que se formaram a partir das cinzas de estrelas moribundas. Esses grãos contêm isótopos diferentes daqueles formados pelo sol, revelando suas origens alienígenas.

Nguyen e sua equipe examinaram duas amostras de Ryugu, cada uma com menos de um milímetro de tamanho. Eles selecionaram minúsculos fragmentos de rocha, chamados clastos, que se destacavam do resto da amostra de Ryugu. Dois desses clastos são quimicamente diferentes do resto de Ryugu, com menores teores de oxigênio, magnésio e silício, e maiores quantidades de ferro e enxofre.

Os clastos também têm concentrações muito mais altas de grãos presolares do que o restante do material de Ryugu. Os grãos contêm carbeto de silício, que é facilmente destruído pela água, além de uma abundância extra de matéria orgânica. Isso significa que os grãos não poderiam ter sido parte do corpo pai de Ryugu, que foi extensivamente alterado pela água. Os pesquisadores acreditam que os grãos eram pedaços de um cometa que se formou no cinturão de Kuiper do sistema solar externo, onde as condições eram frias e secas. Em seguida, os grãos se espalharam sobre os escombros que formaram Ryugu em algum momento entre a destruição do asteroide original e a formação da pilha de escombros.

Ainda não está claro como o material do sistema solar externo encontrou seu caminho para Ryugu. Talvez o asteroide tenha se formado mais longe do sol – e, portanto, mais perto do cinturão de Kuiper – do que está hoje. A descoberta é muito emocionante, de acordo com o cosmoquímico Philipp Heck, do Museu de História Natural do Campo, em Chicago, que não estava envolvido no novo trabalho. Ele acredita que os clastos que foram incorporados em Ryugu após sua formação são realmente valiosos, talvez até mais valiosos do que a própria amostra de Ryugu.

Os clastos podem revelar do que eram feitos os ingredientes inalterados que formaram o sistema solar. Heck compara o disco que formou os planetas a uma massa de pão. Uma vez que a massa está bem misturada, é difícil dizer o que entrou nela. Clastos como os da amostra de Ryugu são como pedaços de farinha não misturada que sobreviveram intactos no pão final – não são deliciosos, mas muito informativos.

“Se quisermos entender os ingredientes dos quais o sistema solar se formou, os ingredientes originais, precisamos encontrar esses clastos muito raros e inalterados”, diz Heck. “Este é um deles.” Essa descoberta reforça a importância da exploração espacial contínua e da pesquisa para entender melhor o universo em que vivemos.

Fonte:

https://www.sciencenews.org/article/ryugu-asteroid-stardust-old-space

Sérgio Sacani

Formado em geofísica pelo IAG da USP, mestre em engenharia do petróleo pela UNICAMP e doutor em geociências pela UNICAMP. Sérgio está à frente do Space Today, o maior canal de notícias sobre astronomia do Brasil.

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