Um estudo recentemente publicado na revista Nature Astronomy lançou luz sobre o intrigante papel do campo magnético da Terra na formação de água na superfície lunar. Liderado pela prestigiada Universidade do Havaí (UH), este estudo surge em um momento de crescente interesse na presença de gelo de água na superfície lunar. Confirmou-se que o gelo de água existe nas regiões permanentemente sombreadas (PSRs) da Lua, particularmente nos polos norte e sul. Esta descoberta é ainda mais intrigante quando consideramos o pequeno ângulo de inclinação axial da Lua, que é de apenas 1,5 graus, em contraste com os 23,5 graus da Terra.
A compreensão da presença de água na superfície lunar não é apenas uma questão de curiosidade científica. Ela pode fornecer insights valiosos sobre a formação e evolução da própria Lua. Atualmente, a hipótese dominante entre os cientistas é que a Lua se formou a partir de uma colisão cataclísmica entre a Terra e um objeto do tamanho de Marte, ocorrida aproximadamente 4,5 bilhões de anos atrás. Esta colisão teria ocorrido cerca de 100 milhões de anos após a formação da Terra.
O campo magnético da Terra, originário do núcleo externo líquido do nosso planeta em rotação, desempenha um papel fundamental na sustentação da vida em nosso mundo. Ele nos protege de radiações solares prejudiciais e de fenômenos espaciais que poderiam, em sua ausência, erodir nossa atmosfera e tornar a Terra inabitável. Ao contrário da nossa atmosfera, que é esfericamente simétrica, o campo magnético é distorcido e moldado pelo vento solar. Esta interação resulta em uma longa cauda magnética, composta por duas partes principais: a folha de plasma e a magnetocauda.
Por muito tempo, acreditou-se que o vento solar fosse o principal responsável pela formação de gelo de água na Lua. No entanto, o foco deste estudo recente foi na folha de plasma e na magnetocauda. A cada mês, durante sua órbita, a Lua passa pela magnetocauda da Terra, proporcionando aos cientistas um laboratório natural para estudar os processos de formação de água na superfície lunar.
Dr. Shuai Li, pesquisador assistente da Escola UH M?noa de Ciência e Tecnologia Oceânica e Terrestre e autor principal do estudo, destacou a singularidade deste fenômeno. Segundo ele, quando a Lua está fora da magnetocauda, sua superfície é bombardeada pelo vento solar. No entanto, dentro da magnetocauda, a presença de prótons de vento solar é quase nula, e esperava-se que a formação de água caísse drasticamente.
Para aprofundar essa questão, Dr. Li e sua equipe analisaram dados de satélite obtidos entre 2008 e 2009. Estes dados foram coletados pelo Moon Mineralogy Mapper (M3) da NASA, a bordo da espaçonave Chandrayaan-1 da Organização de Pesquisa Espacial Indiana. A análise revelou grandes quantidades de água na superfície lunar, especialmente no lado visível da Lua, ocorrendo em diferentes momentos conforme a Lua passava pela magnetocauda da Terra.
Uma descoberta surpreendente foi que, apesar da ausência de bombardeio pelo vento solar durante a passagem da Lua pela magnetocauda, havia uma abundância de água na superfície lunar. Esta presença foi atribuída a elétrons de alta energia emanando da folha de plasma do campo magnético. Foi observado que a quantidade de água aumenta nas latitudes médias da Lua à medida que entra e sai da magnetocauda, mas não muda enquanto a Lua atravessa o centro da magnetocauda.
Uma característica notável da Lua é que ela está travada por marés com a Terra, o que significa que sempre mostra o mesmo lado para o nosso planeta. Dr. Li expressou sua surpresa com as observações, notando que a formação de água na magnetocauda é quase idêntica à observada quando a Lua está fora dela. Ele sugeriu que, dentro da magnetocauda, podem existir processos adicionais de formação de água ou novas fontes de água não diretamente associadas à implantação de prótons de vento solar.
Este estudo é uma continuação de pesquisas anteriores conduzidas por Dr. Li em 2018 e 2020. O primeiro tratou da descoberta de gelo de água nas regiões polares da Lua, enquanto o segundo examinou como a superfície lunar está enferrujando devido ao oxigênio presente na magnetocauda da Terra.
Olhando para o futuro, Dr. Li expressou seu desejo de colaborar com o programa Artemis da NASA em uma missão lunar. O objetivo seria rastrear a conexão entre o ambiente de plasma da Terra e a quantidade de água na superfície lunar, especialmente nos polos.
A história da Lua está intrinsecamente ligada à da Terra. A hipótese atual sugere que, após a colisão cataclísmica que levou à sua formação, a Lua passou por bilhões de anos de impactos e radiação solar. Este processo resultou na formação de gelo de água nas regiões polares, também conhecidas como regiões permanentemente sombreadas.
A questão que permanece é: quais novas descobertas os pesquisadores farão sobre a formação e evolução da água na Lua nos próximos anos e décadas? Só o tempo dirá. E é por isso que a ciência, com sua busca incessante pelo conhecimento, continua a ser uma força motriz em nossa compreensão do universo.
FONTE:
https://www.universetoday.com/163359/did-the-moons-water-come-from-earth/