Para citar a faixa-título do terceiro álbum da banda de rock sueca Europe, “It’s the final countdown” para o tão esperado voo do Ariane 6. Após anos de atrasos, a Agência Espacial Europeia (ESA) e a Arianespace estão a menos de uma semana do lançamento planejado.
O foguete, com 62 metros de altura, decolará do Porto Espacial Europeu na Guiana Francesa, a cerca de 4 km da antiga plataforma de lançamento do Ariane 5. Este será o primeiro de dois lançamentos planejados do Ariane 6 em 2024.
“Devemos lembrar que este voo inaugural é também o início de uma fase muito importante no programa Ariane 6”, disse Franck Huiban, Chefe do Programa Civil da ArianeGroup, durante uma coletiva de imprensa pré-lançamento em 25 de junho.
O Ariane 6 representa o culminar de um esforço colaborativo entre 13 estados europeus e mais de 600 empresas em toda a Europa, com a Arianespace como contratante principal. O local de lançamento é gerido pela agência espacial francesa, CNES (Centre National d’Etudes Spatiales).
Uma vez que o foguete entre em serviço operacional, será gerido pela Arianespace, que cuidará de seu uso comercial a partir do segundo lançamento. A ESA continuará a fornecer requisitos para missões governamentais, como futuros lançamentos dos satélites de navegação Galileo.
O lançamento do Ariane 6 é um marco significativo não apenas para a ESA, mas também para a indústria aeroespacial europeia como um todo. Este evento simboliza a capacidade da Europa de desenvolver e lançar veículos de lançamento avançados, competindo em um mercado global dominado por gigantes como SpaceX e United Launch Alliance. A introdução do Ariane 6 promete fortalecer a posição da Europa no cenário espacial internacional, oferecendo uma plataforma robusta e versátil para uma variedade de missões espaciais.
Além disso, o lançamento inaugural do Ariane 6 marca o início de uma nova era para a exploração espacial europeia, destacando a importância da colaboração internacional e da inovação tecnológica. A capacidade de lançar satélites e outras cargas úteis de maneira eficiente e confiável é crucial para a continuidade das missões científicas e comerciais, bem como para a manutenção da autonomia europeia no acesso ao espaço.
Com a decolagem iminente, a expectativa é alta entre cientistas, engenheiros e entusiastas do espaço. O sucesso deste lançamento inaugural não só demonstrará a viabilidade técnica do Ariane 6, mas também abrirá caminho para futuras missões que explorarão novas fronteiras no espaço e contribuirão para o avanço do conhecimento humano sobre o universo.
O Ariane 6 foi concebido para substituir o Ariane 5, oferecendo maior flexibilidade e capacidade de carga útil, ao mesmo tempo em que reduz os custos de lançamento. A Arianespace, como contratante principal, coordenou os esforços de diversas entidades, enquanto a agência espacial francesa, CNES (Centre National d’Etudes Spatiales), gerencia o local de lançamento em Kourou, na Guiana Francesa.
O foguete será lançado na configuração “Ariane 62”, que inclui dois propulsores de foguete sólido, cada um fornecendo um empuxo de 3500 kN (aproximadamente 787.000 libras). Esta configuração é projetada para missões que não exigem a capacidade máxima de carga útil do Ariane 6, oferecendo uma solução mais econômica para uma variedade de lançamentos. A estrutura de dois estágios do foguete utiliza uma combinação de hidrogênio líquido e oxigênio líquido em ambos os estágios, semelhante ao sistema de lançamento espacial da NASA (Space Launch System).
O primeiro estágio do Ariane 6 é equipado com o motor Vulcain 2.1, uma evolução do motor Vulcain utilizado no Ariane 5. Este motor é projetado para fornecer um desempenho robusto e confiável durante a fase inicial do voo. No estágio superior, o foguete é impulsionado por um único motor Vinci, capaz de queimar por até 900 segundos e gerando um empuxo de 180 kN (40.500 libras). Esta capacidade de queima prolongada é crucial para a inserção precisa de satélites em órbita.
Com um peso de decolagem de aproximadamente 540 toneladas (1,2 milhão de libras), o Ariane 62 é um gigante da engenharia aeroespacial. As carenagens de carga útil, com 20 metros de comprimento (66 pés), protegem os satélites e outros equipamentos durante a ascensão através da atmosfera terrestre. Este design meticuloso e inovador reflete a dedicação da equipe europeia em criar um lançador que não apenas atenda, mas exceda as expectativas em termos de desempenho e versatilidade.
O Ariane 6 está posicionado para desempenhar um papel crucial nas futuras missões espaciais da Europa, tanto para clientes institucionais quanto comerciais. Sua capacidade de adaptação a diferentes tipos de missões e cargas úteis promete uma nova era de acessibilidade e eficiência no acesso ao espaço.
A missão inaugural do Ariane 6 não é apenas um marco tecnológico, mas também uma oportunidade para uma variedade de empresas, agências e pesquisadores testarem e validarem suas tecnologias no espaço. O foguete está configurado para atuar como uma missão de compartilhamento de carona, transportando múltiplos satélites e cápsulas de reentrada. No total, há quatro deployers a bordo, responsáveis pela liberação de nove satélites e duas cápsulas de reentrada.
Entre os satélites a bordo, destaca-se o CURIE, um satélite da NASA projetado para realizar experimentos de interferometria de rádio. O CURIE é, na verdade, um par de espaçonaves conectadas que se separarão uma vez em órbita. Esta separação permitirá aos pesquisadores da NASA coletar ondas de rádio de duas localizações distintas simultaneamente, utilizando uma técnica chamada “análise interferométrica”. Esta abordagem inovadora permitirá a detecção mais precisa das origens das ondas de rádio, incluindo aquelas provenientes do Sol e outras fontes no céu.
Além do CURIE, a missão inclui cinco payloads fixos que permanecerão anexados ao estágio superior do Ariane 6. Entre eles está o YPSat (Young Professionals Satellite), que tem a função de registrar vídeos documentando a missão de 180 minutos. O YPSat também serve como plataforma para hospedar outros payloads, como o OscarQube, que medirá o campo magnético da Terra durante a ascensão do lançamento, e o AMSAT, uma antena que suporta comunicação via rádio amador.
As duas cápsulas de reentrada a bordo, embora não sejam recuperadas, têm um destino específico: o “Ponto Nemo”, uma região do Oceano Pacífico conhecida por ser a mais distante de qualquer terra firme. Michel Bonnet, principal da missão inaugural da ESA, explicou que a recuperação dessas cápsulas seria uma atividade extremamente custosa, justificando assim a decisão de não recuperá-las.
O lançamento também inclui uma variedade de satélites menores e experimentos científicos, destacando a natureza colaborativa e multifacetada da missão. A complexidade e a diversidade dos payloads a bordo refletem a capacidade do Ariane 6 de atender a uma ampla gama de necessidades, desde missões científicas até comerciais.
Loïc Bourillet, chefe de Aquisição de Serviços de Lançamento Coletivo da ESA, ressaltou a importância deste primeiro voo, afirmando que “o primeiro voo de um novo foguete é sempre um momento assombroso, pois há centenas de milhares de detalhes que precisam funcionar em perfeita harmonia – pela primeira vez juntos em sua totalidade”. Este lançamento inaugural, portanto, não é apenas um teste do foguete em si, mas também uma prova da capacidade da Europa de continuar sendo um jogador significativo no cenário espacial global.
O lançamento planejado do foguete Ariane 6, marcado para 9 de julho de 2024, ocorre quase quatro anos após a data inicialmente prevista. Em janeiro de 2017, a Agência Espacial Europeia (ESA) anunciou que o primeiro voo do Ariane 6 aconteceria em 2020. No entanto, uma série de desafios técnicos e logísticos atrasou significativamente o cronograma. Entre os principais obstáculos estavam problemas de desenvolvimento com os motores do primeiro e segundo estágios.
Lucia Linares, chefe de estratégia de transporte espacial e lançamentos institucionais da ESA, destacou durante uma coletiva de imprensa pré-lançamento que, como em qualquer grande desenvolvimento, a equipe enfrentou problemas e atrasos por diversos motivos. Um dos fatores foi a mudança de escolhas tecnológicas, que se mostrou necessária devido à falta de capacidade industrial para enfrentar um desenvolvimento tão significativo desde o início do Ariane 5.
Além disso, a perda do foguete russo Soyuz representou um ponto crítico para a Europa. Com a retirada do Soyuz, a ESA não pôde contar com esse veículo de lançamento para preencher a lacuna entre o voo final do Ariane 5, ocorrido em 5 de julho de 2023, e a estreia do Ariane 6. Essa situação aumentou a pressão sobre a equipe de desenvolvimento para garantir que o Ariane 6 estivesse pronto para atender às necessidades de lançamento da Europa.
Franck Huiban, chefe do Programa Civil da ArianeGroup, acrescentou que, durante o desenvolvimento, a equipe percebeu que o foguete precisava de mais capacidades do que as originalmente planejadas. Isso levou a uma série de inovações entre o Ariane 6 e seu antecessor, o Ariane 5. Em particular, o estágio superior do Ariane 6 foi equipado com dois novos sistemas de propulsão: o motor re-ignitável Vinci e uma unidade de potência auxiliar. Essas inovações proporcionam ao Ariane 6 uma capacidade de missão muito mais ampla em comparação com o Ariane 5, mas também introduziram dificuldades adicionais no processo de desenvolvimento.
Uma das características inovadoras do estágio superior do Ariane 6 é a capacidade de ser interrompido e reiniciado, permitindo uma ignição final para desorbitar o estágio superior e queimá-lo na atmosfera terrestre, ou reorbitá-lo em uma órbita cemitério, fora do caminho de satélites operacionais ou detritos espaciais. Essa funcionalidade é crucial para minimizar o risco de colisões no espaço e garantir a sustentabilidade das operações espaciais.
Apesar dos desafios enfrentados, a equipe de desenvolvimento do Ariane 6 manteve o foco em entregar um veículo de lançamento capaz de atender às exigências tanto de missões institucionais quanto comerciais. Com a certificação do foguete, a Arianespace planeja realizar entre nove e doze lançamentos anuais, começando com o segundo voo previsto para dezembro de 2024.
O Ariane 6 entra em um cenário de lançamentos espaciais atualmente dominado pela SpaceX, que já realizou 67 lançamentos em 2024 com seu foguete Falcon 9 e um com o Falcon Heavy. Além disso, enfrenta a concorrência de veículos de lançamento mais novos, como o foguete Vulcan da United Launch Alliance (ULA), que pretende lançar até 25 vezes anualmente, e o futuro foguete New Glenn da Blue Origin, empresa do bilionário Jeff Bezos.
Para manter sua competitividade em um mercado tão dinâmico, a Agência Espacial Europeia (ESA) e a Arianespace têm uma estratégia clara. Segundo Lucia Linares, chefe de estratégia de transporte espacial e lançamentos institucionais da ESA, o foco principal do Ariane 6 é “servir às missões institucionais europeias.” Este é o motivo central pelo qual o setor público está financiando este lançador, garantindo assim o acesso ao espaço para missões da ESA, da União Europeia, da EUMETSAT (Organização Europeia para a Exploração de Satélites Meteorológicos) e de todos os estados membros.
Além de cumprir essa missão institucional, o Ariane 6 também será operado para atender clientes comerciais, ajudando a compensar os custos para o setor público. Esta abordagem dual permite que o lançador sirva tanto a missões governamentais quanto a clientes comerciais, sob a responsabilidade de diferentes caminhos operacionais.
Apesar da confiança da ESA e da Arianespace na capacidade do Ariane 6 de competir no mercado, já surgiram alguns obstáculos. Em junho, a EUMETSAT anunciou que o lançamento de seu satélite Meteosat MTG-S1 seria transferido do terceiro lançamento do Ariane 6 (o primeiro a utilizar a configuração Ariane 64) para o foguete Falcon 9 da SpaceX. Esta decisão foi recebida com surpresa e desapontamento por Philippe Baptiste, presidente e CEO do CNES (Centro Nacional de Estudos Espaciais da França), que a descreveu como uma mudança “bastante brutal” e expressou sua frustração em uma postagem no LinkedIn.
Josef Aschbacher, diretor-geral da ESA, também manifestou sua decepção, afirmando que a decisão da EUMETSAT era “difícil de entender.” Ele reiterou que os planos ainda preveem mais um lançamento em 2024 e que a rampa de lançamento do Ariane 6 não mudou, exceto pela perda do MTG-S1. Aschbacher enfatizou a importância do apoio europeu ao acesso autônomo ao espaço, que está prestes a se concretizar.
Com múltiplos locais de lançamento na Flórida e na Califórnia, o Falcon 9 da SpaceX tem sido chamado várias vezes para preencher a lacuna deixada pela falta de lançadores na Europa. Recentemente, foguetes Falcon 9 foram usados para lançar o satélite EarthCARE (Earth Cloud Aerosol and Radiation Explorer), uma colaboração entre a ESA e a Agência de Exploração Aeroespacial do Japão (JAXA), e um par de satélites Galileo.
Assumindo um lançamento inaugural bem-sucedido em 9 de julho, o plano é que o segundo lançamento do Ariane 6, que também será o primeiro lançamento comercial, ocorra em dezembro de 2024.
O lançamento inaugural do Ariane 6, marcado para 9 de julho de 2024, representa um marco significativo para a Agência Espacial Europeia (ESA) e para a indústria aeroespacial europeia. No entanto, a decisão recente da EUMETSAT (Organização Europeia para a Exploração de Satélites Meteorológicos) de transferir o lançamento de seu satélite Meteosat MTG-S1 para o foguete Falcon 9 da SpaceX gerou uma onda de repercussões e questionamentos.
Philippe Baptiste, presidente e CEO do CNES (Centre National d’Etudes Spatiales), expressou sua decepção em uma publicação no LinkedIn, classificando a mudança como uma “alteração bastante brutal”, especialmente considerando que o lançamento estava previsto para ocorrer em breve. Baptiste destacou que as condições técnicas para um lançamento no Ariane 6 estavam atendidas e que o lançador estava disponível, questionando as razões por trás da decisão da EUMETSAT em um momento crítico para os esforços espaciais europeus.
Josef Aschbacher, diretor-geral da ESA, também manifestou sua frustração nas redes sociais, afirmando que a decisão da EUMETSAT era “difícil de entender”. Ele reiterou que os planos para mais um lançamento em 2024 e a intensificação do Ariane 6 não foram alterados, exceto pela perda do MTG-S1. Aschbacher enfatizou a importância do apoio europeu para garantir o acesso autônomo ao espaço, um objetivo que está prestes a ser alcançado.
A decisão da EUMETSAT reflete a complexidade e os desafios enfrentados pela ESA e pela Arianespace em um mercado de lançamentos cada vez mais competitivo. Com a SpaceX dominando o cenário com 67 lançamentos do Falcon 9 e um do Falcon Heavy em 2024, além de novos concorrentes como o foguete Vulcan da United Launch Alliance (ULA) e o futuro New Glenn da Blue Origin, a pressão sobre o Ariane 6 para se estabelecer como uma alternativa viável é enorme.
Apesar dessas dificuldades, a ESA e a Arianespace permanecem confiantes na capacidade do Ariane 6 de competir no mercado comercial. A estratégia central do Ariane 6 é servir missões institucionais europeias, garantindo o acesso ao espaço para a ESA, a União Europeia, a EUMETSAT e os estados membros. Além disso, o lançador também atenderá clientes comerciais, ajudando a compensar os custos para o setor público.
O futuro do Ariane 6 parece promissor, com planos para uma média de nove a doze lançamentos anuais após a certificação do foguete. O segundo lançamento, previsto para dezembro de 2024, será o primeiro lançamento comercial. Em 2025, estão planejados seis lançamentos do Ariane 6, seguidos por oito em 2027. Com uma carteira de aproximadamente 30 missões, incluindo 18 dedicadas ao Projeto Kuiper da Amazon, o Ariane 6 está posicionado para desempenhar um papel crucial no cenário espacial global.
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