Um artigo publicado na revista “Monthly Notices of the Royal Astronomical Society” sugere a existência de vários buracos negros no aglomerado de Hyades — o aglomerado aberto mais próximo do nosso sistema solar. Isso os tornaria os buracos negros mais próximos da Terra já detectados.
O estudo é fruto de uma colaboração entre um grupo de cientistas liderado por Stefano Torniamenti, da Universidade de Pádua (Itália), com a participação significativa de Mark Gieles, professor do ICREA na Faculdade de Física, o Instituto de Ciências do Cosmos da Universidade de Barcelona (ICCUB) e o Instituto de Estudos Espaciais da Catalunha (IEEC), e Friedrich Anders (ICCUB-IEEC).
Especificamente, a descoberta ocorreu durante uma estadia de pesquisa do especialista Stefano Torniamenti no ICCUB, uma das unidades de pesquisa que compõem o IEEC.
Desde a sua descoberta, os buracos negros têm sido um dos fenômenos mais misteriosos e fascinantes do universo, tornando-se objeto de estudo para pesquisadores em todo o mundo. Isso é particularmente verdadeiro para buracos negros menores, pois foram observados durante a detecção de ondas gravitacionais. Desde a detecção das primeiras ondas gravitacionais em 2015, especialistas observaram muitos eventos que correspondem a fusões de pares de buracos negros de baixa massa.
Para o estudo publicado, a equipe de astrofísicos utilizou simulações que rastreiam o movimento e evolução de todas as estrelas em Hyades — localizadas a uma distância do sol de cerca de 45 parsecs ou 150 anos-luz — para reproduzir seu estado atual.
Aglomerados abertos são grupos de centenas de estrelas que compartilham certas propriedades, como idade e características químicas. Os resultados da simulação foram comparados com as posições e velocidades reais das estrelas em Hyades, agora conhecidas precisamente a partir de observações feitas pelo satélite Gaia da Agência Espacial Europeia (ESA).
“Nossas simulações só podem coincidir simultaneamente com a massa e o tamanho de Hyades se alguns buracos negros estiverem presentes no centro do aglomerado atualmente (ou até recentemente)”, diz Stefano Torniamenti, pesquisador pós-doutorado na Universidade de Pádua e primeiro autor do artigo.
As propriedades observadas de Hyades são melhor reproduzidas por simulações com dois ou três buracos negros no presente. No entanto, simulações onde todos os buracos negros foram ejetados (menos de 150 milhões de anos atrás, aproximadamente o último quarto da idade do aglomerado) ainda podem fornecer uma boa correspondência, pois a evolução do aglomerado não poderia apagar os vestígios de sua população anterior de buracos negros.
Os novos resultados indicam que os buracos negros nascidos em Hyades ainda estão dentro do aglomerado ou muito próximos a ele. Isso os torna os buracos negros mais próximos do sol, muito mais próximos que o candidato anterior (o buraco negro Gaia BH1, que está a 480 parsecs do sol).
Nos últimos anos, o avanço do telescópio espacial Gaia tornou possível, pela primeira vez, estudar a posição e velocidade das estrelas de aglomerados abertos em detalhes e identificar estrelas individuais com confiança.
“Esta observação nos ajuda a entender como a presença de buracos negros afeta a evolução dos aglomerados estelares e como os aglomerados estelares, por sua vez, contribuem para as fontes de ondas gravitacionais”, diz Mark Gieles, membro do Departamento de Física Quântica e Astrofísica da UB e anfitrião do primeiro autor em Barcelona. “Esses resultados também nos fornecem insights sobre como esses objetos misteriosos estão distribuídos pela galáxia.”
Fonte:
https://phys.org/news/2023-09-hints-closest-black-holes-earth.html