Um princípio fundamental do modelo moderno da cosmologia está sendo colocado em questão. Uma pesquisa de mais de 1 milhão de galáxias através do cosmos tem mostrado que a distribuição da matéria pode não ser a mesma em todas as direções, o que poderia mudar muito do nosso entendimento sobre o universo.
O princípio cosmológico nos diz que, observando o universo numa escala suficientemente grande, a distribuição da matéria deve ser suave e regular em todas as direções. Essa premissa é usado em muitos cálculos cosmológicos, e de forma bem notável no modelo padrão da cosmologia atual chamado de lambda-CDM.
Um grupo de pesquisadores resolveu testar esse princípio cosmológico observando mais de 1.3 milhão de quasares, que são um tipo de Núcleo Ativo de Galáxias, ou seja, galáxias que possuem no seu centro buracos negros supermassivos, circundados por um disco de acreção e que estão em franca atividade devorando essa matéria.
Os pesquisadores esperavam ver um pequeno desiquilíbrio, ou uma falta de simetria devido ao movimento do nosso Sistema Solar e da galáxia através do espaço. Na nossa direção de movimento era esperado ver mais objetos e na direção oposta um pouco menos de objetos.
Esse efeito Doppler cósmico tem sido medido no passado usando a radiação cósmica de fundo, um mar de radiação deixado desde de o Big Bang. Mas o que aconteceu é que esse desiquilíbrio na distribuição dos quasares foi mais do que o dobro do que se esperava.
Esse desajuste entre a distribuição de quasares e a radiação cósmica de fundo pode apontar para um erro fundamental no modelo cosmológico padrão. Se ele se mantiver ele poderia mudar o que nós pensamos que sabermos sobre o Big Bang, e os momentos que se seguiram depois da formação do universo, o que poderia afetar a forma e a expansão do cosmos.
De acordo com o modelo lambda-CDM, o universo é irregular na escala em que vivemos, a escala das galáxias e dos aglomerados de galáxias, mas ele vai se tornando mais suave à medida que vamos aumentando essa escala. Se essa análise dos quasares estiver realmente correta, ela irá mostrar que as coisas não ficam tão suaves tão rápido como se imaginava, e isso implica que o modelo lambda-CDM não está certo.
Alguns mecanismos físicos poderiam resolver essa discrepância. A explicação mais elementar é que nós estamos nos movendo muito mais rápido pelo universo do que se pensava. Mas existem possibilidades mais complexas, como por exemplo, uma inesperada curvatura no espaço-tempo ou alguma propriedade mais estranha da própria energia escura.
O lambda-CDM não nos conta toda a história e agora nós estamos chegando perto de ir além desse modelo e analisar o universo de forma mais profunda. Devido a todo avanço que temos hoje é possível ver estruturas intrínsecas do universo, muito melhor do que se via antes.
Descobrir o que são essas estruturas e como elas se diferem do nosso entendimento atual sobre o universo requer mais observações da distribuição da matéria em grande escala, usando não somente os quasares mas também muitos outros tipos de objetos cosmológicos que possam nos ajudar.
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