fbpx
30 de dezembro de 2024

Dust Devils Podem Agitar As Dunas de Titã

As condições meteorológicas no grande satélite de Saturno, Titã, o mundo distante que pode ser o mais parecido com a Terra em todo o Sistema Solar, parecem favorecer a formação dos chamados dust devils, ou redemoinhos de areia.

Se isso for verdade, esses redemoinhos podem ser os mecanismos primários responsáveis por mover a poeira na superfície de Titã, assim como já são em Marte.

A sonda Cassini, que estudou o sistema de Saturno entre os anos de 2004 e 2017, observou dunas na região equatorial do satélite cobrindo cerca de 30% da sua superfície e também observou uma grande tempestade de poeira.

Acredita-se que a poeira nas dunas de Titã se origine à medida que aerossóis de hidrocarbonetos precipitem da atmosfera do satélite. Lembrando que em Titã os hidrocarbonetos são líquidos, e como na Terra existe um ciclo de água, lá existe um ciclo de metano, etano e outros hidrocarbonetos.

As grandes e raras tempestades de areia parecem impressionantes, mas os dust devils levantam mais poeira no total, na atmosfera, mesmo na Terra, onde os ventos são mais influentes do que em Marte e Titã.

Os ventos na superfície de Titã normalmente são fracos. A menos que tenha uma grande tempestade de poeira acontecendo por lá, provavelmente não há muito vento, e assim, os dust devils podem ser a uma das únicas maneiras de transportar a poeira pelo satélite, se eles existirem.

Os dust devils não foram observados em Titã. O que os pesquisadores fizeram foi prever a possível presença deles aplicando modelos meteorológicos aos dados adquiridos pela sonda Huygens da missão Cassini em 2005 enquanto descia pela atmosfera do satélite.

Os dust devils se formam em condições secas e tranquilas, quando a luz do Sol esquenta o solo e o ar perto da superfície. O ar quente ascendente cria vórtices que são visíveis pela areia e pela poeira que é agitada e sobe junto com esse ar. Os dust devils compartilham algumas propriedades físicas com os tornados, mas são sempre secos e não criam estruturas muito grandes e destrutivas. Mas os cientistas ainda não sabem como os dust devils funcionam de forma completa.

Quando os cientistas fazem as contas de quanta poeira os dust devils levantam com base na velocidade do vento observada, eles parecem ser capaz de levantar mais poeira do que o esperado. Para que isso aconteça deve existir outro mecanismo que ajuda no processo, ou as equações que os cientistas usam estão erradas.

Os cientistas costumam sobrevoar determinadas regiões da Terra com drones carregando instrumentos meteorológicos para que eles possam entender a formação e as propriedades dos dust devils.

As condições extremamente secas de Marte, por exemplo, é excepcional para criar muitos dust devils, principalmente no verão, quando eles ficam mais intensos e chegam a atingir 8 km de altura. Como a atmosfera de Marte é muito fina, mesmo um vento com a velocidade de um furacão causa apenas uma brisa no planeta. Isso faz com que os dust devils sejam cruciais para movimentar toda a poeira em Marte de forma global.

Os cientistas conseguem observar os dust devils na superfície marciana e ver como é a sua estrutura interna, mas eles ainda não conseguem estimar a quantidade de poeira que esses redemoinhos estão levantando. A atmosfera de Marte é realmente empoeirada e a poeira tem um papel importante na regulação do clima. Os dust devils, por sua vez, são os principais mecanismos para movimentar toda essa poeira.

Se eles existirem em Titã, podem ter uma importância parecida, embora os ventos em Titã sejam fracos, mas por outro motivo, a atmosfera de Titã tem uma densidade 1.5 vezes a da Terra, mas o satélite só tem 1/7 da gravidade da Terra. Isso quer dizer que movimentar essa atmosfera é muito difícil.

Assim como na Terra, a atmosfera de Titã é composta na sua maior parte por nitrogênio, mas também tem quantidades significativas de metano e etano. Titã é o único mundo no Sistema Solar, além da Terra, onde os cientistas já observaram evidências de líquido na superfície, mas, como eu falei, esse líquido não é a água e sim hidrocarbonetos.

Bem, se tem ou não redemoinhos de poeira em Titã, nós só vamos saber lá por 2034. Nesse ano, a missão Dragonfly da NASA deve chegar em Titã e assim ela poderá registrar esses redemoinhos, se é que eles existem. Vamos aguardar.

Fonte:

https://phys.org/news/2020-04-devils-roam-hydrocarbon-dunes-saturn.html

Sérgio Sacani

Formado em geofísica pelo IAG da USP, mestre em engenharia do petróleo pela UNICAMP e doutor em geociências pela UNICAMP. Sérgio está à frente do Space Today, o maior canal de notícias sobre astronomia do Brasil.

Veja todos os posts

Arquivo