Nessa quarta-feira, dia 11 de Julho de 2019, um avião um pouco incomum pôde ser visto voando sobre a Base de Edwards da Força Aérea no Sul da Califórnia. Diferente de das aeronaves militares que são comuns de serem vistas na área, esse era um Boeing 747 modificado, e a na sua cauda podia se ver escrito somente uma única palavra: VIRGIN. Um foguete de 70 pés de comprimento foi colocado na sua asa esquerda e depois de cerca de 30 minutos de decolar, o piloto Kelly Latimer liberou o foguete e o enviou para cair no deserto a uma altura de 35 mil pés.
Embora o foguete estivesse totalmente carregado, não se sabe com o que, seus motores nunca foram acionados, e isso foi de propósito. O foguete na verdade, caiu livremente na terra, e isso foi feito para a empresa ver como o foguete se comporta durante os primeiros segundos de queda livre. Esse foi o último grande teste para o sistema de lançamento chamado de Virgin Orbit, que irá lançar foguetes a partir do jato conhecido como Cosmic Girl, para enviar pequenos satélites para a órbita da Terra. Essa é uma manobra complicada mas poderia reduzir de forma significante os custos de se atingir o espaço.
Uma grande fração da massa dos lançamentos de foguetes verticais é o combustível, sendo que boa parte dele é necessário para vencer o arrasto atmosférico e a gravidade da Terra perto da superfície. Tendo um avião que pode carregar um foguete para as altas altitudes já economizaria muito do seu combustível. Diferente dos foguetes, os aviões não precisam de um combustível criogênico para chegar a altas altitudes, o que também ajuda a cortar a massa do foguete e reduzir o custo de um lançamento orbital. A Virgin estima que levar uma carga para órbita com o seu próprio foguete, o Launcher One custará somente 12 milhões de dólares, que é quase um troco para os termos da indústria espacial.
As vantagens de um lançamento horizontal feito por aviões são conhecidas por décadas, mas só recentemente a indústria espacial começou a se interessar pelo conceito. A exceção é a Orbital ATK, que tornou-se a primeira empresa a usar o lançamento horizontal usando aviões para levar satélites para a órbita da Terra, em 1990, e continua a usar o seu sistema até hoje. Só para vocês saberem, o Satélite de Coleta de Dados, o primeiro satélite brasileiro foi lançado dessa maneira. A última década tem visto o ressurgimento do interesse nesse conceito, atraindo novas empresas como a Stratolaunch, a XCOR e a Generation Orbit, bem como empresas mais antigas como a Boeing e a Lockheed Martin. Mesmo a SpaceX flertou brevemente com a ideia de realizar lançamentos horizontais usando para isso uma versão modificada do seu foguete Falcon 9, antes de abandonar o projeto em 2012. Mas entre as novas empresas, só a Virgin está levando a sério o sistema de lançamento horizontal por meio de um avião.
Agora que a Virgin Orbit completou com sucesso seu teste de queda, o próximo passo será testar o lançamento para a órbita, que pode ocorrer daqui a aproximadamente 3 meses. Se o teste for realizado com sucesso, a Virgin Orbit irá abrir oficialmente o sistema de lançamento para os negócios e entrando de cabeça no mercado de lançamento de pequenos satélites. Aparentemente a Virgin Orbit não terá problemas para atrair clientes. Ela já está firmando contratos de lançamento no valor de 400 milhões de dólares com empresas como a OneWeb, a NASA e a Força Aérea Norte-Americana. Diferente da SpaceX que usa o Falcon 9 para colocar cargas com 50 mil libras na órbita baixa da Terra, o foguete LauncherOnde da Virgin Orbit é limitada a cargas com massa de 660 libras ou menos. Isso é um pouco mais do que a Rocket Lab, usando o foguete Electron leva para o espaço, que é de 500 libras.
A Virgin Orbit é uma das três empresas do bilionário Richard Branson. Em 2017, a Virgin Orbit foi montada de forma separada da Virgin Galactic que é focada no turismo espacial. A empresa fez história quando em Dezembro de 2018 tornou-se a primeira empresa a voar um passageiro privado para o espaço a bordo de um avião construído por outra empresa do Branson, a Spaceship Company.
A jornada de Branson para o espaço é longa. Ele fundou a Virgin Galactic em 2004 e inicialmente esperava fazer voos comerciais em 2009, mas problemas técnicos e questões relacionadas com a construção da espaçonave alteraram todo o planejamento. Em 2014 seu avião-foguete explodium durante o voo matando um dos dois pilotos de teste que estava a bordo. Os testes só voltaram a acontecer em Abril de 2018 e no final de 2018 dois pilotos puderam ganhar as wings de astronautas quando atingiram 51.4 milhas de altura, ou seja, indo um pouco além do limite do espaço. Desde então 3 outros membros da tripulação da Virgin já foram para o espaço.
A perserverança de Branson parece valer a pena. No início dessa semana ele anunciou que a Virgin Galactic está se fundindo com a Social Capital Hedosophia. A motivação para essa fusão, é fazer dessa empresa a primeira empresa de voos espaciais tripulados de capital aberto. O valor combinados das empresas é estimado em 1.5 bilhão de dólares. As duas empresas juntas em conjunto com o crescente mercado de lançamento de pequenas cargas para o espaço farão com que brevemente Branson possa fazer circular o verdadeiro dinheiro cósmico.
Fonte:
https://www.wired.com/story/virgin-orbit-just-dropped-a-rocket-from-a-boeing-747/