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22 de novembro de 2024

O Morcego Cósmico

Escondido num dos cantos mais escuros da constelação de Orion, este Morcego Cósmico abre as suas asas difusas no espaço interestelar a cerca de 2000 anos-luz de distância da Terra, iluminado por estrelas jovens aninhadas no seu centro — apesar de estarem cobertas por opacas nuvens de poeira, os seus raios brilhantes conseguem ainda iluminar a nebulosa. Demasiado ténue para poder ser observada a olho nu, a NGC 1788 revela as suas cores suaves nesta imagem obtida pelo Very Large Telescope do ESO — a mais detalhada obtida até à data.

O Very Large Telescope do ESO (VLT) conseguiu capturar a nebulosa etérea que se esconde nos cantos mais escuros da constelação de Orion — a NGC 1788, também conhecida por Morcego Cósmico. Esta nebulosa de reflexão em forma de morcego não emite radiação — em vez disso é iluminada por um enxame de estrelas jovens que se situa no seu centro, fracamente visível através das nuvens de poeira. Os instrumentos científicos sofreram grandes avanços desde que a NGC 1788 foi descrita pela primeira vez, o que faz com que esta imagem obtida pelo VLT seja a mais detalhada de sempre.

Apesar desta nebulosa fantasmagórica parecer estar isolada doutros objetos cósmicos, os astrónomos acreditam que a sua forma foi moldada por poderosos ventos estelares emitidos por estrelas massivas que se encontram mais longe. Estas correntes de plasma abrasador são lançadas, a grandes velocidades, a partir da atmosfera superior de uma estrela, moldando as nuvens que isolam as jovens estrelas do Morcego Cósmico.

A NGC 1788 foi inicialmente descrita pelo astrónomo alemão/inglês William Herschel, que a incluiu num catálogo que serviu mais tarde de base para uma das maiores coleções de objetos do céu profundo, o New General Catalogue (NGC) [1]. Uma imagem desta nebulosa pequena e ténue tinha sido já capturada pelo telescópio MPG/ESO de 2,2 metros, instalado no Observatório de La Silla do ESO, no entanto esta nova imagem não tem qualquer comparação. Parado em voo, os detalhes minuciosos das asas poeirentas do Morcego Cósmico foram obtidas no vigésimo aniversário de um dos instrumentos mais versáteis do ESO, o FORS2 (FOcal Reducer and low dispersion Spectrograph 2).

O FORS2 é um instrumento que se encontra montado no Antu, um dos Telescópios Principais de 8,2 metros do VLT, situado no Observatório do Paranal, e a sua capacidade de observar enormes áreas do céu com extremo detalhe tornou-o num dos membros mais procurados de entre a frota de instrumentos científicos de vanguarda do ESO. Desde a sua primeira luz há 20 anos atrás, o FORS2 tornou-se no “canivete suíço dos instrumentos”. Esta designação vem da sua enorme variedade de funções [2]. A versatilidade do FORS2 estende-se para além do uso puramente científico — a sua capacidade de capturar belas imagens de elevada qualidade como esta é particularmente útil na divulgação científca.

Esta imagem foi obtida no âmbito do Programa Joias Cósmicas do ESO, uma iniciativa que visa obter imagens de objetos interessantes, intrigantes ou visualmente atrativos, utilizando os telescópios do ESO, para efeitos de educação e divulgação científica. O programa utiliza tempo de telescópio que não pode ser usado em observações científicas e — com a ajuda do FORS2 — produz belas imagens de alguns dos objetos mais notáveis do céu noturno, tais como esta intrincada nebulosa de reflexão. Todos os dados obtidos podem ter igualmente interesse científico e são por isso postos à disposição dos astrónomos através do Arquivo Científico do ESO.

Fonte:

[https://www.eso.org/public/brazil/news/eso1904/?lang]

Sérgio Sacani

Formado em geofísica pelo IAG da USP, mestre em engenharia do petróleo pela UNICAMP e doutor em geociências pela UNICAMP. Sérgio está à frente do Space Today, o maior canal de notícias sobre astronomia do Brasil.

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