A estrela KIC 8462852 voltou a ser comentada na mídia astronômica essa semana, e vamos entender porque. Mas antes uma pequena recordação.
Provavelmente, você já ouviu falar da estrela KIC 8462852, que recebeu o nome carinhoso de Estrela de Tabby, em homenagem a Tabetha Boyajian que liderou a equipe que descobriu o seu estranho comportamento. Essa foi a estrela que chamou muito a atenção da imprensa no final do último ano. Os astrônomos utilizaram observações feitas com o Kepler e mediram as variações no brilho da estrela. Algumas dessas variações eram significativas, com uma queda de brilho de cerca de 20%.
Isso é muito. Não poderia ser um planeta passando em frente a estrela, pois as quedas dos brilhos também não eram periódicas, e a quantidade de luz bloqueada era diferente a cada vez. Além disso, até um planeta do tamanho de Júpiter, bloqueia menos de 1% da luz da estrela.
No artigo original, Boyajian e sua equipe discutiu uma série de hipóteses e possíveis cenários que poderiam causar a queda de brilho, eliminando algumas delas e levantando outras. Entre as hipóteses, aquela que ganhou uma força foi a de uma família de cometas passando na frente da estrela, com alguns deles colidindo entre si e gerando uma nuvem espessa que poderia bloquear a luz da estrela.
Porém, tudo isso fez com que surgisse uma especulação e uma explicação sobre a queda de brilho da estrela, os alienígenas. A hipótese diz que uma civilização poderia ter construído uma esfera de Dyson ao redor da estrela para poder captar sua energia. A luz passaria por fendas nos painéis solares dessa megaestrutura.
O Instituto SETI fez observações em comprimentos de ondas específicos e também eliminou essa possibilidade. Pelo menos por enquanto….
Essa semana, a Estrela de Tabby voltou a chamar a atenção na imprensa, depois que o astrônomo Bradley Schaefer fez um trabalho espetacular. Schaefer é conhecido como um astrônomo que sempre pensa fora da caixa e dessa vez não foi diferente. Ele foi a Harvard, e resgatou chapas fotográficas entre 1890 e 1989, em que a estrela aparecia, e usando uma metodologia específica (descrita no artigo no final do post), ele mediu o brilho da estrela no decorrer do tempo.
Ele descobriu algo impressionante: A estrela tem sofrido uma diminuição de brilho nesse período de 100 anos, sendo que seu brilho caiu em cerca de 20%!
Isso é no mínimo bizarro, pois a Estrela de Tabby é uma estrela normal do Tipo-F, mais quente, levemente mais massiva e mais brilhante que o Sol. Essas estrelas basicamente transformam hidrogênio em hélio, e uma mudança nesse tipo de estrela deveria acontecer em milhões de anos e não em séculos. Schaefer examinou duas outras estrelas parecidas, durante o mesmo período de tempo, e observou que as estrelas mantinham o brilho constante.
A diminuição de brilho da estrela não é algo constante. Existem momentos em que a diminuição de brilho é maior, e então ela volta a ter um brilho normal, por anos, e depois o brilho cai novamente. Na média, a estrela está apagando cerca de 16% por século.
Aparentemente, a Estrela de Tabby apaga e volta a brilhar intensamente, em intervalos de tempo variáveis, horas, dias, semanas, décadas e até mesmo séculos.
O que estaria causando esse comportamento estranho da estrela? Schaefer concluiu que uma família de cometas não explicaria esse comportamento secular, pois seriam necessários 648 mil cometas com 200 km de diâmetro para provocar essa queda no brilho. Talvez, a família de cometas explique as quedas de brilho de curto intervalo de tempo.
E os alienígenas? Também é algo pouco provável, pois para bloquear a luz da estrela em 20% seriam necessários painéis solares que somariam uma área de 750 bilhões de quilômetros quadrados, o que é cerca de 1500 vezes a área do planeta Terra. Além disso, esses painéis teriam que estar bem alinhados entre a estrela e a Terra. Para isso ou estariam na forma de anel, com uma área de alguns trilhões de quilômetros quadrados, ou em forma de esfera, com uma área ainda maior, o que realmente é muito pouco provável.
O comportamento da estrela permanece um mistério e nos resta mantermos a mente aberta, esperarmos por novas observações que devem acontecer em 2017 quando o fenômeno de trânsito deve novamente acontecer, continuar analisando os dados e propondo modelos para tentar explicar o que acontece com a estrela KIC 8462852.
Fontes:
http://arxiv.org/abs/1601.03256
Links dos vídeos no canal:
https://www.youtube.com/watch?v=jRAsddkoXj0
https://www.youtube.com/watch?v=iUAPHIwMvSI
Link para o artigo de Schaefer no Slideshare:
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Obrigado pela audiência e boa diversão!!!