O Telescópio Espacial Hubble da NASA registrou o apagado e fantasmagórico brilho de estrelas ejetadas de antigas galáxias que foram gravitacionalmente arrancadas a alguns bilhões de anos atrás. Esse fenômeno ocorreu a 4 bilhões de anos-luz de distância da Terra, dentro de uma imensa coleção de cerca de 500 galáxias, conhecida como Aglomerado de Pandora, também denominado de Abell 2744. As estrelas dispersas não pertencem mais a galáxia nenhuma, e vagam livremente entre as galáxias do aglomerado.
Observando a luz dessas estrelas órfãos, os astrônomos do Hubble juntaram evidências que sugerem que pelo menos seis galáxias foram transformadas em pedaços dentro do aglomerado num período de 6 bilhões de anos. Modelagem computacional da dinâmica gravitacional entre as galáxias no aglomerado sugere que as galáxias do tamanho da Via Láctea estão entre as prováveis candidatas a serem a fonte das estrelas. As galáxias teriam sido distorcidas e despedaçadas como caramelo enquanto passavam pelo centro do aglomerado onde as forças gravitacionais de maré são mais fortes. Os astrônomos por muito tempo criaram hipóteses de que a luz de estrelas dispersas poderiam ser detectadas depois que as galáxias fossem destruídas. Contudo, o brilho das estrelas no interior do aglomerado é muito fraco e tem sido um verdadeiro desafio identifica-lo.
“Os dados do Hubble que revelam a luz fantasma são importantes passos em direção ao entendimento dos aglomerados de galáxias”, disse Ignacio Trujillo do Instituto de Astrofísica de Canarias (IAC), em La Laguna, Tenerife, Espanha, um dos pesquisadores envolvidos nesse estudo do Abell 2744. “É maravilhoso também que tenhamos encontrado esse brilho utilizando as capacidades únicas do Hubble”.
“Os resultados estão de acordo com o que se tem previsto que deve acontecer dentro dos massivos aglomerados de galáxias”, adicionou Mireia Montes do IAC, principal autora do artigo publicado na edição de 1 de Outubro de 2014 da revista especializada The Astrophysical Journal.
A equipe estima que a luz combinada de cerca de 200 bilhões de estrelas estejam contribuindo para aproximadamente 10 por cento do brilho total do aglomerado.
Pelo fato dessas estrelas extremamente apagadas serem mais brilhantes nos comprimentos de onda do infravermelho próximo, a equipe enfatiza que esse tipo de observação só poderia ser realizada pelo Hubble com sua sensibilidade super extrema a luz extraordinariamente fraca.
As medidas realizadas com o Hubble determinaram que as estrelas fantasmas são ricas em elementos pesados como o oxigênio, o carbono e o nitrogênio. Isso significa que as estrelas dispersadas devem ser estrelas de segunda ou terceira geração que foram enriquecidas com os elementos forjados no coração das primeiras estrelas do universo. As galáxias espirais – como aquelas que acredita-se tenham originado essas estrelas – podem sustentar a formação de estrelas que criou essas estrelas quimicamente enriquecidas.
Com a massa de 4 trilhões de sóis, o Abell 2744 é um alvo do chamado programa Frontier Fields. Esse programa ambicioso de três anos de esforço das equipes do Hubble e dos outros Grandes Observatórios da NASA tem como objetivo observar uma seleção de aglomerados de galáxias massivos para ajudar os astrônomos a pesquisarem o universo remoto. Os aglomerados de galáxias são tão massivos que sua gravidade consegue desviar a luz que passa por eles, ampliando, aumentando o brilho e distorcendo a luz, num fenômeno conhecido como lente gravitacional. Os astrônomos usam essa propriedade do espaço utilizando os aglomerados como verdadeiras lentes de aumento para ampliar as imagens de galáxias ainda mais distantes que seriam muito apagadas para serem observadas diretamente.
A equipe de Montes usou os dados do Hubble para pesquisar o ambiente de primeiro plano do aglomerado. Existem cinco outros aglomerados no programa Frontier Fields, e a equipe planeja buscar por essa luz fantasma nesses outros aglomerados também.
Fonte:
http://hubblesite.org/newscenter/archive/releases/2014/43/full/