Ao redor do mundo (e isso já aconteceu comigo) muitas crianças têm no teto do quarto um conjunto de adesivos que misturam estrelas, galáxias e cometas. Elas ficam ali olhando para esses objetos astronômicos até caírem no sono. Embora sejam adoráveis esses planetários caseiros são muito irrealistas. Dificilmente você conseguirá observar, estrelas, cometas e galáxias numa mesma imagem de um mesmo pedaço do céu, ou melhor, isso é impossível se você não tem o Hubble.
No dia 30 de Abril de 2013, o Telescópio Espacial Hubble observou o Cometa ISON. Comparado com as estrelas e galáxias que brilham ao além, o ISON é somente uma pedra jogada em direção a Terra. Na imagem acima podemos ver o cometa colado sobre o espaço profundo, com vizinhos coloridos.
Essa imagem do projeto Hubble Heritage combina dois filtros do Hubble. Um filtro na luz vermelha, que é representado aqui como vermelho, e outro filtro na cor amarelo esverdeada, que é representado em azul. Em geral, as coisas mais vermelhas são mais velhas, mais desenvolvidas do que as coisas azuis – isso é verdade para os spikes das estrelas e para as fumaças das galáxias distantes. Se você está se perguntando qual a cor o Sol teria nessa imagem, olhe não muito longe do próprio ISON. Diferente dos outros objetos no frame acima, o ISON não tem brilho próprio – ele apenas reflete a luz do Sol de volta para a Terra.
Em outras observações do ISON, o Hubble tinha registrado o cometa enquanto ele se movia através das estrelas. Isso é excelente para se obter uma imagem do ISON, mas não muito bom quando o objetivo é ver galáxias apagadas e estrelas que compreendem a vizinhança celestial do ISON. Assim, para essas imagens, foi determinado uma metodologia: enquanto o Hubble orbita a Terra, fazendo imagens do ISON, o telescópio foi mantido seguindo as estrelas ao invés de seguindo o cometa.
Como pode-se observar o cometa está mais nebuloso. Mas pôde-se ganhar em profundidade, ou seja, foi possível enriquecer o segundo plano da imagem de fótons provenientes das estrelas da Via Láctea e até mesmo de galáxias mais distantes que foram somados com o passar do tempo de exposição nos mesmos pixels. Essas feições mais apagadas não podem ser registradas se a câmera está se movendo, para observá-las, você realmente precisa mantê-la focada num ponto até que as feições começam a se ressaltar do ruído.
O resultado é parte ciência, parte arte. Isso é uma simulação do que os nossos olhos, com sua habilidade de dinamicamente se ajustar a objetos mais brilhantes e mais apagados, veriam se nós pudéssemos olhar para o céu com uma resolução igual ao do Hubble. O resultado é realmente fascinante e sem a necessidade de se colar adesivos na abóboda celeste.
Fonte:
http://hubblesite.org/hubble_discoveries/comet_ison/blogs/blog-exclusive-ison-in-space