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27 de novembro de 2024

Eclipse da Epsilon Aurigae é Explicado

A estrela Epsilon Aurigae tem desnorteado os astrônomos desde os anos 1800, mas novas imagens estão fornecendo uma nova visão deste sistema binário eclipsante diferente. Enquanto que estrelas binárias eclipsantes não são únicas em si mesmas, a maneira com que elas se apagam e então retomam seu brilho é inimitável e não é totalmente entendido mesmo depois de mais de 175 anos de estudo. Uma teoria da conta que um disco opaco pode ser visto próximo da borda do disco da estrela primária eclipsada. As novas imagens de um instrumento desenvolvido pela Universidade de Michigan parecem confirmar essa teoria. “Era como uma imaginação que nós poderíamos capturar isso”, disse John Monnier da UM. “Não existe outro sistema conhecido como esse. No topo disso estamos vendo uma fase rara do ciclo de vida de uma estrela. E isso está acontecendo bem próximo de nós. Isso é extremamente fortuito”.

A estrela Epsilon Aurigae tem um eclipse longo de dois anos que ocorre a cada 27 anos. O eclipse atual iniciou em Agosto de 2009 e os astrônomos profissionais e amadores tem a oportunidade de apontar a maior quantidade possível de telescópios para esse evento.

Monnier, liderou o desenvolvimento do instrumento chamado Michigan Ifra-Red Combiner (MIRC), que usa o princípio da interferometria para combinar a luz que entra em quatro telescópios  do conjunto CHARA na Universidade Estadual da Georgia e amplifica esse sinal que pode então ser visto como sendo 100 vezes maior do se obtido pelo Telescópio Espacial Hubble. O MIRC permite aos astrônomos observar o objeto eclipsante pela primeira vez.

O objeto que eclipsa a estrela primária é negro – quase invisível – e só pode ser visto à medida que ele passa em frente a estrela Epsilon Aurigae, a quinta estrela mais brilhante na constelação da Auriga no céu do norte. Devido ao fato dos astrônomos não observarem muita luz dela uma teoria era que o objeto era um buraco negro com massa estelar. Mas a teoria prevalecente classifica esse objeto como uma estrela menor orbitado na borda por um espesso disco de poeira. A teoria se apóia no fato de que a órbita do disco precisa estar precisamente no mesmo plano a medida que a órbita do objeto negro circunda a estrela mais brilhante, e tudo isso deve ocorrer no mesmo plano do ponto de vista da Terra. Esse tipo de alinhamento é tão improvável que só pode ser explicado  pelas observações.

As novas imagens mostram que esse é o caso de verdade. Uma nuvem geometricamente fina, escura, densa, mas parcialmente translúcida pode estar passando na frente da estrela Epsilon Aurigae.

“Isso mostra realmente que o paradigma básico estava correto, apesar da baixa probabilidade”, diz Monnier, e o disco aparece muito mais achatado do que os modelos recentes sugeridos pelas observações com o Telescópio Espacial Spitzer. “Ele é realmente achatado como uma panqueca”, diz o pesquisador.

Enquanto que o “filme” do disco passando em frente da estrela se assemelha aos anéis de Saturno, Monnier não acredita que o objeto seja como um sistema de anéis.

“Sistemas de anéis são normalmente (sempre) esparsamente populados e não são opticamente espessos, os sistemas de anéis não possuem também gás e são assentados em camadas extremamente finas. Ambos os fatos fazem com que seja altamente improvável que a poeira em Eps Aur seja um anel, pois isso seria capaz de absorver muita luz da estrela durante o eclipse”.

O fato de esse objeto ser tão negro tem uma explicação de acordo com o pesquisador. “Nessa época nós estamos observando o lado de trás que não pode fazer qualquer reflexão. Nós esperaríamos alguma luz dispersando em outras épocas da órbita, mas isso seria complicado de ser observado pois necessitaria de uma alta resolução angular e uma alta variação dinâmica”.

O equipamento MIRC também permitiu aos astrônomos ver a forma e características da superfície da estrela pela primeira vez. Anteriormente, eram meros pontos de luz mesmo se observadas pelos maiores telescópios.

“A interferometria faz do processo de imagear distantes objetos em alta resolução uma realidade”, diz Fabien Baron, aluno de pós-doutorado da UM e que ajudou no estudo. “Provavelmente nós resolveremos muitos mistérios, mas também nasceram muitas novas questões”.

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Fontes:

http://www.universetoday.com/2010/04/07/astronomers-image-mysterious-dark-object-that-eclipses-epsilon-aurigae/

http://arxiv.org/PS_cache/arxiv/pdf/1003/1003.3694v1.pdf

http://www.eurekalert.org/pub_releases/2010-04/uom-atc040510.php

Sérgio Sacani

Formado em geofísica pelo IAG da USP, mestre em engenharia do petróleo pela UNICAMP e doutor em geociências pela UNICAMP. Sérgio está à frente do Space Today, o maior canal de notícias sobre astronomia do Brasil.

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