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Mais Pistas De Que Os Exoplanetas Parecidos Com a Terra São de Fato Parecidos Com a Terra

Um novo estudo do Instituto de Tecnologia da Georgia forneceu novas pistas indicando que um exoplaneta localizado a cerca de 500 anos-luz de distância da Terra é muito parecido com o nosso planeta.

O Kepler-186f, é o primeiro planeta do tamanho da Terra identificado fora do nosso Sistema Solar orbitando uma estrela na sua zona habitável. Isso significa que ele está na distância perfeita da estrela para que exista água líquida na sua superfície.

O estudo feito pela Georgia Tech usou simulações para analisar e identificar a dinâmica do eixo de rotação do planeta. Essa dinâmica determina quanto o planeta tem de inclinação no seu eixo e como esse ângulo varia com o decorrer do tempo. A inclinação do eixo de rotação, nós sabemos, contribui para as estações do ano, e para o clima, pois afeta o quanto de luz provenientes da estrela atinge a superfície do planeta.

Os pesquisadores sugerem que a inclinação do eixo de rotação do Kepler-186f é muito estável, muito parecido com o que acontece com a Terra, fazendo com que ele tenha estações regulares e um clima estável. A equipe da Georgia Tech, acredita que o mesmo seja verdade para outro exoplaneta, o Kepler-62f, um planeta classificado como uma super-Terra, orbitando outra estrela a cerca de 1200 anos-luz de distância de nós.

O quão importante a inclinação do eixo de rotação é para o clima? Grandes variabilidades na inclinação do eixo de rotação pode ser um motivo fundamental para que Marte tenha se transformado de um planeta molhado a bilhões de anos atrás, para um deserto seco como é hoje.

“Marte está na zona habitável do nosso Sistema Solar, mas a inclinação do seu eixo de rotação é muito instável, variando de 0 a 60 graus”, disse Gongjie Li, Professor da Georgia Tech, que liderou o estudo, junto com o estudando Yutong Shan do Harvard-Smithsonian Center for Astrophysics. “Essa instabilidade provavelmente contribuiu para o decaimento da atmosfera marciana e para a evaporação da água que estava na sua superfície”.

Como fator de comparação, o eixo de rotação da Terra, oscila entre 22.1 e 24.5 graus, indo de um extremo ao outro a cada 10 mil anos. O ângulo de orientação da órbita de um planeta ao redor de sua estrela pode oscilar devido a interação gravitacional com outros planetas no mesmo sistema. Se a órbita oscilasse na mesma velocidade que a precessão do eixo de rotação do planeta, que é o movimento circular exibido pelo eixo de rotação visto de cima, o eixo de rotação do planeta iria variar de forma drástica.

Marte e a Terra interagem fortemente um com o outro, bem como com Mercúrio e Vênus. Como resultado, seus eixos de rotação sofrem uma precessão da mesma taxa da oscilação orbital, o que pode causar grandes variações na inclinação do eixo de rotação. Felizmente, a Lua mantém a variação do eixo da Terra num intervalo pequeno. A Lua aumenta a precessão do eixo de rotação do nosso planeta e faz com que essa variação seja diferente da taxa de oscilação orbital. Marte, por outro lado, não tem um satélite natural grande o suficiente para estabilizar o seu eixo de rotação. “Aparentemente os dois exoplanetas estudados são bem diferentes de Marte e da Terra, pois eles têm uma fraca conexão com seus vizinhos”, disse Li, um membro da faculdade na School of Physics. “Nós não sabemos se eles possuem satélites naturais, mas nossos cálculos mostram que mesmo sem satélites, o eixo de rotação dos exoplanetas Kepler-186f e o 62f, permaneceria constante por mais de dezenas de milhões de anos”.

O Kepler-186f é menos que 10% maior do que a Terra, mas a sua massa, composição e densidade permanece um mistério. Ele orbita a sua estrela a cada 130 dias. De acordo com a NASA, o brilho da sua estrela ao meio dia, no céu do exoplaneta, pareceria com o brilho do Sol na Terra ao amanhecer. O Kepler-186f está localizado na constelação de Cygnus e faz parte de um sistema com 5 planetas.

O Kepler-62f era o exoplaneta mais parecido com a Terra até os cientistas descobrirem o 186f em 2014. Ele é cerca de 40% maior que a Terra e muito provavelmente é um mundo terrestre coberto por oceano. Ele está localizada na constelação de Lyra e é o planeta mais externo entre os cinco planetas que orbitam a estrela.

Isso não quer dizer que esses exoplanetas possuam água e nem vida. Mas ambos são relativamente bons candidatos.

“Nosso estudo está entre os primeiros a investigar a estabilidade climática de exoplanetas e nos ajuda a melhorar nosso entendimento desses mundos relativamente próximos e potencialmente habitáveis”, disse Li.

“Eu não acho que nós entendemos o suficiente sobre a origem da vida para descartar a possibilidade da sua presença em planetas com estações irregulares”, adicionou Shan. “Mesmo na Terra, a vida é bem diversa e tem mostrado uma incrível resiliência em ambientes extremamente hostis. Mas um planeta com um clima estável poderia ser um local mais confortável para começar a busca”.

Fonte:

https://phys.org/news/2018-06-clues-earth-like-exoplanets.html

Sérgio Sacani

Formado em geofísica pelo IAG da USP, mestre em engenharia do petróleo pela UNICAMP e doutor em geociências pela UNICAMP. Sérgio está à frente do Space Today, o maior canal de notícias sobre astronomia do Brasil.

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